Polícia



Zona Sul

"Agora só saio de dupla", conta moradora de rua onde foram cometidos ataques com ácido em Porto Alegre 

Nos cinco casos registrados entre quarta e sexta-feira as vítimas — quatro mulheres e um adolescente — estavam sozinhas 

24/06/2019 - 21h50min

Atualizada em: 25/06/2019 - 07h48min


Renato Dornelles
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Lauro Alves / Agencia RBS
Vendedora que mora na rua dos ataques insistiu para que amiga fosse com ela ao mercado

Atentos ao movimento e temendo serem as próximas vítimas, moradores das ruas Francisca Prezi Bolognese, no bairro Hípica, e Santa Flora, no Nonoai, ambos na zona sul de Porto Alegre, retomaram suas rotinas nesta segunda-feira (24). O final de semana foi de aflição, após serem registrados cinco ataques com substância ácida, na quarta (19) e na sexta-feira (21).

Por volta de 9h30min, uma viatura da Brigada Militar circulava pela Rua Francisca Prezi Bolognese.

— As pessoas estão um pouco assustadas com essa história do ácido — resumiu o soldado que estava ao volante.

A percepção do PM foi confirmada por duas vizinhas. Uma delas, de 53 anos, que trabalha com vendas, insistiu para que a outra, de 37 anos, que atua no setor administrativo, a acompanhasse até o supermercado. Ambas pediram para não ser identificadas.

— Li que ele (o autor dos ataques) atira ácido nas pessoas sozinhas. Então, agora só saio de dupla — explicou.

A dona de casa Lisângela Fraga, 39 anos, mesmo temerosa, manteve as tarefas externas, sem mudança de hábito:

— A gente sempre fica preocupada, mas não pode ter tanto medo. Senão, a gente não faz mais nada.

Pensando da mesma maneira, a babá Maria Cleci Rodrigues, 66 anos, descansava em um banco da Praça Francisca Bolognese. A tranquilidade, no entanto, era apenas aparente. 

Lauro Alves / Agencia RBS
Maria Cleci Rodrigues: "Se vier, vou correr"

— Vi pela televisão que tem um homem atacando as pessoas. Se ele vier atrás de mim, vou correr — disse.

Como os ataques foram praticados contra vítimas de diversos perfis (um adolescente de 17 anos e quatro mulheres de diferentes idades), a ação preocupa a todos, independentemente de gênero ou faixa etária.

— Está tudo tranquilo, mas a gente fica meio receoso com esse cara — conta o mecânico Rafael Lopes, 23 anos, que arrisca um palpite sobre a substância que vem sendo utilizado nos ataques:

— Não deve ser ácido de bateria, pois esse líquido corrói na hora.

Quem anda mais atento é o vigilante Paulo Machado, 52 anos, que realiza rondas de motocicleta pela região para uma empresa que presta serviço de segurança particular para moradores.

— Tenho passado aqui de 15 em 15 minutos. As pessoas estão mais receosas — diz. 

Tadeu Vilani / Agencia RBS
Bruna sofreu queimaduras no rosto

Amiga de vítima

Na Rua Santa Flora, onde houve três dos cincos casos, a situação não é diferente. Moradores saem às ruas vigilantes, principalmente no trecho em que foram cometidos os ataques, na parte da via que fica no bairro Nonoai.

— Todo mundo está se cuidando — afirma uma dona de casa de 59 anos.

A aposentada Paulina Rosa, 70 anos, soube da ação do homem pelo noticiário. Para sua surpresa, uma das vítimas, Bruna Machado Maia, é sua amiga. 

— Eu soube por redes sociais que eu a conhecia. 


Neblina atrapalhou

Na tentativa de identificar o homem, o delegado Luciano Coelho, titular da 13ª DP, passou a manhã analisando imagens captadas por câmeras de segurança. Mas, segundo ele, o material recebido da EPTC não foi elucidativo.

— Os ataques na sexta-feira (21) foram às 6h, 6h50min e 7h30min, e tinha uma forte neblina em Porto Alegre. O carro sempre aparece de lado e não dá para identificar o motorista, por enquanto. Dá para ver que ele abre um pouquinho o vidro e atira o líquido — afirma o policial.



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