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Latrocínio

"Perdeu a vida trabalhando", diz familiar de senegalês motorista de aplicativo morto durante assalto em Porto Alegre

Vítima teve veículo roubado na zona sul da Capital e, agora, amigos tentam juntar dinheiro para levá-lo ao país de origem

04/06/2019 - 21h16min


Vitor Rosa
Vitor Rosa
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Arquivo pessoal / Arquivo Pessoal
Babacar estava desde 2013 no Brasil

O assassinato de Babacar Niang, 35 anos, senegalês que trabalhava como motorista de aplicativo em Porto Alegre, mobiliza a comunidade do país na cidade para tentar reunir R$ 17 mil necessários para o translado do corpo. Babacar foi encontrado morto na tarde do último domingo (2), no bairro Belém Velho, na zona sul da Capital.

Na manhã desta terça (4), familiares e cerca de 20 amigos do senegalês que moram em Porto Alegre encontraram-se em frente ao Palácio da Polícia, no bairro Azenha, para buscar informações sobre a investigação. O grupo também estava acompanhado de um agente funerário para fazer os trâmites burocráticos para a liberação do corpo.

O irmão de Babacar, Ibra Niang, 30 anos, pretende viajar para o enterro, que deve ocorrer na terra natal da família, na cidade de Watef – distante 150 quilômetros da capital do Senegal, Dacar. Segundo o familiar, está sendo difícil reunir toda a quantia necessária, já que a maioria dos senegaleses que mora em Porto Alegre vive com baixa renda. Ainda assim, considera melhor do que tentar assistência governamental, por haver muitos trâmites.

— Nossos amigos, pessoas que trabalharam com ele, motoristas (do aplicativo com o qual Babacar trabalhava) e a nossa família no Brasil estão nos ajudando a pagar, mas é muito dinheiro. Estamos muito abalados com tudo isso. Meu irmão perdeu a vida trabalhando. É muito triste — lamentou.

Senegalês estava desde 2013 no Brasil

Babacar veio para o Brasil em 2013 tentar uma vida melhor longe da pobreza que assola o país africano. Desde então, trabalhou com várias atividades até surgir a oportunidade com os aplicativos de transporte.

Ele desempenhava a função havia cerca de seis meses, segundo o irmão, dirigindo um Logan alugado. Foi justamente nesse carro que ele foi assaltado, segundo a polícia.

O corpo de Babacar foi encontrado por volta das 14h40min de domingo, na Estrada Antônio Borges, uma via de chão batido entre o Belém Velho e a Lomba do Pinheiro. Havia dinheiro de outras corridas e um celular em um bolso, não levados pelos criminosos.

O carro dele foi encontrado horas depois, no bairro Cascata. A suspeita da Polícia Civil é de que os bandidos tenham atolado o veículo. Depois, um segundo carro foi roubado, mas como possuía corta-corrente, foi igualmente deixado para trás e o restante da fuga foi feita a pé. A polícia ainda não sabe a identificação dos criminosos.

O domingo todo e a madrugada de segunda foram de buscas para amigos de Babacar. Conforme o primo dele, Bara Ndyae, 28, a procura foi incessante, além de um registro de desaparecimento na delegacia do aeroporto Salgado Filho.

Horas depois, um amigo informou que ouviu falar de um senegalês assaltado e de um carro localizado. Ao irem até uma delegacia, já na segunda-feira, foram informados de que ele havia sido vítima de assassinato.

— A delegacia confirmou que ele havia sido morto enquanto trabalhava. Os senegaleses, amigos, primos e conhecidos vão juntar o dinheiro. Não temos apoio do governo brasileiro e talvez tenhamos do Senegal, mas não queremos que o corpo fique esperando muito tempo — comentou o primo.

A investigação

O caso inicialmente foi apurado pelo Departamento de Homicídios. Conforme o diretor da unidade, delegado Eibert Moreira Neto, foi feita uma investigação preliminar e se verificou indícios de um crime patrimonial. Por isso, o assassinato passou a ser investigado como um latrocínio – roubo com morte.

— Ouvimos algumas pessoas e fizemos redistribuição da investigação para a delegacia do bairro.  A vítima não tinha antecedentes. Era um indivíduo estrangeiro, legalmente no Brasil, trabalhando regularmente quando foi morto — detalha o delegado.

O caso agora é investigado pela 19ª Delegacia de Polícia, que começou nesta terça a sua apuração.

Contraponto 

Pocurada, a Uber se manifestou por meio de nota. Confira o pronunciamento:

Com perplexidade e tristeza, a equipe da Uber teve conhecimento de que Babacar Niang foi vítima de um crime terrível. Neste momento, nossos sentimentos de pesar estão com sua família, amigos e colegas. Continuamos tentando entrar em contato com familiares para oferecer apoio e o acionamento do seguro que protege as viagens realizadas com o aplicativo. A Uber está colaborando ativamente com a investigação da Polícia Civil, fornecendo as informações solicitadas, de acordo com a legislação. Esperamos que o crime seja esclarecido rapidamente e que os responsáveis por tirar a vida de Babacar sejam levados à Justiça sem delongas.


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