Polícia



Cinco indiciados

Traição, crime encomendado e participação de ex-PM: as conclusões da polícia sobre triplo homicídio no norte do RS

Para polícia, Diênifer Padia era o único alvo dos criminosos, mas o cunhado Alessandro dos Santos e a sobrinha Kétlyn Padia dos Santos foram mortos porque estavam no local do crime

24/07/2020 - 09h35min


Jeniffer Gularte
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Montagem sobre fotos: / Arquivo Pessoal
Diênifer, 26 anos, Alessandro, 34 anos e a filha Kétlyn, 15 anos, foram mortos na noite de 19 de maio em Passo Fundo

Após dois meses de investigação, a Polícia Civil irá indiciar nesta quinta-feira (23) cinco pessoas por envolvimento no triplo homicídio de integrantes da mesma família em Passo Fundo, no norte do RS. A investigação revelou que o alvo do assassinato era Diênifer Padia, 26 anos, e que seu cunhado Alessandro dos Santos, 34, e a sobrinha Kétlyn Padia dos Santos, 15, foram mortos pois estavam na cena do crime. Os três foram asfixiados e amarrados dentro de casa na noite de 19 de maio.

Os cinco envolvidos são indiciados por homicídio com quatro qualificadoras: pagamento de recompensa, asfixia, emboscada e meio que dificultou defesa das vítimas e feminicídio. A polícia responsabiliza pelas mortes Eleandro Roso, Fernanda Rizzotto, Claudiomir Rizzotto, o ex-policial militar Luciano Costa dos Santos e Monalisa Kich Anunciação. Apenas Roso está preso. Fernanda, Rizzotto e o ex-PM estão foragidos com prisão preventiva decretada. Monalisa não teve a prisão solicitada pois a polícia entendeu que sua participação no crime foi menor.

— O crime foi um feminicídio. Como Diênifer era o alvo e a motivação tinha a ver com vínculo de relacionamento, entendemos que é um feminicídio que se comunica com as demais vítimas, que acabaram sendo mortas em razão disso também — explica a delegada Daniela Minetto.

Eleandro Roso, 42 anos, é suspeito de ser o mandante do crime. Preso preventivamente desde o final de junho, Roso é dono de uma propriedade de suinocultura em Casca, onde Diênifer trabalhou por três anos. Além de ex-chefe da vítima, é também pai da sua filha mais nova. Roso e Diênifer tiveram um relacionamento extraconjugal que só veio à tona após o nascimento da criança. A polícia apurou que, com a chegada da bebê, Diênifer foi demitida, mas manteve relacionamento com Roso. Ela teria feito algumas exigências a ele. Roso deu uma casa para ela e a família – residência onde o crime aconteceu – e um cartão de crédito para arcar com as despesas da bebê. A vitima também estaria pedindo dinheiro para abrir uma loja de roupas em Passo Fundo.

Fernanda Rizzotto, 41 anos, é esposa de Roso. De acordo com a delegada, ao descobrir a traição do marido, Fernanda passou a ameaçar Diênifer. Em fevereiro deste ano, Diênifer recebeu uma boneca sem pernas e braços e com manchas que imitam sangue, entregue em uma caixa de sapatos. A delegada aponta que Fernanda pediu ao irmão, Claudiomir Rizzotto, 52 anos, para que encontrasse alguém que tirasse a vida de Diênifer.

É Rizzotto quem chega ao ex-PM Luciano Costa dos Santos e, segundo a investigação, faz a encomenda do crime. No passado, Santos e Rizzoto trabalharam juntos em um posto de combustíveis em Passo Fundo. O ex-PM foi preso por porte ilegal de armas em 19 de junho e colocado em liberdade há poucos dias. Um novo pedido de prisão preventiva foi decretado e agora ele está foragido. Em depoimento, confirma a proposta de Rizzoto, mas diz que não aceitou. A investigação, porém, tem indícios de que o ex-PM contratou dois homens para executar o crime. Na casa de Santos, além de drogas e armas ilegais, foram apreendidos R$ 17,5 mil em dinheiro. Durante a elaboração do inquérito, a polícia recebeu informações de que havia oferta de pagamento de R$ 35 mil para execução do crime.

A quinta pessoa indiciada é a mulher do ex-PM, Monalisa Kich Anunciação. Em depoimento, Monalisa admitiu que utilizou um perfil falso no Facebook para comprar um celular de Diênifer – a vítima tinha o hábito de anunciar produtos nas redes sociais. Também disse à Polícia Civil que foi até a casa dela para ver detalhes da residência e quantos cômodos tinha. Pelo mesmo perfil falso foi negociada uma estante.Dessa vez, quem se escondeu atrás do pseudônimo eram os dois homens que executariam as mortes. Chegaram a ir duas vezes até a casa dela para verificar o móvel. Na terceira visita, mataram Diênifer, o cunhado e a sobrinha. Mesmo com os cinco indiciamentos, a polícia ainda trabalha para chegar no nome dos dois homens que asfixiaram os três integrantes da família Padia dos Santos.

Contrapontos

Responsável pela defesa de Eleandro Roso, o advogado Rodrigo Salomão afirma que só irá se manifestar no processo.

Fernanda Rizzotto, em depoimento à polícia no início do inquérito, negou participação no crime. Claudiomir Rizzotto nunca foi localizado pela polícia.

À frente da defesa do ex-policial militar Luciano Costa dos Santos, o advogado Flavio Algarve afirmou que está elaborando um pedido de habeas corpus, para ingresso no Tribunal de Justiça do RS. 

"Analisamos o inquérito e sem fazer maiores comentários a respeito, nesse momento, adiantamos que não concordamos com os elementos indiciários colhidos e com os termos  da decisão que decretou a prisão preventiva. Estamos elaborando um habeas corpus, para ingresso no TJ-RS", afirmou.

A esposa do ex-PM, Monalisa, ainda não tem advogado, segundo a Polícia Civil.


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