Polícia



Caso Rafael

Polícia analisa pontos divergentes entre depoimentos de irmão e mãe de menino morto no norte do RS

Adolescente de 17 anos foi ouvido em procedimento especial na última sexta-feira e relatório chegou à polícia nesta segunda-feira

02/06/2020 - 10h29min


Leticia Mendes
IGP-RS / Divulgação
Moradia onde criança vivia com mãe e irmão foi periciada no fim da semana passada, em Planalto

Após ouvir o irmão de Rafael Mateus Winques, 11 anos, a Polícia Civil agora está comparando a versão apresentada pela mãe Alexandra Dougokenski, 32 anos, com a do filho de 17 anos. A mulher confessou na semana passada ter matado o menino no dia 15 de maio e escondido o corpo, mas alega que não teve intenção e que a morte aconteceu por ingestão de medicamentos. O adolescente afirmou na escuta, realizada na última sexta-feira (29), que estava dormindo, mas alguns pontos apresentam divergência com o relato da mãe, segundo a investigação. O relatório da escuta especializada foi recebido nesta segunda-feira (1º).

O delegado Ercílio Carletti, que conduz a investigação da morte de Rafael, confirmou que neste momento os policiais estão comparando o relatório da escuta — entregue no fim desta manhã — com a confissão da mulher. O delegado confirmou que há pontos divergentes nos relatos, mas evitou dar detalhes.

— Existem intercorrências, pontos divergentes, que estão sendo analisados. É um material muito extenso, que ainda estamos verificando. O profissional que fez a escuta faz esse relatório, que chegou para nós há pouco — afirmou Carletti.

Alexandra foi ouvida novamente no sábado em Porto Alegre, no Palácio da Polícia. Por cerca de sete horas, ela detalhou à polícia como, em sua versão, aconteceu o homicídio. A mãe diz que o garoto estava agitado e não queria dormir. E que, por isso, ela deu a ele dois comprimidos de Diazepam — que teriam provocado a morte. A perícia inicial apontou, no entanto, que o menino foi morto por estrangulamento.

O relato do adolescente é considerado importante pela polícia porque, segundo a versão da mãe, ele era a única pessoa na casa, além dela e de Rafael, na noite do crime. O jovem costumava dormir em quarto separado do irmão.

— Existem contradições entre as versões apresentadas que foram abordadas no interrogatório, mas ainda não foram esclarecidas, por isso não posso detalhar ainda — disse o delegado Eibert Moreita Neto, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que também participa da investigação em Planalto desde a semana passada.

O diretor do Departamento de Polícia do Interior (DPI), delegado Joerberth Nunes, relatou que o adolescente confirmou que estava dormindo na noite do crime. Alexandra relata que o filho adolescente não presenciou nada. E que ela retirou o corpo de Rafael sozinha de dentro de casa. O cadáver foi localizado 10 dias depois, dentro de uma caixa de papelão, na garagem da casa vizinha.

— Ele só ratificou o que já havia dito. Que estava dormindo e não viu nada. Só ouviu alguns barulhos. Não sabe nada do fato. Mas estamos cruzando com o outro depoimento — afirmou Nunes.

O diretor do DPI deve seguir nesta terça-feira (2) para Planalto, assim como a chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, onde se reunirão com os policiais que integram a força-tarefa montada para investigar o caso. A diretora-geral do Instituto-Geral de Perícias (IGP), Heloísa Helena Kuser, também deve visitar o local onde o menino foi encontrado morto. As perícias são consideradas fundamentais para o esclarecimento do caso. 

Um dos próximos passos da investigação será solicitar a reconstituição do crime, tecnicamente chamada de reprodução simulada dos fatos. Esse pedido, no entanto, só será realizado após o recebimento dos laudos das outras perícias solicitadas. Entre elas está a análise do DNA do menino, para confirmar se as amostras coletadas durante a perícia, podem ser de sangue da criança e o exame que irá identificar se o garoto realmente ingeriu medicamento, como alega a mãe. 


O depoimento

A escuta especializada do adolescente foi realizada por uma policial de Passo Fundo, que possui treinamento, por se tratar de um menor de 18 anos. O procedimento ocorreu em uma sala da Delegacia de Polícia de Planalto, adaptada para isso. Após ser ouvido, o jovem foi levado pelo Conselho Tutelar de volta para a casa de familiares, onde permanece em outro município.

— Esse procedimento especial tem como objetivo não revitimizar o adolescente, que já passou por uma situação traumática. Por isso, tentamos manter sigilo — afirma o delegado Carletti.

O que diz a defesa

Segundo o advogado Jean Severo, Alexandra relata que o filho adolescente estava dormindo quando aconteceu a morte do irmão.

— Um dos motivos que ela tirou o corpo de lá e não revelou tudo foi porque ela ficou com vergonha (do filho adolescente). É um guri muito correto, trabalhador. Foi isso. Ele não sabia de nada, estava dormindo — afirmou o advogado.,

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