Polícia



Ataque a tiros

Um ano após atentado com duas mortes e cerca de 30 feridos, bairro de Gravataí volta a ter esperança

Ataque durante festa em madrugada em outubro do ano passado deixou lembranças de horror na memória dos moradores

23/10/2018 - 21h33min

Atualizada em: 23/10/2018 - 21h35min


Vitor Rosa
Vitor Rosa
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Tadeu Vilani / Agencia RBS
Tiros deixaram marcas, como mostra dona de padaria, ainda não apagadas

A madrugada de tempo ameno e com festa a céu aberto ao som de funk que unia moradores do bairro Morada do Vale II, em Gravataí, em 22 de outubro de 2017, ainda está fresca na memória de quem vive na região. 

A comemoração interrompida por ataque surpresa de atiradores com pistolas e escopetas deixou dois mortos e cerca de 30 baleados e escancarou o acirramento de disputa entre traficantes rivais que já não poupava quem não era, de fato, um rival. Naquela festa, qualquer um virou alvo para os criminosos.

Classificado pela Polícia Civil como atentado, o incidente foi parar no Facebook, que disparou check-in de segurança para moradores da cidade e para quem passava pela região. "Você está seguro em Gravataí?", perguntava a notificação da rede social, que compilava as respostas dos usuários em evento chamado "O incidente violento em Gravataí". O mecanismo é o mesmo adotado pela rede social em grandes atentados terroristas no Exterior, como em Manchester, Las Vegas e Londres.

Após um ano do tiroteio, contrasta na memória dos moradores a noite de horror com os tempos atuais, considerados de calmaria. Quem vive no Morada do Vale II diz que, desde a noite do atentado a situação no bairro está apaziguada. 

Ivana da Conceição Macedo, 31 anos, dona de uma padaria que fica na esquina da rua onde aconteceu o ataque, ainda tem marcado na parede de seu estabelecimento os buracos deixados pelos tiros dos criminosos. São pelo menos três, que ficaram na parte do prédio virada para a Rua Felipe Mate, onde ocorria a festa. Na frente, na Rua Eurico Lara, os criminosos teriam se organizado instantes antes de abrir fogo. 

— Foi uma tragédia, uma cena de guerra. Minha mãe mora aqui em cima (da padaria) e minha irmã na esquina. Ela estava dormindo quando começaram os gritos de socorro. Muitas casas daqui tiveram telhados quebrados, já que muita gente pulou muro e saiu correndo por cima das residências — relata a comerciante, com a voz tensa ao lembrar. 

Segundo Ivana, naquela madrugada, nas rodas de conversa já se falava que se a festa ocorresse haveria atentado. A comerciante conhecia as duas pessoas que morreram no crime. Uma delas, Taís Pires da Silveira, 24 anos, era sua cliente fiel. A jovem não participava da festa. Havia saído de casa para comprar um churrasquinho quando o ataque começou e acabou atingida. 

— Estava no lugar errado, na hora errada — lamentou Ivana.

Tadeu Vilani / Agencia RBS
Após atentado em Gravataí, estabelecimentos fecharam na região

Portas fechadas depois do crime 

A outra vítima, Gabriel Mallet de Ataíde, 21 anos, trabalhava como garçom em um bar que fica quase na esquina da casa onde ocorria a festa. Ele teria saído do estabelecimento para conversar com conhecidos que participavam da comemoração quando o crime ocorreu. O estabelecimento fechou as portas em definitivo após o atentado.

Um outro comerciante da região, que preferiu não se identificar alegando ser muito conhecido no bairro onde mora há bastante tempo, comemora a situação atual da Morada do Vale II. Segundo ele, a casa onde estava acontecendo a festa — e para onde o ataque foi direcionado — era um ponto de tráfico de drogas. Depois do crime, os antigos moradores sumiram e a casa foi alugada para outra pessoa. 

Para lembrar o primeiro ano do atentado, o comerciante e seus clientes chegaram a acender uma vela branca na segunda-feira (22), que foi posicionada em um degrau em frente ao bar, onde um tiro deixou um buraco na parede. 

— É para comemorar a calmaria no bairro — comentou o morador. 

Pelo menos outros dois estabelecimentos que ficavam próximos, além do bar onde Ataíde trabalhava, fecharam definitivamente.

O reflexo da violência chegou a ser sentido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Alberto Pasqualini, a cerca de 50 metros do local do ataque. Foi uma câmera da prefeitura instalada junto à instituição que flagrou os atiradores chegando para abrir fogo contra a festa. Uma das vítimas havia estudado no colégio e, por isso, os dias seguintes ao crime foram de luto e conversas com os estudantes. 

A diretora da escola, Maria Sirlei, 55 anos, relata que o atentado ficou no passado do bairro. No entanto, houve reforço na segurança dos alunos. Depois do ataque, um guarda municipal passou a trabalhar na escola diariamente. 

Para a professora, o episódio é mais um dos tantos de violência aos quais os alunos estão acostumados. As professoras dizem trabalhar com palestras e diálogo para evitar que os estudantes optem em entrar para o mundo da violência:

— Estamos sempre conversando com eles sobre o que tem acontecido. É para que saibam que não é porque vivem na Morada do Vale que são marginalizados. A gente sabe que aqui é um bairro forte na questão do tráfico, mas procuramos trazer coisas boas, esperança.


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