Polícia



Tentativa de feminicídio

VÍDEO: "Pedi a Deus que me salvasse", conta mulher baleada no rosto por ex-companheiro em São Leopoldo

Homem atirou na jovem de 20 anos enquanto ela trabalhava na loja da família no dia 7 de agosto 

15/08/2019 - 21h42min

Atualizada em: 15/08/2019 - 21h42min


Hygino Vasconcellos
Hygino Vasconcellos
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No rosto, uma cicatriz em paralelo com a mandíbula demarca o rastro da bala disparada pelo ex-companheiro, há pouco mais de uma semana em São Leopoldo, no Vale do Sinos. A linha é quase imperceptível e contrasta com o lado esquerdo do rosto da jovem de 20 anos, que ficou paralisado. 

—  Poderia ter ficado surda, em cima de uma cama, inválida ou mesmo ter sido morta. Sou uma pessoa muito grata pela vida, pela nova oportunidade que Deus me deu. Em nenhum momento questionei estar com o rosto paralisado. Fiquei mais feliz por estar viva do que questionando o estado em que estava — contou a jovem para GaúchaZH

A vítima recebeu alta do hospital na última segunda-feira (12). Poderia ter deixado a casa de saúde na sexta-feira (9), mas a data foi prorrogada por motivos de segurança já que o agressor estava solto. Ao sair do local, deixou de ser monitorada por dois policias militares que a acompanhavam desde a internação. Mas foi escondida pela família. O medo era que ele voltasse. Na última terça-feira (13),  Cristiano Bessa Arisi, 40 anos, entregou-se à polícia

— Me senti aliviada — conta a vítima.

O casal permaneceu junto por um ano e sete meses, após se conheceram pelas redes sociais. Segundo a jovem, Arisi não escondia o ciúmes, que se acirraram quando ela e a mãe abriram uma loja no centro de São Leopoldo. O ex-companheiro desconfiava que ela estivesse se relacionando com algum fornecedor.

— Todos os dias eu chegava em casa e ele pedia meu telefone. Queria ver com quem eu estava falando. As nossas brigas eram muito por causa do telefone.  Foi a gota d’água quando ele ligou para todos os fornecedores perguntando qual deles tinha um caso comigo, ligou para a nossa fornecedora de joias e queria que ela endireitasse a voz como se fosse um homem falando — relata a mulher.

Hygino Vasconcellos / Agência RBS
Vítima conta que ex-companheiro monitorava seu telefone

Há dois meses, quando o namorado comprou um revólver calibre 38, a jovem passou a temer pela própria vida. Na época, o homem justificou a necessidade da arma citando os frequentes assaltos ao estabelecimento que tocava com os irmãos. No entanto, segundo a jovem, o revólver permanecia em casa e passou a ser usada para ameaçá-la. Em uma das brigas, chegou a fazer roleta russa com ela — quando se coloca apenas uma bala na arma e começa a disparar. 

— Acho que por uns 15 dias ele me ameaçou assim. Logo que ele comprou a arma eu me separei — conta a mulher.

A jovem deixou o apartamento no qual vivia com ele. Mas o ex-companheiro não aceitava o término do relacionamento. Na madrugada de sábado (2), pulou o muro do condomínio em que ela estava e arrombou a porta do apartamento. Revirou o local atrás de outra pessoa, mas ela estava sozinha. 

Após a invasão, a jovem deixou o apartamento. Voltou na segunda-feira (5) para pegar mais roupas. Encontrou a porta arrombada. Foi quando procurou novamente a polícia para pedir medida protetiva.

Por mensagem, o homem seguia mantendo contato com ela:

— Dizia que depois que a gente terminou, a vida dele não tinha mais sentido.


Após medida protetiva, jovem voltou à rotina normal

Após conseguir medida protetiva, passou a sentir-se mais segura. No dia 7, saiu de casa no começo da manhã para ir trabalhar na loja em São Leopoldo. 

— Estava mais tranquila e fui trabalhar. Perto do meio-dia encostou um carro lá e ele chegou muito transtornado, pedindo meu telefone. Eu disse que não ia dar. Ele logo levantou a blusa e disse que estava armado. Eu pedi para a nossa funcionária chamar a polícia. Ele seguiu ela, apontando a arma para ela não fazer isso e, logo depois, teve o disparo contra o meu rosto.

A mãe dela também estava na loja e presenciou o crime. Conta que um homem que passava pela calçada tirou a camiseta para estancar o sangue da cabeça da jovem. Em seguida, foi colocada dentro de um táxi e levada para o hospital. Mesmo atingida pelo disparo, a jovem permaneceu consciente. 

— Quando cai no chão, comecei a clamar a Deus, pedi a Deus que me salvasse, não  me deixasse morrer  — relata.

Segundo a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Leopoldo, o inquérito será concluído na próxima semana. O ex-companheiro da vítima deve ser indiciado por tentativa de feminicídio. A reportagem não conseguiu localizar a defesa do homem até a publicação desta reportagem.



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