Polícia



Criminalidade 

"Atendimento é muito bom. O problema é a violência", conta usuária de posto de saúde da Capital

A reportagem de GaúchaZH foi em quatro unidades de Porto Alegre e conversou com pacientes e funcionários que vivem sob constante tensão

02/11/2018 - 06h01min


Renato Dornelles
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Tadeu Vilani / Agencia RBS
Toque de recolher é um dos motivos para fechamento dos postos de saúde

O assalto a uma unidade de saúde do bairro Vila Jardim,  na zona leste de Porto Alegre, em 24 de outubro, suspendeu o funcionamento do posto por três dias, prejudicando o atendimento de mil pessoas. O fato não é isolado. Pacientes e funcionários de outros pontos da Capital convivem com a tensão. 

Na semana anterior a do assalto à unidade da Vila Jardim, outros dois postos chegaram a ser fechados temporariamente, também por questões de violência, na Zona Norte: a Wenceslau Fontoura, na Rua José Luís Martins Costa, e a Timbaúva, na Rua Sebastião do Nascimento, ambas no bairro Mario Quintana. Os postos tiveram o funcionamento suspenso por precaução, duas horas antes do normal, depois que mensagens com ameaças de tiroteios circularam pelo WhatsApp.

– Aqui já fechou umas quantas vezes. Tem vez que foi por furto da fiação elétrica, de medicação e já arrombaram até para levar papel higiênico. E os toques de recolher são normais. Aí a gente tem de correr para pegar um filho na creche, outro no colégio. A gente que não tem nada a ver acaba tendo de se recolher em casa – descreve uma auxiliar de serviços gerais de 27 anos, usuária do posto Timbaúva, que pede para não ser identificada.

– Mas tem vez que os toques de recolher descambam para o tiroteio mesmo. Da última vez, tive de dormir no chão, com medo das balas – complementa uma amiga, dona de casa, de 22 anos, também paciente no posto de saúde.

Área conflagrada


No Pronto-Atendimento Bom Jesus, na Zona Leste, o clima é de constante tensão. Assim como a chamada Grande Cruzeiro – complexo de vilas situadas nos bairros Medianeira, Santa Tereza, Cristal e Nonoai –, parte do Bom Jesus é conflagrado pelo tráfico de drogas. A área é o berço de uma das facções criminosas mais violentas da Capital.    

— Dá medo de vir no posto às vezes. Mas não dá para deixar a saúde de lado. Então, a gente tem de vir até de noite, se for preciso – descreve a doméstica Celeste de Fátima Ferreira Soares, 62 anos.

Há duas semanas, após um ataque a tiros que deixou dois mortos e três feridos na região mais conflagrada do bairro, a segurança no Pronto-Atendimento Bom Jesus teve de ser reforçada por duas guarnições da Brigada Militar.


Clima é de tensão

Atendimento para feridos em tiroteios e o receio de que os rivais tentem invadir os postos para executá-los são alguns dos fatores que fazem com que funcionários dos postos vivam sob tensão. No Pronto-Atendimento Cruzeiro do Sul, conhecido como Postão da Cruzeiro, na Zona Sul, esse é um tipo de situação frequente.

– Já ouvimos tiroteios aqui, já vimos correria – conta João Marcos Pires Silveira, 60 anos, que levava com a irmã Ana Angélica Pires Silveira, 56, a mãe, Sueli Pires Silveira, 82, para uma consulta.

– O atendimento é muito bom, mas o problema é a violência que às vezes ocorre – conta Ana.

Cenário macabro 


Na Vila dos Sargentos, bairro Serraria, na Zona Sul, mais de 5 mil moradores foram afetados pelo fechamento, em definitivo, do posto de saúde que atendia a comunidade. A opção agora é se deslocar até as unidades Guarujá, a três quilômetros, ou Ipanema, a seis quilômetros. 

Desde o mês passado, uma unidade móvel da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) vem oferecendo serviços médicos na região. O fechamento do posto de saúde foi provocado pela violência. Entre as situações mais dramáticas enfrentadas por servidores e usuários da unidade, um corpo esquartejado foi deixado a cerca de 50 metros do prédio, no ano passado. 

A promessa da SMS de Porto Alegre é que um novo posto, em um local de acesso mais seguro, seja entregue no próximo ano.


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