Polícia



Crime organizado

Divisão de tarefas, ordens do Paraguai e estrutura de empresa: MP denuncia cinco por envolvimento com facção 

Homens são acusados de associação criminosa e tráfico. PMs estariam envolvidos no esquema de grupo da zona leste de Porto Alegre

26/10/2018 - 05h00min


Adriana Irion
Adriana Irion
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Imóvel no Partenon deve ser sequestrado pela Justiça após pedido da polícia

Ao descrever em denúncia da Operação Chirrin a atuação de uma célula da facção Bala na Cara, o Ministério Público (MP) aponta que a estrutura tem funcionamento similar ao de uma holding, como se fosse um conglomerado de empresas com comando único. São várias frações autônomas, todas controladas por um sócio administrador, como se fosse um CEO. No caso da Chirrin, Luis Fernando da Silva Soares Junior, conhecido como Júnior Perneta ou Museo, é esse líder.

Para promotores, Júnior Perneta, 39 anos, coordena várias células, que não necessariamente estão ligadas entre si. Mas todas integram a facção conhecida como uma das mais violentas do Estado e atuam no tráfico de drogas. CEO significa diretor executivo, é a pessoa com maior autoridade na hierarquia operacional de uma organização, responsável por estratégias e pela visão da empresa.

A denúncia apresentada pelo MP à 2ª Vara Criminal de Porto Alegre é a primeira da Chirrin, deflagrada em junho e que apura a participação de policiais militares na organização criminosa com atuação, principalmente, no bairro Bom Jesus. A parte da investigação que verifica a conduta dos PMs ainda não foi concluída e tramita na Justiça Militar. De 113 celulares apreendidos na operação, 65 ainda não tiveram a análise concluída.

Nesta primeira denúncia, cinco são acusados de associação criminosa e tráfico de drogas. Além de Perneta, são responsabilizados Darci Coimbra, Ederson Farias Coimbra, Douglas Machado Pinheiro e Juliano Pedro Segundo. Todos estão presos.

A investigação mostra a divisão dos integrantes da célula por tarefas: chefe, gerentes, fornecedores, manufaturadores da droga, transportadores, vendedores e soldados. As ordens para o funcionamento, com controle sobre a compra e venda de drogas e armas, e sobre obras em imóveis destinados a depósito do material ilícito, eram dadas pelo líder a partir do Paraguai, onde Júnior Perneta estava escondido e foi preso em 2 de maio. Agora, está em uma prisão de Charqueadas. E de lá seguiria usando celular para tratar dos negócios.

Diálogos revelam detalhes


Durante buscas da Operação Chirrin, em junho, drogas, armas e dinheiro foram apreendidos com suspeitos de integrar o grupo. Também foi encontrado um caderno de contabilidade mostrando a divisão dos lucros do tráfico e gastos do dia a dia da organização, como gasolina, compra de munição e de armas e aquisição de placas para carros clonados. Diálogos gravados com autorização judicial revelaram detalhes da atuação de cada denunciado e reforçaram o papel de Júnior Perneta como líder.

Em uma conversa na qual os criminosos comentam sobre uma apreensão feita pela polícia, os interlocutores falam de como Júnior Perneta ajuda os subordinados:

— Diz que as coisa são do Museo, as drogas (apreendidas).

— Eram do Museo? Se eram do Museo, ele (o homem que foi preso) vai ter apoio. Qualquer um que trabaiar para ele vai ter apoio? A ele, a família, tudo, né!

A investigação identificou uma casa adquirida por Júnior Perneta, no bairro Partenon, e solicitou à Justiça o sequestro do imóvel por ter sido comprado com dinheiro ilícito. Além de ordens para a manutenção do tráfico, Perneta usava a rede de subordinados para atender questões familiares, como a entrega de dinheiro a uma filha e à companheira. Ao tratar da ida de um subordinado a endereços onde há obras em andamento, o criminoso se preocupa com eventual identificação de motoristas de aplicativo:

"Esea uber q te leva nos lugar nao pode ser un uber conhesido senao vai sabe tudo os endereso."

"Eu chamo no aplicativo. Sempre vem um diferente. Tô esperto amigo não podemos dá mole."

CONTRAPONTOS

O que diz Thiago Bandeira Machado, advogado de Luis Fernando da Silva Soares Junior:

"Não tivemos acesso à denúncia, por isso, não podemos comentar, por enquanto."

GaúchaZH não conseguiu contato com os advogados de Darci Coimbra, Ederson Farias Coimbra, Douglas Machado Pinheiro e Juliano Pedro Segundo.

Operação Chirrin


— Foi uma investigação conjunta do MP com a Corregedoria-geral da Brigada Militar.

— No dia em que a ação foi deflagrada, foram presos 10 policiais militares e sete pessoas que não fazem parte da corporação, suspeitas de integrarem a facção.

— Foram apreendidos R$ 180 mil em dinheiro, 437 porções de drogas, 10 armas e 113 celulares.



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