Polícia



Para além dos muros

Projeto de estudantes de Sapiranga sobre violência contra a mulher será apresentado em Roma

Alunas do oitavo ano criaram iniciativa dentro de escola municipal e incentivaram outras ações na cidade

03/09/2019 - 21h44min


João Praetzel
João Praetzel
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Alunas apresentarão o projeto na Itália em novembro

Em busca de ampliar o diálogo sobre violência contra a mulher, três alunas de um colégio municipal de Sapiranga lançaram o projeto E Se Fosse com Você?, em que chamam atenção para dados e relatos. Betina Garcia, Ketlin Conceição e Roberta Caxambu — todas de 14 anos — juntaram-se à professora Denize Groff e levaram o tema da igualdade de gênero para dentro da Escola Maria Emília de Paula há mais de um ano. Agora, a iniciativa sairá dos limites da cidade do Vale do Sinos e será apresentada em Roma, na Itália.

— A gente pensou nos relatos, vimos os dados e imaginamos como poderíamos contribuir para o assunto — resume Roberta, que com as colegas do oitavo ano se debruçou sobre registros da Secretaria da Segurança Pública: foram 133 ocorrências de lesão corporal contra mulheres em Sapiranga ao longo de 2018 e 117 feminicídios no Estado.

Para se tornar realidade na escola de 279 alunos na Vila Irma, a iniciativa ganhou apoio da direção e também dos familiares das adolescentes.  O primeiro passo foi convidar alunas de todas as turmas para participarem de um clube feminista para falar sobre igualdade de gênero e sobre a luta das mulheres no Brasil. A partir disso, uma psicóloga conversou sobre relacionamentos abusivos e assédio no ambiente escolar, enquanto uma advogada orientou as meninas sobre como proceder em casos de agressão. O trio virou referência para outras colegas. A semente estava plantada e acabou gerando novas ações, como a hora do conto com livros com a temática da igualdade de gênero e um ato onde as estudantes se vestiram de Frida Kahlo. 

— Não é fácil sair da zona de conforto. A gente sabe que não vai solucionar o problema, mas queríamos alimentar o tema para que ele fosse falado dentro da escola e também nas casas dos nossos alunos — salienta Denize, responsável pela orientação.

Neste mês, as meninas pretendem convidar para as atividades os meninos — considerados por elas parte importante no processo de conscientização. 

— Temos que falar que a igualdade de gênero também depende deles — acrescenta Roberta.

A iniciativa ficou conhecida na região. As adolescentes fizeram atividades no colégio Ayrton Senna, em Sapiranga, e na escola Bernardo Lenck, em Nova Hartz, ambas municipais. Segundo as alunas, as visitas foram para propiciar uma troca de experiências. Recentemente, elas estiveram em uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e propuseram para a Câmara de Vereadores de Sapiranga a criação de uma lei prevendo que todas escolas debatam violência contra a mulher.


Prêmio e o Papa

Por meio do concurso Criativos da Escola, do Instituto Alana, as três meninas e a orientadora estarão em Roma a partir do dia 25 de novembro para participarem da conferência global I Can (Eu Posso). O evento deve reunir 2 mil crianças e adolescentes e contar com a presença do papa Francisco, além de artistas e líderes mundiais. 

A inscrição na competição surgiu por acaso e sem tranquilidade. A vice-diretora da escola, Fabiana Heinen, viu a propaganda na TV e alertou as alunas. Em função da série de documentos exigidos, acabaram perdendo o prazo. Já pensavam em participar no ano que vem, até que receberam uma mensagem dizendo que o período havia sido postergado. Assim, se inscreveram e garantiram a participação.


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