Polícia



Luto na polícia

PMs mortos em confronto com criminosos em Porto Alegre são sepultados fardados 

Familiares e amigos de Marcelo de Fraga Feijó e Rodrigo da Silva Seixas — assassinados na quarta-feira — se despediram dos soldados nesta sexta-feira

28/06/2019 - 21h44min


Hygino Vasconcellos
Hygino Vasconcellos
de Caçapava do Sul
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Leticia Mendes
de Viamão

 As fardas que eram usadas por Marcelo de Fraga Feijó, 30 anos, e Rodrigo da Silva Seixas, 32 anos, soldados do 19º Batalhão de Polícia Militar (BPM), na zona leste da Capital, mortos em confronto com criminosos na quarta-feira (26), foram sepultadas com eles nesta sexta-feira (28).  A pedido das famílias, os soldados foram vestidos com o uniforme da profissão que escolheram, num último gesto de afeto. A quase 300 quilômetros de distância, em Viamão e Caçapava do Sul, parentes, amigos e colegas dos policiais precisaram cumprir a mesma árdua tarefa: a despedida.  

No acesso ao Cemitério Serapião José Goulart, no distrito de Águas Claras, em Viamão, na Região Metropolitana, acumulavam-se viaturas em uma estrada de chão. Próximo da entrada, policiais reduziam os passos, antes de cruzar o portão de ferro. Parte deles carregava no peito uma fita preta, em alusão ao luto. No pátio, em frente à capela onde Feijó era velado, num corredor de semblantes fechados, apoiavam-se uns nos outros. Permaneciam enfileirados, numa vigília de dor, que teve início no fim da tarde de quinta-feira, quando o corpo do soldado foi conduzido ao cemitério.  

— Essa farda nos une. Cumpriram com o dever deles. Com nosso juramento. Agora nos resta continuar fazendo o mesmo. Mas dói. E precisamos seguir trabalhando — desabafou outro soldado do mesmo batalhão. 

Abalado, o tenente-coronel Kefren Castro de Souza, comandante do 19º BPM, preferiu não falar com a imprensa. O governador Eduardo Leite acompanhou parte da cerimônia e depois seguiu para Caçapava do Sul, onde Seixas foi sepultado.  

— É um momento muito triste. Eram dois policiais jovens, que levaram ao extremo o seu juramento de prestar segurança, servir e defender a sociedade, com o emprego da própria vida. A gente está aqui para prestar homenagem, reconhecimento e solidariedade — lamentou.

Às 10h08min, três disparos romperam o silêncio. Em seguida, sob a bandeira do Rio Grande do Sul, o caixão foi conduzido por seis policiais para sepultamento. Em posição de sentido, colegas de farda, amigos e familiares fizeram a última homenagem ao soldado Feijó. Todos prestaram continência — saudação de respeito entre militares — ao PM assassinado. Subcomandante-geral da BM, o coronel Carlos Alberto de Andrade, também lamentou a perda dos soldados:

— É um momento no qual a BM está se sentindo entristecida. Mas lamentavelmente isso faz parte do nosso dever. É muito entristecedor perder dois soldados dessa forma. 

O vice-governador e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior, também esteve na despedida do soldado, assim como o comandante-geral da BM, coronel Mário Ikeda, e a chefe da Polícia Civil, Nadine Anflor. 

— É um de nós que se vai. Somos unidos, Brigada Militar e Polícia Civil. Esses dois colegas foram até o fim cumprindo seu dever. Isso nos mostra que temos que nos fortalecer no enfrentamento ao crime. Estamos do lado do bem. Do lado certo — disse a delegada.

BM / divulgação
Marcelo Feijó e Rodrigo Seixas

 A cerca de 300 quilômetros dali, em Caçapava do Sul, na Região Central, familiares se despediam do soldado Rodrigo da Silva Seixas, 33 anos. Era passado de 22h30min de quinta-feira (27) quando o caixão ingressou no plenário. Uma bandeira do Rio Grande do Sul foi estendida sobre ele. 

Na manhã de sexta-feira (28) ocorreu o segundo momento da despedida. Vindo de helicóptero de Porto Alegre, o governador Eduardo Leite compareceu ao velório, acompanhado do comandante da Brigada Militar, Mario Ikeda. De maneira cautelosa, Leite ingressou no plenário. Abraçou primeiro a mãe de Seixas e, em seguida, caminhou em direção ao caixão, quando cumprimentou a viúva Camila Fernandes Seixas, com um abraço.

— Tem de ter muita força nessa hora — disse Leite.

— É um herói, não é? — salientou a mulher.

O governador permaneceu cerca de 40 minutos na cidade. Em declaração para a imprensa na saída, sem possibilidade de perguntas por parte jornalistas, disse que compareceu ao velório para prestar "solidariedade" e "agradecer às famílias pelo serviço prestado pelos policiais que cumpriram ao extremo o juramento que prestaram, de dar a própria vida para defender o interesse da sociedade por uma condição de paz".

— Tenho certeza que temos uma Brigada que atua com a sua competência para dar a esses milhões de gaúchos a condição de todos os dias estarem em suas cidades, trabalhando, com suas famílias. Para que milhões de pessoas possam viver, alguns colocam a própria vida em risco — ressaltou.

No começo da tarde, PMs que atuam em Porto Alegre, muitos colegas de Seixas, chegaram a Caçapava do Sul. A partir dali, o plenário ficou lotado. Próximo das 15h30min, sete policiais do Pelotão de Operações Especiais (POE) de Bagé se alinharam do lado de fora da Câmara. Com armas em punho, dispararam três vezes para o chão. 

Em seguida, o corpo do PM foi retirado do prédio e apoiado em um suporte. Antes de o caixão ser colocado no caminhão dos Bombeiros, a bandeira do Rio Grande do Sul foi entregue para a viúva. Ao receber o pano, o rosto dela se contraiu e lágrimas caíram. Na sequência, debruçou-se sobre o caixão e exclamou:

— Vai com Deus, meu amorzinho. Não queria que fosse assim.

Dali, o caixão seguiu em cortejo até o Cemitério das Catacumbas.

Minutos antes da saída para o cemitério, o comandante do 6° Regimento de Polícia Montada, Sérgio Alex Laydner Medina fez uma declaração à imprensa, cercado de civis e militares. 

— Perdemos um irmão, um homem de farda. Também somos pessoas e queremos o reconhecimento do nosso trabalho — disse, sendo aplaudido no final.


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