Correção: Edelvânia Wirganovicz foi condenada a 22 anos e dez meses de prisão, e não a 23 anos de prisão como publicado entre 19h12min e 21h23min de 15 de março. O texto já foi corrigido.
Após quase cinco anos da morte do menino Bernardo Boldrini, na época com 11 anos, os quatro réus denunciados pelo Ministério Público foram condenados nesta sexta-feira (15). O crime aconteceu em 2014, em Frederico Westphalen, no noroeste do Estado, após a criança receber uma superdosagem de midazolam. O corpo foi enterrado em um matagal. O julgamento começou na segunda-feira (11) no Fórum de Três Passos, na mesma região.
O pai do menino, Leandro Boldrini, foi condenado a 33 anos e oito meses de prisão em regime fechado.
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Já a madrasta de Bernardo, Graciele Ugulini, foi condenada a 34 anos e sete meses de reclusão, em regime fechado.
Edelvânia Wirganovicz foi sentenciada a 22 anos e dez meses, em regime fechado. Evandro Wirganovicz foi condenado a nove anos e seis meses de prisão. Como ele já cumpriu parte da pena, a juíza determinou que o restante da pena será em regime semiaberto.
A leitura da sentença pela juíza Sucilene Engler gerou gritos e aplausos no Fórum. Nenhum dos réus poderá recorrer em liberdade.
Para a juíza, tanto Boldrini como Graciele demonstraram sinais de frieza emocional, ao planejarem a morte do menino, com quem possuíam laço afetivo. A magistrada enfatizou na sentença que, antes de levarem Bernardo para a morte, o pai e a madrasta almoçaram normalmente com o garoto, que aparentava estar feliz.
Sucilene ainda apontou na decisão que a madrasta e o pai cometiam violência psicológica e humilhação contra Bernardo. Isso ficou comprovado a partir de vídeos extraído do celular de Boldrini, no qual o garoto aparece acuado.
A juíza ressaltou que Boldrini deveria proteger o filho, que estava aos seus cuidados. Para a juíza, ao obrigar o filho a pedir desculpas para a madrasta, mesmo após as ameaças de Graciele, o médico mostrou-se conivente. Sobre Boldrini, Sucilene destacou que o médico foi trabalhar normalmente no dia 7 de abril, três dias após a morte do filho, mesmo sabendo que ele havia sido assassinado. Chegou a realizar uma cirurgia.
No caso de Graciele, a juíza ressaltou que a madrasta viajou dois dias antes para Frederico Westphalen, onde comprou as ferramentas para ocultar o corpo de Bernardo, o remédio midazolam, usado para dopar e matar o menino e a soda cáustica, jogada sobre o cadáver. Para a juíza, isso indica que o crime foi premeditado.
As penas dos réus:
Leandro Boldrini

- 33 anos e oito meses de prisão em regime fechado
- 30 anos e oito meses são por homicídio qualificado (motivo fútil, com emprego de veneno e mediante dissimulação)
- Dois anos por ocultação de cadáver
- Um ano por falsidade ideológica.
Graciele Ugulini

- 34 anos e sete meses de prisão, em regime fechado
- 32 anos e oito meses por homicídio qualificado (motivo fútil, com emprego de veneno e mediante dissimulação)
- Um ano e 11 meses por ocultação de cadáver.
Edelvânia Wirganovicz

- 22 anos e dez meses de prisão, em regime fechado.
- 21 anos e quatro meses por homicídio qualificado (emprego de veneno e mediante dissimulação).
- Um ano e seis meses por ocultação de cadáver.
Evandro Wirganovicz

- Nove anos e seis meses de prisão.
- Oito anos por homicídio simples
- Um ano e seis meses por ocultação de cadáver.
- Restante da pena em regime semiaberto
Defesa contesta
No fim do julgamento, o advogado Vanderlei Pompeo de Mattos, que representa Graciele, disse que a dosimetria (cálculo) da pena foi acima do mínimo legal e que buscará recurso para reduzi-la. Gustavo Nagelstein, que defende Edelvânia, disse que pretende recorrer, porque a confissão da sua cliente não foi reconhecida na sentença.
A defesa de Evandro, Luiz Geraldo Gomes dos Santos, falou à reportagem que fará pedido
para que ele vá para regime aberto. Os advogados que representam Boldrini não quiseram falar e alegaram apenas que vão estudar se recorrem.
Acusação satisfeita
Já os três promotores responsáveis pela acusação exaltaram o resultado, destacando os trabalhos realizados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público.
– (Os elementos trazidos) mostram os fatos como ocorreram – avaliou Ederson Vieira.
Seu colega Bruno Bonamente foi além:
– Resultado excelente. A dossimetria será avaliada em momento oportuno. Caso que exigiu esforço jurídico e carga emocional muito grande – disse.
Silvia Jappe, por sua vez, lembrou do caso desde a denúncia, passando pela fase processual, até o júri, nesta semana,
– Não foram cinco dias de árduo trabalho, mas cinco anos de árduo trabalho. Não há como dizer que não afetei com isso (com a morte de Bernardo).
O julgamento
Para chegar ao veredito, sete jurados ouviram as declarações dos quatro réus, argumentos da defesa e acusação e declarações das testemunhas apresentadas pelos dois lados. Foram mais de 60 horas de julgamento. O conselho de sentença, como é chamado o grupo, foi composto por cinco homens e duas mulheres. Para eliminar possível contaminação do voto, os jurados ficam em um hotel isolado, sem contato com televisão ou qualquer outro meio de comunicação.
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Além dos quatro réus, 11 testemunhas foram ouvidas desde o início do julgamento. Entre elas, estão duas delegadas responsáveis por apurar a morte do menino. Ouvidas no primeiro dia, as policiais deram detalhes da apuração. A delegada Caroline Bamberg Machado foi a primeira a depor e falou por quatro horas.
— Bernardo sofria descaso em grau máximo — atestou a delegada.
Caroline contou das primeiras suspeitas, de que a polícia trabalhava com três hipóteses: sequestro, que Bernardo tivesse fugido por vontade própria ou homicídio. Revelou que, a partir de depoimentos, especialmente de funcionários da escola de Bernardo, percebeu que ele poderia ter sido vítima da própria família.