Polícia



Na Zona Sul 

Como Polícia Civil identificou e prendeu suspeito de estuprar  mulheres durante assaltos em Porto Alegre

Autônomo de 44 anos é investigado por nove ataques nos últimos dois anos

20/10/2020 - 10h38min


Leticia Mendes

O mesmo perfil genético identificado pela perícia em estupros durante assaltos na zona sul de Porto Alegre foi o ponto de partida para que a Polícia Civil começasse a suspeitar de que estava diante de um criminoso em série. Além dos três casos cruzados inicialmente pela análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP), os investigadores encontraram mais seis episódios com características semelhantes. Os dois meses de apuração resultaram na identificação e captura no fim da tarde de sexta-feira (16) de um investigado pelos nove ataques — dois deles com duas vítimas, num total de 11 mulheres. 

A Polícia Civil não divulgou o nome do preso, mas GZH apurou que se trata de Rodrigo Camargo, 44 anos. Investigado por meses, ele teve prisão preventiva decretada pela Justiça na sexta-feira. Foi monitorado ao longo do dia e detido no momento em que regressava para casa, no bairro Santa Tereza, também na zona sul. O suspeito estava com uma Towner, identificada por imagens de câmeras durante a apuração como um dos veículos usados nos ataques — dentro dela havia mochila, faca, notebook e sacola com preservativos.

Ainda na noite de sexta-feira, as 11 vítimas identificadas pelos policiais foram chamadas e fizeram o reconhecimento pessoal do investigado.

— Nove reconheceram ele como o autor. Duas, atacadas juntas, tiveram dificuldade porque disseram que ao longo do crime ele mandava elas ficarem de cabeça baixa. Mas seguiremos apurando esse caso. Além disso, verificamos que dentro da Towner havia elementos descritos por algumas vítimas e o veículo estava sem o trinco do lado do carona, algo que conseguimos verificar na imagem do último ataque — detalha a delegada Adriana Regina da Costa, diretora do Departamento de Polícia Metropolitana.

Segundo a polícia, Camargo preferiu não prestar depoimento sobre os casos e se recusou a fazer coleta de material genético para comparação.

A investigação

Ao atender um caso de uma mulher que havia sido estuprada durante um assalto a comércio, em dezembro de 2019, uma perita do IGP, com uma década de experiência, reconheceu aquele mesmo modo de agir do autor. Dez meses antes, ela havia atendido um caso parecido também na zona sul de Porto Alegre. A vítima também havia sido violentada dentro do estabelecimento, por um homem armado com uma faca.  

A confirmação veio na sequência, quando a análise do material genético indicou que se tratava do mesmo autor. Em pesquisa no banco de DNA, os peritos descobriram um outro caso, de outubro de 2019, com o mesmo perfil genético. As semelhanças entre os três crimes foram detalhadas em relatório encaminhado à Polícia Civil. A partir dali, os policiais e peritos começaram a trocar informações. 

Ao longo dos últimos dois meses, agentes de duas delegacias — 6ª e 13 ª — e da Divisão de Inteligência do Departamento de Polícia Metropolitana se debruçaram sobre casos que apresentavam semelhanças. Traçaram o perfil psicológico de um estuprador que ainda não havia sido identificado. Sabiam que ele costumava agir da mesma forma: atacava estabelecimentos comerciais, como lojas, mercados e salões de beleza e o crime se dava no momento em que as mulheres estavam sozinhas. Após invadir o local, armado com uma faca, rendia as vítimas e usava lacres plásticos para imobilizá-las. Cometia o estupro e depois fugia levando objetos como celulares e notebooks.   

Enquanto os investigadores tentavam chegar ao nome de algum suspeito, um novo ataque aconteceu. No início de outubro, uma mulher teve a loja invadida por um assaltante armado com faca. O depoimento dela revelou que, possivelmente, tratava-se do mesmo estuprador.   

