Polícia



Crime organizado

Condenado por assassinato, tráfico e roubo, líder de facção do RS é solto de novo pela Justiça

Judiciário autorizou Gustavo Deporte a colocar tornozeleira eletrônica. Até o momento, criminoso não compareceu para instalar equipamento

19/02/2020 - 09h51min


Vitor Rosa
Vitor Rosa
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Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
Gustavo Deporte foi preso em fevereiro de 2019 durante operação na Capital

Um homem apontado em investigações da Polícia Civil como membro da cúpula de uma das maiores facções do tráfico do Rio Grande do Sul deixou a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) na última semana. Gustavo da Silva Deporte, o Queimado, 47 anos, teve a prisão preventiva revogada em um processo no qual responde por organização criminosa.

Queimado deixou o presídio sob condição de aparecer em 48 horas para instalação de tornozeleira eletrônica e ser monitorado, o que ainda não ocorreu. Um novo prazo foi dado. Agora, tem até as 10h desta quarta-feira (19) para colocar o equipamento, caso contrário, será expedido novo mandado de prisão. No sistema interno da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), já consta como foragido.

Já considerado um dos criminosos mais procurados do RS, Deporte é condenado a mais de 30 anos de prisão por homicídio, tráfico de drogas e receptação. Na última vez em que foi preso, foi localizado escondido no sótão de uma casa, após mais de 3 horas de operação da polícia. Na penúltima, foi encontrado em um apartamento no litoral do Paraná.

Responsável pelas duas últimas prisões do traficante, o delegado Arthur Raldi é crítico à soltura. Ele lembra que da última vez em que ele foi detido estava com tornozeleira eletrônica, mas continuava a cometer crimes. O policial disse que encontrou provas de que ele "não havia cessado de cometer atividades ilícitas, juntamente à organização criminosa".

— Infelizmente, a tornozeleira eletrônica só garante que o Estado sabe onde o monitorado está, mas não o que ele está fazendo. O problema não é o monitoramento em si, mas as exceções que não o respeitam. Por meio de um telefone celular, pode-se fazer muitas coisas sem sequer sair do lugar — disse o delegado Arthur Raldi

De maneira reservada, outros policiais também criticaram a soltura a GaúchaZH. Segundo a Polícia Civil, Queimado é investigado por comandar tráfico de drogas e de armas no Rio Grande do Sul e por dar ordens para execuções que terminaram em esquartejamentos gravados em imagens de vídeo.

Deporte tinha dois processos com prisão em aberto. Um, no regime fechado, com prisão preventiva mais recente por organização criminosa — no qual recebeu a soltura. No outro, já tinha direito a progredir de regime com a colocação de tornozeleira.

Na decisão, à qual GaúchaZH teve acesso, a juíza Cláudia Junqueira Sulzbach declarou que o prazo para a prisão preventiva já tinha se excedido, mesmo com manifestação contrária do Ministério Público. Ela sustentou que havia réus que ainda não haviam sido notificados por não terem sido localizados, outros não haviam apresentado defesa, alguns foragidos e o processo atrasou:

"Assim, ainda há diligências pendentes até que seja possível dar início à instrução criminal com a coleta da prova oral, de forma que reconheço o excesso de prazo e defiro aos denunciados presos o benefício da liberdade, ainda que registrem envolvimentos anteriores na prática de ilícitos".

Na decisão, a própria juíza reconhece que "ainda que registrem envolvimentos anteriores na prática de ilícitos", o crime de organização criminosa "por si só, não justifica a manutenção da prisão".

GaúchaZH conversou com Rogério Maia Garcia, advogado de Queimado. Ele disse que não iria manifestar nesse momento.


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