Polícia



Crime sexual

"No juízo dele, a mulher merecia", diz delegada sobre depoimento de homem preso por estupro

Preso não demonstrou arrependimento pelo estupro, "somente pela divulgação" das imagens, disse Tatiana Bastos, responsável pela investigação

02/06/2019 - 21h00min


Marcelo Kervalt
Marcelo Kervalt
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Marcelo Kervalt / Agência RBS
Após se apresentar no Palácio da Polícia, homem foi levado ao sistema prisional sob forte esquema de segurança

Ao prestar depoimento na manhã deste domingo (2), o homem que confessou ter gravado vídeos estuprando uma mulher desacordada em Porto Alegre não demonstrou arrependimento, afirma a delegada Tatiana Bastos, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam). José Carlos Silva da Silva, 47 anos, disse desconhecer que é crime o ato cometido há uma semana, na Avenida Baltazar de Oliveira Garcia. 

— No juízo dele, a mulher, por estar naquela condição, merecia. Não demonstrou arrependimento pelo estupro, somente pela divulgação — conta a delegada.

O morador da zona norte da Capital irá responder por estupro de vulnerável, divulgação de estupro de vulnerável e furto qualificado pelo concurso de pessoas. O entendimento da polícia é de que ele se aproveitou por ela estar "absolutamente desacordada, inconsciente e incapaz de oferecer resistência".

— Nos áudios (divulgados por José Carlos no WhatsApp), ele diz que, se não tivesse em uma avenida, teria feito algo ainda maior, possivelmente uma conjunção carnal (penetração). Em determinado trecho, aparece ejaculando em cima da vítima. Mas isso ele nega — complementa, dizendo que foram coletados materiais genéticos dele e no veículo que poderão ajudar a comprovar o ato.

O suspeito se entregou à polícia às 10h deste domingo (2), acompanhado do advogado. A apresentação foi negociada para ocorrer nesta data por ser um dia menos movimentado na cidade e no Palácio da Polícia. Conforme a delegada, há indícios de que ele corria risco de linchamento, motivo pelo qual fugiu de casa no dia seguinte ao crime. A polícia apura, inclusive, se traficantes teriam oferecido recompensas por sua captura. Responsáveis pelo bar onde ele trabalhava também estariam sendo ameaçados. 

José Carlos tem passagens pela polícia por tráfico de drogas, lesão corporal de trânsito, furto qualificado e vias de fato. Ele foi encaminhado para o sistema prisional. A polícia tem 10 dias para concluir o inquérito. 

O advogado Renato Almeida confirmou que seu cliente reconheceu a autoria dos crimes.

 — Ele prestou todas as informações, esclareceu os fatos, e agora vamos ver na Justiça — disse o advogado.

COMO ACONTECEU, CONFORME A INVESTIGAÇÃO

  • A investigação aponta que as duas vítimas — um homem e uma mulher — passaram em um posto de combustível às 4h14min de segunda-feira (27) para comprar cerveja. Ambos já estariam alcoolizados. O deslocamento até o ponto onde aconteceram os crimes, em direção a Alvorada, dura oito minutos.
  • O preso explicou que havia saído de uma festa com um conhecido na carona quando percebeu o carro das vítimas desacelerar e atravessar-se na avenida. Ao se aproximar, disse ter visto a mulher já nua.
  • Após o estupro, o próprio autor do crime ligou para a Brigada Militar e esperou a guarnição chegar, às 4h49min. José Carlos deu seu nome aos brigadianos e disse que deparou com as vítimas ao acaso e que conheceu o homem que levava na carona em uma festa. No depoimento deste domingo, Silva deu à polícia informações vagas sobre esse rapaz, como apelido, por exemplo.
  • A mulher estuprada registrou boletim de ocorrência na terça-feira (28), quando ficou sabendo, pelos vídeos, que havia sido abusada sexualmente. Os exames devem apontar quais substâncias psicoativas ela e o homem que dirigia o veículo ingeriram.

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