Polícia



Operação Lamanai

Unick: delegados da PF explicam como empresa teria atraído um milhão de clientes

Dez pessoas foram presas durante ofensiva que apura lavagem de dinheiro, evasão de divisas, organização criminosa, crime contra o sistema financeiro e contra a economia popular

18/10/2019 - 08h32min

Atualizada em: 18/10/2019 - 08h41min


Jeniffer Gularte
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Omar Freitas / Agencia RBS
Carros de luxo foram apreendidos e trazidos até a rua próxima à sede da Polícia Federal em Porto Alegre

A promessa de lucro de 100% sobre o valor investido em até seis meses teria atraído um milhão de clientes para os negócios da Unick Forex. Os pagamentos das aplicações podiam ser feitos por boleto, com investimento mínimo de R$ 99. Segundo a Polícia Federal, a empresa gaúcha teria, atualmente, 740 mil cadastros ativos em todo Brasil.

Entre 2017 e o começo deste ano, os retornos prometidos aos clientes foram cumpridos, conforme a PF. Os pagamentos teriam permitido fôlego para atração de novos investidores. A remuneração dos clientes se baseava, de acordo com a investigação, na lógica de que os mais antigos investidores seriam subsidiados com o dinheiro dos novos participantes, o que caracterizaria modalidade de pirâmide.

— Havia estrutura de líderes empresariais, como se autodenominavam, que ganhavam bonificações por clientes que arregimentassem. O atrativo para que as pessoas investissem na Unick era a promessa de ganhos estratosféricos, que são irreais. Havia nítida conotação de pirâmide — afirmou o delegado Aldronei Pacheco Rodrigues, da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros, responsável pelo comando da investigação.

Ainda conforme explicou o delegado durante coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira (17), há um momento em que, com o aumento do volume de clientes, a captação da Unick Forex teria se tornado menor do que o resgate e os recursos para pagamento dos investidores acabariam se esgotando.

Por isso, informou o superintendente regional da PF Alexandre da Silveira Isbarrola, há ilegalidade na base do negócio. A captação de recursos de terceiro deve ser autorizada pelo Banco Central. Segundo Isbarrola, o BC obriga que essas empresas tenham base financeira própria para fazer frente à captação de recursos. Quando isso não ocorre, os investidores têm prejuízo:

— É importante que, ao investir, as pessoas busquem informações junto ao Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para saber se essas empresas que captam e administram recursos de terceiros têm autorização para atuar no mercado financeiro. Caso contrário, essas empresas estarão praticando um crime e as pessoas que nela aplicam estarão correndo risco extremamente elevado de perder o recurso investido — orienta o superintendente regional da PF.

A CVM já havia feito diversas advertências à Unick Forex e solicitado, inclusive, que a empresa parasse de atuar. Em uma delas, em março de 2018, a comissão divulgou alerta ao mercado afirmando que a empresa não tinha autorização da autarquia para captar clientes no Brasil pelo site no qual operava:

— À revelia de qualquer instituição, eles seguiram atuando e captando clientes. Aumentou a captação à medida em que as pessoas começaram a procurar e o esquema foi evoluindo. Eles não obedeceram o comando da CVM. Não tiveram qualquer pudor de seguir atuando — afirma o delegado Aldronei Pacheco Rodrigues.

O valor repassado pelos clientes seria investido pela Unick Forex, segundo a PF, no mercado de Foreign Exchange (Forex), na compra e venda de moedas virtuais, operações somente autorizadas às instituições financeiras oficiais.

— É óbvio que esses investimentos não conseguem, de maneira alguma, arcar com os lucros prometidos pela Unick — reforça o delegado Aldronei Pacheco Rodrigues.

10 presos

O inquérito policial foi aberto em janeiro deste ano quando a PF recebeu notícia crime de que havia uma pirâmide financeira que nasceu no Rio Grande do Sul e estava se capilarizando por todo país. A investigação, que teve apoio da Receita Federal, resultou na Operação Lamanai, deflagrada na manhã desta quinta-feira (17), que prendeu 10 pessoas que formam o núcleo de comando da Unick Forex e cumpriu 65 mandados de busca e apreensão  nas cidades de Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo, Caxias do Sul, Curitiba (PR), Bragança Paulista (SP), Palmas (TO) e Brasília (DF).

Também foram cumpridas medidas judiciais para apreensão de 48 veículos, sequestro de bens e bloqueio de valores em contas correntes. Apenas em bitcoins, segundo a PF, foram apreendidos R$ 50 milhões. A corporação ainda não tem os valor total de bens e recursos apreendidos.

— Se calcula que alguns milhões de reais serão guarnecidos e talvez essa seja a única forma de ressarcir essas pessoas que tiveram prejuízos — conclui o delegado Aldronei.

A operação investiga os crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, organização criminosa, crime contra o sistema financeiro e crime contra a economia popular.

A partir da análise dos objetivos e informações apreendidas, a PF começará a segunda fase da investigação, com análise do material. A empresa já alastrava seus negócios para países como Estados Unidos e Austrália e tinha um centro de negócios em Belize, na América Central. As investigações da PF seguirão apurando quais tipos de negócios eram feitos no exterior. O nome dos presos não foi divulgado pela PF.

Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Documentos foram apreendidos na manhã desta quinta-feira durante cumprimento de mandados de busca

Contraponto

O escritório Nelson Wilians e Advogados Associados, que representa a Unick, divulgou nota no final da manhã desta quinta-feira. Leia a íntegra:

"O escritório Nelson Wilians e Advogados Associados, que representa juridicamente a UNICK Academy, vem reafirmar o compromisso da empresa em colaborar com as autoridades competentes, prestando as informações necessárias para apuração de quaisquer eventuais fatos que tenham ocorrido em relação a suas operações. A empresa reafirma seu compromisso com seus clientes e acredita na Justiça e nos esclarecimentos dos fatos".


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