Transporte público
Passageiros relatam que paradas de ônibus viraram pontos de assalto em Porto Alegre
Órgãos de segurança garantem que medidas estão sendo adotadas
No dia 6 deste mês, uma mulher foi baleada enquanto aguardava o ônibus na Avenida Nonoai, próximo da esquina com a Rua Doutor Campos Velho, na zona sul de Porto Alegre. O crime ocorreu por volta das 21h30min. Os assaltantes, que estavam em um Corsa prata, tentaram roubá-la. Na ação, atiraram nela. A vítima foi socorrida e levada a um hospital. Por pouco, não aumentou as estatísticas dos casos de latrocínio (roubo com morte).
Enquanto a redução no número de assaltos praticados no transporte coletivo, de um modo geral, é comemorada pelos órgãos da segurança pública na Capital e em municípios da Região Metropolitana, o medo se mantém entre os passageiros. O receio começa antes de entrar no ônibus: a apreensão é de ser vítima de ladrões nas paradas.
As estatísticas dos órgãos oficiais não detalham os roubos pelo local específico. Ou seja, embora indiquem o endereço onde ocorreu o crime, não especificam se foi em um ponto de espera. Além disso, há muitos casos que não chegam a ser notificados, porque a vítima não aciona a Brigada Militar e não registra ocorrência na Polícia Civil. Mas a sensação de insegurança é compartilhada.
Durante a semana, em quatro regiões da Capital — zonas Norte, Leste, Sul e Central — e em diferentes horários, a reportagem de GaúchaZH conversou com usuários do transporte coletivo em paradas de ônibus. De modo geral, as pessoas sentem medo por já terem sido vítimas de assalto, por terem presenciado um ou por conhecer pessoas que passaram por essa situação. Principalmente à noite e nas primeiras horas da manhã.
Um ponto crítico, na visão de passageiros e de rodoviários, é o final da linha Menino Deus, no encontro das ruas Dona Sofia e Hipólito da Costa, no bairro Santa Tereza, zona sul de Porto Alegre. Nas imediações, usuários pedem para que motoristas os deixem desembarcar fora do ponto, em frente ao portão de suas casas ou condomínios. Os próprios profissionais relatam casos em que foram vítimas.
— Teve um domingo à noite em que tivemos que nos fechar na casinha de apoio (usada para os momentos de descanso), porque tinha um cara com um revólver prateado tentando nos assaltar — relata o motorista Phelipe Junges Fontoura, 34 anos.
Quase ao lado da parada de ônibus, um estabelecimento que funcionava como minimercado e lancheria atendendo à comunidade e servindo como "pit stop" para motoristas e cobradores, entre 6h30min e 22h, teve as portas fechadas em definitivo.
— Não aguentou. Começaram a roubá-lo quase que diariamente. Teve dia em que foi assaltado duas vezes — conta um morador das proximidades.
Outra moradora, de 63 anos, diz que sofreu uma queda logo após desembarcar de um ônibus.
— Desço do ônibus e vou correndo até o portão do condomínio. Tenho medo de ser assaltada. Teve um dia em que caí e me machuquei bastante — lembra.
De acordo com o capitão Roberto Nascimento, do 1º Batalhão de Polícia Militar (1º BPM), a Brigada Militar tem realizado rondas regulares e ações pontuais na região, visando a segurança nas paradas e no interior dos coletivos.
— Na semana passada, foi preso em flagrante um assaltante que agia exatamente ali e tinha diversos antecedentes por roubos a pedestres e ao transporte coletivo — diz o oficial.
"Até os tênis te levam"
No Extremo Sul da cidade, no bairro Restinga, de acordo com usuários de ônibus, os riscos foram reduzidos durante o dia, nas vias mais movimentadas. Mas, à noite, há regiões ainda perigosas.
— Tem parada lá para dentro (interior da vila Restinga Velha) em que se corre o risco de ficar só de meia, pois até os tênis te levam — diz um homem que, por medo, utiliza um ponto da Estrada do Barro Vermelho, que considera mais segura.
No outra lado da cidade, no bairro Mario Quintana, na Zona Norte, relatos feitos por pessoas que já foram vítimas de ladrões deixa outros usuários receosos.
— Já ouvi bastante casos, mas, felizmente, nunca presenciei — diz uma monitora de festas de 26 anos, que esperava por ônibus na estrada Martim Félix Berta, que liga o Mario Quintana ao bairro Rubem Berta.
Além da BM, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos (SMDH), à qual está subordinada a Guarda Municipal, afirma que tem adotado medidas para contribuir com os ataques em paradas de ônibus.
"Em um esforço concentrado da força-tarefa que visa combater à violência nas paradas de ônibus e transporte público de Porto Alegre, a Guarda Municipal realiza o patrulhamento nos terminais e paradas de ônibus com ênfase nos terminais Parobé, Triângulo, viaduto José Carlos Utzig e Belém Velho", diz uma nota do órgão.