— Ele aguardou o marido dela sair da loja para entrar e cometer o crime. Neste caso, inicialmente a vítima não relatou nada sobre tentativa de estupro. Como desconfiamos que o caso era parecido, chamamos ela e ouvimos. Então ela confirmou que ele tinha tentado o estupro. Só não consumou porque não houve tempo, ele achou que o marido dela poderia voltar — detalha a delegada.

Com mais este crime, os policiais chegaram a nove casos — em cinco deles, ele conseguiu estuprar as mulheres e em quatro tentou violentá-las. Os delitos aconteceram entre 2018 e outubro de 2020, nos bairros Tristeza, Vila Nova, Cavalhada, Guarujá e Cristal. As vítimas têm entre 20 e 30 anos e perfil físico semelhante.   

— Mapeamos ocorrência por ocorrência e descobrimos pontos em comum no modo de agir dele. Eram casos que acabavam sendo investigados de forma isolada, não tinha essa ligação olhando como um todo. Estabelecemos o perfil dele, mesmo sem saber ainda de quem se tratava. O trabalho da perícia também foi incansável, auxiliou muito — afirma a delegada.   

Veículos

Os veículos usados pelo criminoso para chegar aos locais dos ataques foram essenciais para a investigação. Analisando os casos, os policiais encontraram pelo menos três carros descritos nas ocorrências: um Corsa, um Palio e uma Towner. Os agentes precisaram verificar cerca de 2 mil automóveis com estas descrições. Cruzando os tipos de carros usados, chegaram a um suspeito. 

Quando os policiais mostraram a algumas vítimas a fotografia do autônomo, morador da zona sul de Porto Alegre, elas afirmaram que se tratava do mesmo homem — nos ataques ele costumava estar com rosto descoberto, exceto no mais recente, onde usava uma máscara de proteção contra o coronavírus.   

A polícia suspeita, inclusive, que possa haver mais episódios, que não tenham sido registrados. Por isso, a investigação continuará sendo realizada.

— Muitas vítimas, principalmente quando o estupro não chega a se consumar, decidem não informar a polícia, até mesmo por vergonha. Mas é muito importante que elas denunciem. Acreditamos que possa, sim, haver mais casos nos quais ele tenha tentado estuprar mulheres. Ele agia em série — alerta a delegada Adriana.   

Histórico  

Em 2003, Camargo foi identificado como autor de um estupro durante um assalto em Viamão, na Região Metropolitana. Uma mulher teve a casa invadida por um homem armado durante a noite. O criminoso obrigou a vítima a seguir até um campo de futebol, no qual foi violentada sexualmente. 

Segundo informações do Tribunal de Justiça, possui total de 23 anos, sete meses e 11 dias de condenação por este episódio e outros crimes. Desses, já cumpriu 17 anos, oito meses e 3 dias – ainda tem cinco anos, 11 meses e oito dias para cumprir de pena – e atualmente estava em liberdade condicional.  

Como denunciar  

Caso tenha sido vítima deste tipo, procure a polícia. Isso permitirá que o caso seja investigado e até pode evitar que novas mulheres sejam vítimas. É possível registrar por meio da Delegacia Online, ir até a delegacia mais próxima ou procurar a Delegacia da Mulher. Caso tenha alguma informação, também é possível contatar a Polícia Civil pelo 197 ou usar o Disque-Denúncia no 181.  

Também é possível procurar a ajuda do Ministério Público. Em Porto Alegre, a Promotoria Especializada de Combate à Violência Doméstica e Familiar atende no Instituto de Previdência do Estado (IPE) do RS, na Avenida Borges de Medeiros, 1.945. Os telefones para contato são:  (51) 3295-9782 ou 3295-9700. O horário de atendimento atual é das 13h às 18h. No Interior, é possível buscar auxílio nas promotorias locais, tanto presencialmente quanto por telefone. A denúncia também pode ser realizada pelo site do MP (neste link)


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