Polícia



Estelionato

Como agiam mulheres presas por suspeita de aplicar golpe do bilhete que lucraram R$ 405 mil em Porto Alegre

Grupo foi alvo de operação da Polícia Civil na manhã desta terça-feira

07/05/2019 - 23h12min


Ana Müller
Enviar E-mail
Renato Dornelles
Enviar E-mail
Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Documentos e comprovantes dos golpes foram apreendidos nas casas das presas

Era na Avenida Salgado Filho, no centro histórico de Porto Alegre, que um grupo de cinco mulheres fazia suas vítimas. Foram pelo menos cinco alvos de estelionato desde o dia 19 de fevereiro, quando houve o primeiro caso de golpe do bilhete que a polícia conseguiu confirmar a participação das detidas. O perfil dos alvos era sempre o mesmo: idosas, com idade média de 70 anos, e aparentando ter boas condições financeiras. O modo de agir das suspeitas de golpe também não mudava. A atuação estava bem ensaiada pela quadrilha, desarticulada em operação da Polícia Civil na manhã desta terça-feira (7).

A trapaça começava com uma das estelionatárias abordando uma vítima em potencial para pedir informações sobre a localização de uma tinturaria. Era assim que a conversava se iniciava, segundo o delegado Juliano Fereira. A mulher dizia ser do Interior e estaria procurando o dono da empresa que lhe ajudaria a trocar um bilhete premiado.

Três integrantes do grupo se revezavam nesse papel: Gabriela Correa Carpes, 19 anos, Larissa Oliva Moraes, 22, e Maria Vitória Reimundo Varante, também de 22. Todas foram presas preventivamente nesta manhã e confessaram participação nos golpes. Elas foram detidas em suas moradias, no bairro Restinga, na Zona Sul.

Segundo o delegado, enquanto a vítima e a estelionatária conversavam, aparecia uma segunda golpista. Esta função, conforme Ferreira, seria exercida pela líder do grupo, Janaína Cruz Oliva, 39 anos, também presa preventivamente na operação. A mulher se aproximava, supostamente querendo ajudar. Simulava uma ligação para a Caixa Econômica Federal na qual confirmava os números sorteados. O prêmio seria de R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões.

— A segunda estelionatária que tinha a função de induzir a vítima a cair no golpe — explica o delegado Ferreira.

Ao confirmar que o suposto bilhete estaria mesmo premiado, a primeira estelionatária fingia não ter interesse no prêmio. Dizia ser religiosa e que não se envolveria com jogos de azar. Mas deixava claro que precisava de R$ 200 mil. Em um dos casos, o valor seria usado pra comprar uma casa pra sua mãe e, no outro, para a filha.

Em um dos golpes, a estelionatária chegou a falar que queria fazer uma doação para um asilo. Era neste momento que a líder do grupo induzia a vítima a cair no golpe: sugeria que elas comprassem o prêmio. Ou seja, dariam o valor que a suposta ganhadora queria e, em troca, ficariam com a premiação.

O delegado conta que o trio seguia até uma agência bancária. Ali, a idosa transferia o valor para as estelionatárias e entregava a elas o comprovante. A Polícia Civil apurou que a conta dada pelas suspeitas para a qual o dinheiro deveria ser transferido pertencia a Aline Gomes Maciel, 25 anos. Ela também foi alvo de mandado de prisão preventiva nesta terça-feira, mas não foi encontrada e é considerada foragida.

Conforme o delegado, as detidas por estelionato sempre tomavam o cuidado de não entrar na agência bancária para não serem flagradas pelas câmeras de segurança. Nos cinco casos investigados, conseguiram o total de R$ 405 mil — R$ 130 mil, R$ 95 mil, R$ 85 mil, R$ 80 mil e R$ 15 mil em cada um dos golpes.

Por fim, segundo o delegado, as estelionatárias diziam à vítima que para trocar o valor do prêmio era necessário ter um comprovante de residência. Para isso, acompanhavam a idosa até o local onde ela mora para que pegasse o documento. Neste momento, as mulheres escapavam.

— No primeiro caso que investigamos, a vítima nos procurou constrangida, envergonhada por ter caído no golpe. Ela perdeu R$ 130 mil. A partir disso, fomos para as redes sociais e buscamos fotos de possíveis envolvidas no golpe. Mostramos para a vítima, que nos ajudou a fazer a identificação — explica.

Pelo menos outros quatro casos semelhantes foram registrados, na mesma área, nas quais as vítimas descreviam as estelionatárias com as mesmas características. A Polícia Civil conseguiu identificar que tratava-se do mesmo grupo. Segundo o delegado, a suspeita é de que as mulheres tenham começado a aplicar os golpes há cerca de um ano e seis meses.


Operação

A operação Conto do Bilhete teve participação de 45 policiais que cumpriram quatro mandados de prisão preventiva — uma quinta procurada não foi localizada e é considerada foragida.

Em depoimento, Janaína negou envolvimento nos golpes. As demais, confessaram. Disseram ainda que aprenderam a modalidade com outra mulher, que também será investigada. Nenhuma delas tinha antecedentes.

Segundo o delegado, as mulheres devem ser indiciadas por estelionato e formação de quadrilha. A investigação continua, de acordo com ele. A Polícia Civil pediu quebra de sigilo bancário para tentar restituir os valores às vítimas.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias