Polícia



Fuja das trapaças

Bilhete premiado, militar apaixonado e ensaio de fotos gratuito: entenda e saiba como se proteger dos golpes mais comuns

Em Porto Alegre, 4,6 mil casos de estelionato foram registrados entre janeiro e setembro deste ano

31/10/2019 - 07h56min


Leticia Mendes
Mateus Bruxel / Agencia RBS
Um dos alvos de operação da Polícia Civil é o golpe do book, no centro da Capital

Envolver a vítima em uma falsa história para conseguir obter alguma vantagem é o enredo que resume os estelionatos. Os golpes, mesmo nas modalidades antigas e conhecidas, como o conto do bilhete premiado, seguem fazendo vítimas. Somente em Porto Alegre, entre janeiro e setembro deste ano, foram 4,6 mil registros deste tipo de crime — o que representa 26% do total de casos no Rio Grande do Sul. Ou seja, um em cada quatro golpes aplicados no Estado ocorre na Capital.

Para seduzir as vítimas, os golpistas utilizam estratégias como a promessa de um brinde ou de recompensa financeira. Quando se dão conta, as vítimas já foram envolvidas e entregaram os valores que tinham aos criminosos. Exemplos desses crimes são o conto do bilhete premiado e os golpes do book ou do brinde. Outra forma de atrair os alvos é fazer com que a vítima pense que sofrerá alguma perda financeira e se oferecer para ajudar. É o que ocorre nos golpes do motoboy ou do cartão. Conheça algumas dessas modalidades de estelionato e saiba como se proteger delas: 


Golpe do motoboy

Uma das modalidades com registros recentes na Delegacia do Idoso de Porto Alegre se dá da seguinte forma: um estelionatário entra em contato por telefone e afirma ser de uma agência bancária. O golpista alega que precisa confirmar uma compra no cartão de crédito da vítima, com valores entre R$ 4 mil ou R$ 5 mil.

— O idoso se assusta e diz que não fez essa compra. A pessoa, então, afirma que um motoboy passará na casa da vítima para pegar o cartão. A vítima é orientada a partir o cartão ao meio para que seja invalidado e fazer uma cartinha a próprio punho, com seus dados, contestando a compra — explica a delegada Cristiane Pires Ramos.

Na sequência, um motoboy passa e recolhe o cartão, cortado ao meio, mas com o chip em funcionamento e todos os dados da vítima. Dias depois, o idoso recebe a fatura do cartão e descobre que ele foi usado para compras ou pagamentos.

Segundo a delegada, a polícia está buscando rastrear a autoria dessas compras.

— Não é assim que os bancos procedem. Em qualquer dúvida, é preciso procurar a agência presencialmente. Se as pessoas fizessem isso, poderiam evitar — diz a delegada.

Como se proteger:

  • Não entregue cartão bancário.
  • Procure o banco, caso seja contatado por telefone.
  • Não repasse informações bancárias por telefone.

 Conto do bilhete

Um primeiro estelionatário aborda a vítima na rua, muitas vezes nas proximidades de bancos. Os alvos principais são pessoas idosas, que aparentam boa situação financeira. O criminoso se passa por uma pessoa pobre e analfabeta, e pergunta o endereço da Caixa Econômica Federal. Relata que tem um bilhete premiado e precisa resgatar o valor.

Neste momento, um segundo golpista se aproxima e oferece ajuda. Este costuma estar bem vestido, com roupas sociais. Em algumas situações se apresenta como advogado ou médico. Ele simula um telefonema para o banco, onde confirma o prêmio. O primeiro estelionatário, que afirma ter o bilhete premiado, alega não ter documentos e pede ajuda para resgatar o valor.

A vítima é seduzida por uma promessa de recompensa pelo auxílio. No entanto, como prova de sua idoneidade, o "dono do bilhete" pede uma quantia prévia. Alega que é uma forma de garantir que a vítima não ficará com seu dinheiro. A vítima é levada até uma agência bancária para sacar dinheiro. Ela circula com os estelionatários, muitas vezes até em mais de um banco, para conseguir retirar mais dinheiro. Por fim, os golpistas pedem que ela ingresse em algum lugar, como uma farmácia ou lancheria, e aproveitam este momento para fugir. É só aí que a vítima se dá conta do golpe. 


Como se proteger:

  • Evite conversar com estranhos na rua e na frente de caixas eletrônicos.
  • Preste atenção, pois, em geral, mais de uma pessoa participa desse golpe, como alguém supostamente acima de qualquer suspeita.
  • Se alguém realmente possuir um bilhete premiado, não irá dividir o prêmio com outra pessoa, ainda mais um desconhecido. O ganhador também não irá vender esse prêmio em troca de dinheiro vivo, pois em algum momento o premiado obterá a quantia. 

Soldado americano

Por um perfil de uma rede social, é feito contato com a vítima. O golpista se apresenta como sendo marinheiro ou soldado americano que está na Síria — há variações como perfis femininos. A vítima passa a conversar com o estelionatário e estabelece uma relação afetiva.

— Eles começam a dizer que querem vir para o Brasil, mas precisam do dinheiro. As idosas começam a fazer depósitos. São contas dentro do Brasil, mas vítimas não se dão conta — alerta a delegada.

Foi dessa forma que uma viúva, aposentada e moradora de Porto Alegre, perdeu cerca de R$ 35 mil no período de dois anos. Em janeiro, ela contou sua história a GaúchaZH.

— Não é possível que um bandido possa ter ficado dois anos me incomodando. Se não tivesse acordado a tempo, estaria hoje morando embaixo de uma ponte — disse à reportagem na época.


Como se proteger:

  • Não forneça dados pessoais, como RG, CPF e endereço.
  • Caso conheça alguém pela internet, sempre que possível, tente marcar um encontro em lugar seguro para verificar se a pessoa está falando a verdade.
  • Nunca atenda a pedidos de dinheiro.
  • Não envie fotos íntimas a desconhecidos. Elas podem ser usadas para chantagens.

Golpe do book

Aliciadores, em geral jovens, abordam mulheres idosas. Prometem brindes, maquiagens e fotos de graça. Assim, as vítimas são convencidas a ingressar nos prédios comerciais, onde estão os pequenos estúdios. Lá, fazem diversas fotos. Na hora da saída, no entanto, vem a cobrança, com valores exorbitantes. Há registros de até R$ 4 mil. As vítimas são coagidas a fazerem o pagamento.

Foi o que aconteceu com uma idosa de 72 anos em julho do ano passado enquanto caminhava pelo centro da Capital. Ela só conseguiu contar a história, que escondia da família, à reportagem de GaúchaZH, quatro meses após ser vítima.

Meu marido e meus filhos não sabem. Não vão saber — confidenciou a idosa, que foi lesada em R$ 1 mil.

No ano passado, a Polícia Civil desencadeou série de ações para combater este tipo de crime no centro de Porto Alegre. Segundo a polícia, novos casos foram registrados recentemente.


Como se proteger:

  • Evite conversar com estranhos, especialmente em abordagens na rua.
  • Desconfie da oferta de brindes.

Se for vítima

Caso caia em algum golpe, informe a Brigada Militar ou vá até a Polícia Civil o mais rápido possível. Tente descrever aos policiais o máximo de características físicas dos golpistas. Se seus cartões bancários forem levados, entre em contato com seu banco. Se for idoso, na Capital há delegacia especializada para atender essas vítimas. Ela fica junto ao Palácio da Polícia, na Avenida Ipiranga, 1.803.

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