Zona Sul
"Agora só saio de dupla", conta moradora de rua onde foram cometidos ataques com ácido em Porto Alegre
Nos cinco casos registrados entre quarta e sexta-feira as vítimas — quatro mulheres e um adolescente — estavam sozinhas
Atentos ao movimento e temendo serem as próximas vítimas, moradores das ruas Francisca Prezi Bolognese, no bairro Hípica, e Santa Flora, no Nonoai, ambos na zona sul de Porto Alegre, retomaram suas rotinas nesta segunda-feira (24). O final de semana foi de aflição, após serem registrados cinco ataques com substância ácida, na quarta (19) e na sexta-feira (21).
Por volta de 9h30min, uma viatura da Brigada Militar circulava pela Rua Francisca Prezi Bolognese.
— As pessoas estão um pouco assustadas com essa história do ácido — resumiu o soldado que estava ao volante.
A percepção do PM foi confirmada por duas vizinhas. Uma delas, de 53 anos, que trabalha com vendas, insistiu para que a outra, de 37 anos, que atua no setor administrativo, a acompanhasse até o supermercado. Ambas pediram para não ser identificadas.
— Li que ele (o autor dos ataques) atira ácido nas pessoas sozinhas. Então, agora só saio de dupla — explicou.
A dona de casa Lisângela Fraga, 39 anos, mesmo temerosa, manteve as tarefas externas, sem mudança de hábito:
— A gente sempre fica preocupada, mas não pode ter tanto medo. Senão, a gente não faz mais nada.
Pensando da mesma maneira, a babá Maria Cleci Rodrigues, 66 anos, descansava em um banco da Praça Francisca Bolognese. A tranquilidade, no entanto, era apenas aparente.
— Vi pela televisão que tem um homem atacando as pessoas. Se ele vier atrás de mim, vou correr — disse.
Como os ataques foram praticados contra vítimas de diversos perfis (um adolescente de 17 anos e quatro mulheres de diferentes idades), a ação preocupa a todos, independentemente de gênero ou faixa etária.
— Está tudo tranquilo, mas a gente fica meio receoso com esse cara — conta o mecânico Rafael Lopes, 23 anos, que arrisca um palpite sobre a substância que vem sendo utilizado nos ataques:
— Não deve ser ácido de bateria, pois esse líquido corrói na hora.
Quem anda mais atento é o vigilante Paulo Machado, 52 anos, que realiza rondas de motocicleta pela região para uma empresa que presta serviço de segurança particular para moradores.
— Tenho passado aqui de 15 em 15 minutos. As pessoas estão mais receosas — diz.
Amiga de vítima
Na Rua Santa Flora, onde houve três dos cincos casos, a situação não é diferente. Moradores saem às ruas vigilantes, principalmente no trecho em que foram cometidos os ataques, na parte da via que fica no bairro Nonoai.
— Todo mundo está se cuidando — afirma uma dona de casa de 59 anos.
A aposentada Paulina Rosa, 70 anos, soube da ação do homem pelo noticiário. Para sua surpresa, uma das vítimas, Bruna Machado Maia, é sua amiga.
— Eu soube por redes sociais que eu a conhecia.
Neblina atrapalhou
Na tentativa de identificar o homem, o delegado Luciano Coelho, titular da 13ª DP, passou a manhã analisando imagens captadas por câmeras de segurança. Mas, segundo ele, o material recebido da EPTC não foi elucidativo.
— Os ataques na sexta-feira (21) foram às 6h, 6h50min e 7h30min, e tinha uma forte neblina em Porto Alegre. O carro sempre aparece de lado e não dá para identificar o motorista, por enquanto. Dá para ver que ele abre um pouquinho o vidro e atira o líquido — afirma o policial.