Polícia



Vale do Sinos

Quem era a idosa morta por engano quando estava a caminho de culto em Novo Hamburgo

Homem de 28 anos foi preso em flagrante. Polícia Civil tenta identificar segundo suspeito do crime

05/11/2020 - 10h33min


Jeniffer Gularte
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Arquivo pessoal / Arquivo pessoal
Natural de Camaquã, Leonor tinha 67 anos

A diarista Leonor Gonçalves Damasceno, 67 anos, estava a poucos passos da casa onde participaria de um culto evangélico no começo da noite de sábado (31) quando foi atingida por um tiro no abdômen por volta das 19h, no bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Naquele dia, a idosa, que costumava ir para as celebrações de bicicleta, decidiu ir a pé para acompanhar outros fiéis. Dez minutos antes das orações começarem, três homens que estavam bebendo em frente a uma oficina mecânica implicaram com um adolescente que estava no mesmo grupo que Leonor.

O trio entendeu que o jovem, com deficiência mental, havia os provocado. Em uma tentativa de revide, tentaram atropelar os fiéis e atirar no adolescente. A bala acertou Leonor. A diarista morreu a caminho do hospital. A Brigada Militar (BM) prendeu em flagrante um homem de 28 anos que estava com uma pistola, drogas e dinheiro. O suspeito, investigado por homicídio, foi reconhecido por testemunhas. A Polícia Civil tenta identificar um segundo participante do crime.

— Leonor foi vítima por acidente. Os autores se indignaram com o adolescente e passaram atirando, mas ela não era o alvo — afirma a delegada Ariadne Langanke, titular da delegacia de homicídios de Novo Hamburgo.

Natural de Camaquã, no sul do Estado, Leonor vivia há mais de 40 anos em Novo Hamburgo. Há 37 anos era fiel da igreja evangélica. No bairro Santo Afonso, era conhecida por ser irmã da Igreja Jesus é Amor. Para uma geração de crianças, deu aulas voluntárias aos domingos ensinando os pequenos a orar, cantar e ler a Bíblia.

— É aquele tipo de pessoa que só trazia alegria para gente. Dava gosto de ouvi-la falar. Era uma mulher ativa, fazia faxinas, uma menina para a idade dela. Com a saúde que ela tinha, esperávamos que ela chegasse perto dos cem anos —  descreve o pastor Irani Ciriboli, 61 anos.

"Jurei que era infarto fulminante", diz pastor

O líder da Igreja Jesus é Amor estava na casa onde ocorreria o culto. Ouviu os disparos, correu para a rua e achou que a diarista tivesse infartado pelo susto dos tiros. Não havia marca de sangue ou perfuração no corpo.

— Ela morreu nos braços da minha esposa, fiz massagem cardíaca, jurei que era infarto fulminante. Não sei quem atirou, não vi nada. Não vi uma gota de sangue. Ajudamos a colocá-la dentro do carro e depois soubemos que era bala — diz.

Viúva, Leonor criou três filhos homens sozinha, dois já falecidos. Vivia com o neto de 17 anos. O único filho vivo, o auxiliar de produção Fernando Damasceno, 40 anos, temia perder a mãe durante a pandemia de coronavírus, mas jamais supunha que ela poderia ser vítima de uma bala perdida:

— Nunca imaginei que ela seria tirada de mim assim. Não tenho palavras para a pessoa que ela era. A comunidade está chocada. Minha mãe foi uma pessoa que sofreu muito, perdemos um irmão com problemas de drogas, mataram ele, e ano passado perdi outro irmão com depressão. Recém estávamos nos recuperando e acontece isso. Era uma mulher muito ativa, que andava de bicicleta por tudo. Criou os dois netos.

Segundo amigos e familiares, Leonor não tinha medo da violência no bairro e não se intimidava com a presença de estranhos.:

— Muito oramos pela gurizada do mundo do crime na nossa igreja. Se eu fizesse um culto debaixo de uma árvore, podia estar quem fosse, ela não tinha medo nenhum. Era nossa amigona para todas as horas. Uma pessoa que se tivesse R$ 50 e outro precisasse, ela repartiria — afirma o pastor.

Leonor dedicava boa parte da rotina às atividades da igreja. Uma amiga que estava presente no momento do crime, mas falou com GZH na condição de anonimato, afirma que a diarista acompanhava todos os cultos e era uma referência na comunidade evangélica do bairro:

— Era um exemplo, alguém que nos transmitia calma e tranquilidade. Uma pessoa esforçada e, no que precisasse, nos ajudava. Foi horrível o que aconteceu. Na hora eu me senti sem chão. Ainda não caiu a ficha. Está sendo difícil para todo mundo, era um dos pilares da nossa igreja, braço direito do pastor.


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