Sete meses depois
Sem contato corporal, visitas são retomadas em penitenciária de Canoas
Visitantes jogaram no lixo a máscara com que chegaram à Pecan e receberam outra, fabricada no local, imediatamente. Luvas descartáveis também foram distribuídas
Suspensas desde meados de março, devido à pandemia, as visitas presenciais aos 2,7 mil detentos da Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) foram retomadas na manhã deste sábado (17). Das 8h ao meio-dia, cerca de 120 familiares e amigos, com horário previamente agendado, entraram no complexo em grupos de 10 por vez, para permanência de uma hora.
Agentes orientaram os cuidados com a higiene desde o portão. O visitante tirava a máscara com que chegava e a colocava no lixo, recebendo outra, confeccionada pelos apenados, imediatamente. Luvas descartáveis também foram distribuídas. A temperatura era aferida. Todos passaram por detector de metais e scanner corporal. No piso e nas mesas, marcações em branco e amarelo sinalizavam o distanciamento mínimo a ser observado.
Visitantes e presos sentaram-se frente a frente e não puderam se tocar. Rosa Veiga Pereira, 43 anos, técnica em seguros, reencontrou o filho José Carlos, 21 anos, detido por homicídio, depois de sete meses de separação. Durante esse período, houve apenas um contato virtual, via Skype — as demais possibilidades não se encaixaram nos horários de trabalho da mãe.
— Não abraçar é frustrante, mas pude ver ele. Estou radiante — disse Rosa.
José Carlos contou que está feliz com o curso profissionalizante que realiza na Pecan e recebeu um recado da namorada, repetido pela mãe a ele: "Meu amor, estou bem. Espero em breve estar aí contigo".
A dona de casa Bruna Santos, 31 anos, reviu o irmão, detido também por homicídio. Ela levou notícias da mãe, que tem limitações em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC), e dos demais parentes.
— Ele está bem, graças a Deus. Estou contente por ter visto ele — comentou Bruna ao sair.
O apenado que recebeu Bruna foi Christian Matos dos Santos, 23 anos. À reportagem, ele contou ser muito apegado à família, o que fez com que os últimos meses tenham sido difíceis. Recepcionar a irmã, segundo o preso, representou uma dose de força e motivação:
— É bom saber que tem alguém que ainda acredita em nós.
De acordo com o diretor do complexo da Pecan, Loivo Machado, a visitação transcorreu sem problemas. Duas pessoas foram impedidas de entrar por terem se atrasado.
Neste domingo (18), outros 120 visitantes, agendados com antecedência, são aguardados. O ingresso de crianças, gestantes, idosos e demais integrantes de grupos de risco está proibido. Além dos finais de semana, as quartas e quintas-feiras também serão dias de visita.