Polícia



Região Metropolitana

Como funcionava o esquema que lavava dinheiro da exploração de jogos de azar

Operação da Polícia Civil desarticulou quadrilha com mais de 50 pessoas envolvidas 

14/11/2018 - 22h09min


Cid Martins
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Polícia Civil
Grupo montou empresas de fachada para depois adquirir bens no RS e em SC avaliados em mais de R$ 16 milhões

Depois de desarticular organização criminosa ligada a jogos de azar na Região Metropolitana de Porto Alegre e que lavava dinheiro com imóveis e veículos no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a Polícia Civil deu detalhes de como funcionava esse esquema ilícito. As revelações são fruto de três etapas da Operação Repasse, uma fase probatória com quebra de sigilos bancários e fiscais e outras duas, em abril e nesta quarta-feira (14), com prisões e apreensões de bens. 

O delegado Filipe Bringhenti, da Delegacia de Repressão ao Crime de Lavagem de Dinheiro, do Gabinete de Inteligência e Assuntos Estratégicos (GIE) da Polícia Civil, ressalta o primeiro passo do grupo que teve mais de 50 pessoas envolvidas, 31 imóveis e 18 veículos, avaliados em mais de R$ 16 milhões apreendidos. Segundo ele, a fase inicial é a exploração de bingos e máquinas caça-níqueis. Assim que o grupo consegue formar um caixa considerável, vai abrindo empresas de fachada de forma paralela. Sempre em nome de laranjas, tanto familiares quanto de terceiros. 

Máquinas de cartão de crédito 

Bringhenti diz que o segundo passo é o uso das máquinas para passar cartão de crédito dentro dos bingos. Esses cartões são vinculados às empresas de fachada, abertas para esquentar ou lavar dinheiro sujo. 

— Com essa compra direta na máquina, o dinheiro do bingo cai direto na conta bancária da empresa de fachada — diz Bringhenti. 

Com isso, o faturamento das empresas de fachada é elevado, dando suposta legitimidade para que elas adquiram bens de forma direta. 

Contas de passagem

Além desta forma de lavar dinheiro, a organização tinha 57 pessoas envolvidas que emprestavam suas contas bancárias, mediante um ganho financeiro, para depositar dinheiro da exploração de jogos de azar. Muitas vezes depósitos feitos via empresas de fachada. Bringhenti diz que um mesmo valor era depositado seguidamente em várias contas por meio de transferências, para se afastar o máximo possível da origem ilícita e dificultando o rastreamento. 

Aquisição e transferência de bens 

O último passo do esquema criminoso era a aquisição de lojas, cafés, mercados, apartamentos, inclusive de luxo, e veículos. Esta é a parte final da lavagem de dinheiro, e os proprietários são sempre laranjas. Mas este grupo também realizava uma espécie de confusão patrimonial. Os investigados faziam entre eles diversas compras de bens, tudo apenas no papel, bem como apenas a troca de titularidade dos imóveis, estabelecimentos comerciais e veículos, fazendo uma compensação de créditos e débitos.

Ronaldo Bernardi / Agência RBS
Bingo que funcionava na Avenida Cristóvão Colombo era o ponto de origem do dinheiro ilícito usado para adquirir bens

Ataque às finanças 

A Polícia Civil contou com o apoio do Ministério Público para desarticular financeiramente esta organização criminosa. Foram dois anos de investigação em três etapas operacionais. Desta vez, a Justiça acolheu a argumentação da polícia de que os proprietários dos imóveis lucravam de forma ilícita com a locação de imóveis destinados à prática de infrações penais. Devido a isso, também serão responsabilizados judicialmente. O diretor do GIE, delegado Cristiano Reschke, diz que foi levada em conta também em algumas situações a teoria da "cegueira deliberada". 

— O indivíduo que renuncia a adquirir um conhecimento hábil a subsidiar a imputação dolosa de um crime responde por ele como se tivesse tal conhecimento. Neste caso investigado, anteciparam aluguéis de dois anos, por valores mensais bem acima do preço de mercado, para utilizar imóvel sem explicar o objeto da exploração comercial — diz Reschke. 

Desta forma, o locador está favorecendo e colaborando para viabilizar a atividade ilícita. Por isso a estratégia da polícia é a de buscar a descapitalização e a asfixia financeira destas organizações em toda a sua amplitude. O promotor Marcelo Tubino, da Promotoria Especializada no Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro, diz que outro importante objetivo deste trabalho em parceria é o de evitar a concorrência desleal entre empresários, proporcionando às empresas regulares e que pagam normalmente seus tributos tenham um mercado atrativo de investimentos.


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