Polícia



Em Porto Alegre

"Tinha uma vida pela frente", diz pai de jovem morta durante troca de tiros entre namorado dela e Brigada Militar 

 Larissa da Costa Antônio, 20 anos, estava em um carro roubado com o filho de três anos, o irmão de 13, o companheiro e um homem, ainda não identificado 

29/07/2019 - 21h14min


Hygino Vasconcellos
Hygino Vasconcellos
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Omar Freitas / Agencia RBS
Pai de Larissa, Silvano Antonio, mostra foto da filha

Habituada à cozinha, Larissa da Costa Antônio, 20 anos, preparava o jantar na casa da família no bairro Mario Quintana, zona norte de Porto Alegre, na noite de sábado (27). Passava das 21h20min quando recebeu uma ligação do seu pai, que acabara de sair do trabalho em um supermercado, no qual atua como açougueiro. Na conversa, a jovem avisou que a refeição estava pronta, mas o pai disse que iria para casa após buscar a esposa, madrasta dela.

Nesse meio tempo, o namorado da jovem apareceu na casa e a convidou para dar um passeio. Larissa resolveu levar o filho de três anos e o irmão dela, de 13 anos. Segundo a família, a jovem não sabia que estava entrando em um carro que havia sido roubado horas antes no bairro Petrópolis.

— Não teve maldade. Se tivesse, não teria levado o menino de três anos. Ela nunca pensou que isso aconteceria — acredita o pai, Silvano Antonio, 45 anos.

No meio do caminho, o carro passou a ser seguido por policiais militares. O irmão relatou a familiares que tanto ele quanto Larissa pediram para parar o veículo, o que não foi atendido. 

— Ele (o namorado) disse que iria dar uma volta  nos policiais, ia conseguir despistar — conta o pai. 

Na Avenida Alexandre Luís, o carro perdeu o controle e bateu em um muro e em uma cerca. Com a porta do motorista bloqueada, a mulher desceu primeiro, seguida do homem que, segundo a BM, teria saído atirando. Os policiais militares revidaram. Ela foi atingida por um tiro e morreu no local. A criança e o adolescente foram encontrados abaixados no banco traseiro.

Por mensagem de voz, enviada pelo WhatsApp, o adolescente avisou a família: 

— Pai, a polícia perseguiu o cara e ele bateu, e a polícia baleou a Larissa. Consegue vir aqui?

Desesperado e sem muitas informações, o pai da jovem correu para o local. Chegou em 20 minutos e encontrou a filha morta no chão

— Não deixaram nem chegar perto — conta Antonio, que reclama do tratamento dado à família no local. 

Segundo o pai, a jovem era dona de casa, mas estava procurando emprego e tinha começado a distribuir currículos. Há cerca de 15 dias, ela tinha oficializado o namoro.

— A gente sabe que ele estava fazendo coisa errada, mas queremos saber a verdade. Por que atiraram nela? O erro dela foi ter entrado no carro — indigna-se o pai.

Polícia aguarda laudos periciais

Para o comandante do 20º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Fernando Gralha Nunes, a mulher foi baleada pelo próprio namorado, segundo informações preliminares colhidas por ele. O delegado Luis Antonio Firmino aguarda dois laudos periciais — de necropsia e balística — que vão apontar a trajetória da bala no corpo de Larissa e de onde partiu o tiro.  

Para a família, o disparo partiu da Brigada Militar. Segundo o pai, o namorado de Larissa estava desarmado, conforme relato do adolescente e de vizinhos que moram próximo do local da morte. Conforme o delegado, isso ainda está sendo apurado. 

A partir desta segunda-feira (29), investigadores da 5ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), estão ouvindo os policiais militares envolvidos, familiares de Larissa e outras testemunhas. Na Brigada Militar, um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado para apurar a conduta dos PMs. 

Novamente procurado nesta segunda-feira, o comandante do 20º BPM nega que o homem estivesse desarmado e que o disparo tinha partido dos policiais.

— Até agora, todos os elementos apontam que ele (namorado) foi o autor dos disparos. Informações preliminares apontam que a munição utilizada foi um revólver calibre 38 — explica, salientando que essa arma foi apreendida no local.



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