Polícia



São Jerônimo

Mistério, contradições e falta de provas: sumiço de jovem na Região Carbonífera dura mais de dois anos

Último contato de Suelen Tais Lemos, 22 anos, com a família foi em 21 de agosto de 2018. Companheiro é um dos suspeitos, mas polícia não obteve evidências que o responsabilizem

28/09/2020 - 08h34min


Jeniffer Gularte
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Arquivo pessoal / Arquivo pessoal
Suelen desapareceu em 2018 quando tinha 22 anos

A família de Suelen Tais Lemos, 22 anos, convive há 25 meses com a falta de respostas sobre o paradeiro da jovem. O último contato foi uma ligação na noite de 21 de agosto de 2018, quando estava morando com o companheiro no interior de São Jerônimo, na Região Carbonífera. Na conversa, prometeu que dali a sete dias iria visitar a mãe e a filha em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Em depoimento à polícia, o companheiro da jovem afirmou que a deixou em uma parada de ônibus no dia seguinte, a três quilômetros da propriedade, em uma área rural. Suelen nunca chegou à casa da mãe. E não há comprovação de que ela tenha embarcado no coletivo.

A jovem morou até os 18 anos com os pais em Novo Hamburgo, no bairro Canudos, quando saiu de casa e passou a trabalhar como dançarina e garota de programa em boates na Região Metropolitana: primeiro em Eldorado do Sul, onde atuou por três anos, e depois em São Jerônimo. Na última danceteria, conheceu o companheiro, um agricultor que a levou para morar com ele em uma propriedade na localidade de Quitéria. Segundo a mãe, a dona de casa Maria Oslaine da Silva Lemos, 53 anos, o casal viveu juntos por quatro meses até a filha desaparecer.

Enquanto morava em São Jerônimo, Suelen visitava a família uma vez por semana, sempre às segundas-feiras, ligava diariamente para os pais e depositava dinheiro para os gastos da filha, hoje com três anos.

— No dia 21 (de agosto de 2018), uma terça-feira, ela ligou dizendo que na próxima segunda-feira viria nos ver. Na quarta (dia seguinte), não ligou, na quinta também não. Em dois dias, fiquei preocupada — relembra a mãe.

No sábado, em 25 de agosto de 2018, a família foi até São Jerônimo atrás do paradeiro de Suelen. O companheiro da jovem disse que ela havia indo embora. Informou que a havia deixado na parada de ônibus dias antes e não tivera mais notícias. A família procurou a polícia. Maria afirma que Suelen e o namorado estavam se desentendendo antes dela sumir.

— Eu e meu marido fomos a todas as boates de beira de estrada da Região Metropolitana atrás dela. Ela desapareceu junto com o celular, os documentos e as roupas. Não tenho mais esperanças de achá-la viva, mas tenho direito a uma resposta. Quero poder deitar no travesseiro e saber o que aconteceu. Não consigo dormir pensando onde ela pode estar — desabafa a mãe.


Contradições e falta de provas

Para a polícia, Suelen desapareceu em 22 de agosto de 2018, um dia depois de receber dinheiro do companheiro, depositar o valor para a mãe em Arroio dos Ratos, fazer compras na cidade e ir a uma janta com amigos dele.

— Ele conta que largou ela na parada de manhã cedo, mas a mãe diz que Suelen não tinha hábito de acordar de manhã. Não se sabe se ela embarcou no ônibus, se havia outras pessoas na parada. Existem muitas contradições no depoimento dele — afirma o delegado Fabiano Berdichevski, que assumiu a delegacia de São Jerônimo quando o desaparecimento de Suelen já havia completado um ano.

O companheiro é um um dos suspeitos do suposto homicídio, mas a polícia não obteve provas que o responsabilizem. O delegado explica que peritos detectaram sangue na casa e no carro do homem. Análises foram feitas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) e o laudo apontou que o material encontrado na residência não era da jovem. O confronto do DNA foi feito com informações genéticas da mãe e da filha de Suelen. Quanto ao material coletado no veículo, o resultado veio inconclusivo devido à pequena quantidade de amostra.

— Aqueles sinais de sangue não colocam Suelen como morta naquele local. É uma área rural, eu mesmo estive no local, encontrei sangue, pois ele mata carneiros — afirma o delegado.

O suspeito chegou a ser preso por posse de arma, mas foi liberado. O local, uma propriedade rural extensa, também passou por escavações e buscas com cães farejadores. Segundo o delegado, as buscas não resultaram em nenhuma prova que incriminasse o companheiro:

— Se um crime desses aconteceu naquela propriedade, é praticamente impossível desvendá-lo devido a quantidade de terras. Nas escavações, foram localizados animais mortos e fogueiras para queimar cobras.

A polícia também obteve a interceptação do registro das ligações de Suelen. O documento aponta que o companheiro da jovem tentou ligar diversas vezes para ela depois do desaparecimento e não foi atendido:

— Pode ser uma estratégia para tentar despistar a investigação. Normalmente, um assassino deixa falhas e ele não deixou de ser suspeito.

O delegado explica que a falta de agentes na DP com possibilidade de se dedicar ao caso dificulta o avanço do inquérito:

— A investigação está em andamento. Temos algumas linhas de investigação frente a este suspeito, mas há outros. Neste momento, tivemos muitas aposentadorias na DP, tenho promessa de receber novos agentes em outubro e, a partir de então, essa é uma das nossas prioridades.

A polícia também não tem convicção de que Suelen foi mesmo assassinada, já que a rede social da jovem teve um acesso após a data do desaparecimento – o que também pode ter sido feito por alguém que tivesse suas senhas. Uma segunda linha de investigação está direcionada a desafetos que Suelen tinha nas casas de prostituição onde trabalhou. Em depoimento à polícia, a mãe disse que a jovem chegou a ser ameaçada de morte por um deles:

— É o maior mistério que enfrentei na minha carreira policial. Para expandirmos a investigação em outros alvos, é importante que tenhamos mais policiais para investigar. Se ela embarcou no ônibus, pode não ter sido morta em São Jerônimo. Ela tinha pessoas que poderiam querer o mal dela fora da cidade.


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