Polícia



Canoas

Avó é presa por obrigar neta a manter relações sexuais com idoso em troca de compras 

Segundo a Polícia Civil, mulher de 71 anos também fazia com que a adolescente, de 15 anos, mentisse em depoimentos

13/02/2019 - 21h37min


Ana Müller
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Uma adolescente, atualmente com 15 anos, era obrigada a manter relações sexuais com um homem, de 60, em Canoas, na Região Metropolitana. A ordem para que a menina se relacionasse com o idoso partia da avó dela, que foi presa pela Polícia Civil na tarde de terça-feira (12). A mulher promovia os encontros e, em troca, recebia compras de supermercado e pequenas quantias em dinheiro. Ele também prestava serviços à idosa, como reformas na casa.

O interesse do homem pela menina teria surgido há cerca de dois anos e seis meses, em um evento no qual a avó levou a adolescente, na época com 12 anos. A investigação apurou que, a partir daí, o idoso teria se aproximado da família e as relações sexuais teriam se iniciado, sempre em troca de favores. Conforme o delegado Pablo Queiroz, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Canoas, até a cama na qual ocorriam os abusos teria sido comprada pelo investigado e colocada no quarto da vítima.

A avó, de 71 anos, não teria apenas obrigado a adolescente a se relacionar com o idoso. Teria feito a menina mentir para a polícia sobre supostos abusos de outro homem. Ela ainda protagonizou a disputa pela guarda da adolescente com um dos seus filhos — tio da garota — há aproximadamente três anos. Não há informações sobre o pai da menina e a mãe seria moradora de rua.

— Na época, foi decidido que a adolescente ficaria com o tio. Mas, depois de dois meses, ele abriu mão da guarda da menina. Disse que não aguentava mais a pressão da avó e devolveu a garota — explica o delegado.

A menina passou a morar com a avó e, pouco tempo depois, foi entregue a uma família adotiva. A idosa tinha apenas direito a fazer passeios com a adolescente. A polícia acredita que, durante estas visitas, a neta era obrigada a se relacionar com o investigado. Pouco tempo depois, ela fez um boletim de ocorrência, alegando que o pai adotivo estaria abusando da menina.

— Possivelmente, a idosa estava se prevenindo caso fosse descoberto que a adolescente já tivesse tido relações sexuais. Ela poderia alegar que foi com o pai adotivo — comenta Queiroz.

Em depoimento na época, a adolescente confirmou a versão da avó: disse que o pai adotivo teria lhe abusado sexualmente. A partir dessa informação, a menina foi levada a um abrigo e foi aberto um inquérito para investigar o homem.

Nos primeiros meses em que esteve abrigada, a vítima fazia visitas à avó. A suspeita é que as relações sexuais tenham seguido neste período. O comportamento da idosa e do homem, que passaram a vigiar a adolescente, despertaram desconfiança dos funcionários do abrigo e os passeios da menina com a mulher foram proibidas.

— A avó passou a ir no colégio da garota. Entregava bilhetes para amigas da menina e dava orientações, dizendo como aconteceriam os encontros e falando que ela deveria colocar os recados no lixo após ler. Depois que a menina colocava fora, pegávamos essas mensagens. Temos essas provas — conta o delegado.

Ao ser ouvida novamente, a adolescente mudou o depoimento. Contou sobre as relações sexuais com o homem de 60 anos. Revelou ainda que havia mentido sobre os abusos do pai adotivo — o inquérito contra ele foi encerrado sem indiciamentos.

— A menina contou que havia todo um cuidado para que as pessoas não desconfiassem. A idosa sentava na frente quando saíam de carro. Os dois não andavam de mãos dadas — explica o delegado.

A Polícia Civil solicitou a prisão preventiva de ambos. Segundo Queiroz, os dois estariam tentando convencer a menina a ir com eles para Santa Catarina.

— Foram três fatores que nos levaram a pedir a prisão. Além da possibilidade de fuga, a senhora se movimentava, falava com testemunhas e até com a vítima. Tinha também a possibilidade de ocorrer novos casos.

Em depoimento, a avó alegou que foi dopada pelo homem e pela adolescente para que não percebesse que eles estavam mantendo relações sexuais. Ela responderá por participação em estupro de vulnerável, exploração sexual de menores, corrupção de menores, coação e denunciação caluniosa — esta última pela falsa denúncia contra o pai adotivo da menina.

Já o homem havia sido detido em dezembro, enquanto trabalhava em uma casa noturna do bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. Ele é casado e tem filhos — a mulher dele não sabia sobre as relações sexuais com a adolescente.

— Desde o primeiro momento, desconfiei, achei estranho. Esse foi um trabalho conjunto da DPCA, do Conselho Tutelar, da Guarda Municipal e do pessoal do abrigo — conta o delegado.


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