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Estudante, apegado aos pais e com planos de seguir carreira militar: quem era o soldado morto em assalto na Capital

Vinicius Teixeira Dutra da Silva, 19 anos, morava com a família no bairro Costa e Silva

05/11/2019 - 07h55min


Leticia Mendes
Arquivo pessoal / Arquivo Pessoal
Soldado servia na Companhia de Comando do Comando Militar do Sul, na Capital

Vinicius Teixeira Dutra da Silva, 19 anos, pretendia concluir o curso de técnico em enfermagem, dar continuidade à carreira militar e comprar o primeiro carro. Apegado à família, o jovem não tinha planos de deixar a casa dos pais, onde residia na zona norte de Porto Alegre. A despedida, contudo, ocorreu de forma prematura e violenta. O soldado do Exército morreu após ser baleado no peito durante assalto no último fim de semana.

Vinicius, ou Vini, como era chamado pelos amigos, costumava brincar que não sairia da moradia da família tão cedo. Residia com os pais, Júlio César e Alessandra, e a irmã, de 11 anos, no bairro Costa e Silva. O primogênito era incentivado a se manter por perto. Era uma forma também de tentar minimizar o risco que ele sofreria nas ruas. Quando saía, o pai levava e buscava o jovem ou chamava um transporte.  

— Sempre foram pais muito cuidadosos. Era um guri do bem. Estava sempre rindo. O pai dele brincava: "teu amigo já comprou apartamento. E tu, quando vai comprar?". Ele respondia rindo: "Ah, pai, não vou embora nunca"— recorda a tia, Luciana Dutra da Silva, 48 anos.

Durante a infância, Vinicius residiu em Guaíba, na Região Metropolitana, e depois se mudou com os pais para Porto Alegre. Formou-se no Ensino Médio do Instituto Estadual Dom Diogo de Souza, em dezembro do ano passado. Os 18 anos também foram comemorados com a família. Vinicius dançou com a mãe e a irmã, em uma apresentação que marcou a celebração.

— É uma família muito unida. Era aquele filho que os pais tiveram muito jovens. Ele comprava um ingresso para um show e convidava os pais — lembra a tia.

Pensando em dar continuidade à carreira militar, Vinicius cursava técnico em enfermagem. O rapaz também estava fazendo autoescola e planejava comprar um carro.

— Um guri de muita luz, muito educado. Era o menino que levantava no ônibus para outra pessoa sentar, que se te via carregando uma sacola se oferecia para ajudar. Ele era assim. A gente criou o Vinicius para ser o menino que sempre respeitasse as pessoas, que não ferisse ninguém, nem com palavras — descreve Luciana.

Quando não estava na Companhia de Comando do Comando Militar do Sul, no centro da Capital, onde servia como soldado, Vinicius convidava os amigos para visitá-lo. Um dos atrativos era jogar videogame. O último fim de semana da família foi assim. Somente no sábado à noite, o jovem saiu para ir até a casa de um colega. Em frente à residência, durante um assalto no sábado (2), Vinicius foi alvejado no peito.

— A mãe dele não deixou que ele comprasse um celular caro. Ela disse: "Não tem necessidade, é até perigoso". Levaram um celular velho e mataram meu sobrinho — lamenta a tia.

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Em dezembro, jovem se formou no Ensino Médio também em Porto Alegre

 O crime

Na noite de sábado (2), ele saiu de casa com dois amigos e foi até a casa de um deles. Pediram um lanche e ficaram sentados na calçada em frente à residência, conversando. Eles estavam em frente dessa casa, na Rua Antônio João Francisco, no bairro Costa e Silva, quando foram abordados por dois criminosos. Os ladrões exigiram que eles entregassem os celulares.

Um amigo do militar, testemunha do crime, narrou à equipe da RBSTV como foi o assalto. O jovem pediu à reportagem para não ser identificado:

— Chegaram fazendo brincadeiras e recolheram nossos celulares. A gente não reagiu. E mesmo não reagindo um deles mirou a arma para nós e acabou efetuando um disparo contra o Vinicius. Depois saíram correndo — contou.

"Ele entregou o celular, sem reagir", diz a mãe  

Em entrevista à RBSTV, a dona de casa Alessandra Teixeira lembrou do filho como um jovem honesto e tranquilo. Ao lado do marido, o mecânico de refrigeração Júlio César Dutra da Silva, ela pediu justiça pelo crime.

— Vai ser muito difícil saber que acabou. Que eu perdi meu filho mais velho, meu amigo, meu parceiro, um guri super bom, super do bem, honesto. Nunca nos deu trabalho para nada. Ele entregou o celular, sem reagir, e mesmo assim o bandido atirou — afirmou.

Logo após o jovem ser atingido, um dos amigos correu até a casa da família de Vinicius, enquanto aguardavam pelo socorro. O pai ainda encontrou o filho caído na rua, antes de ele ser encaminhado ao hospital.

— Perdi a nossa luz. Passei o dia inteiro falando a mesma coisa para os colegas dele de Exército, para meus familiares, que eu tenho de agradecer ele por ter me escolhido como pai. Eu tive a realização de ser 19 anos pai desse cara. Se perguntar até para as pedras no chão, todo mundo gostava do Vinicius. Não tinha quem não gostava dele — disse o pai.

Despedida

O corpo do jovem foi sepultado no fim da manhã,  no cemitério Jardim da Paz, em Porto Alegre. Enfileirados, sob chuva, militares formaram uma guarda-fúnebre e acompanharam o caixão, coberto com a bandeira do Brasil. Em parte do trajeto, o caixão foi carregado pelos colegas do soldado. Houve salva de tiros. Por nota, o Comando Militar do Sul lamentou o crime e afirmou que o rapaz foi "morto covardemente em um assalto, mesmo entregando tudo que foi pedido".

O caso é investigado pela Polícia Civil, mas até o momento não há informações sobre identificação ou prisão de suspeitos.  Familiares da vítima e testemunhas do crime deverão ser ouvidos ao longo desta segunda-feira (4).

— As investigações estão em curso, temos diversas pistas a serem seguidas, mas não vamos nos manifestar até para não atrapalhar as investigações e não lançar eventuais informações que ainda não estão confirmadas — afirmou o delegado Daniel Mendelski. 

Fernando Gomes / Agencia RBS
Enterro no fim da manhã desta segunda-feira, no Jardim da Paz



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