Polícia



Feminicídio

Réu por matar cunhada e esconder corpo, homem vai a júri na próxima semana em Cachoeirinha

Evandro Ferreira, 44 anos, está preso desde setembro de 2018, quando confessou ter matado Elaine Silva da Silva, 52 anos

05/02/2021 - 07h00min


Leticia Mendes
Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Elaine, 52 anos, e o cunhado Evandro Ferreira

Um caso de feminicídio que começou com o desaparecimento de um homem e sua cunhada irá a júri na próxima semana na Região Metropolitana. Evandro Ferreira, 44 anos, está preso desde setembro de 2018, quando confessou ter matado Elaine Silva da Silva, 52 anos, dentro de casa em Cachoeirinha. O corpo dela foi localizado dois dias após o sumiço deles, em Gravataí.  

A sessão do júri está prevista para a próxima terça-feira (9), em Cachoeirinha. Ferreira responde pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, devido ao uso de asfixia e pelo feminicídio, além de ocultação de cadáver. Quando foi preso, quatro dias após o crime, em Cruz Alta, no noroeste do Rio Grande do Sul, para onde viajou de ônibus, ele confessou ter matado a cunhada.  

Na manhã de 11 de setembro de 2018, os colegas de Elaine na revenda onde ela trabalhava na área administrativa há cerca de 20 anos estranharam seu atraso. A funcionária não tinha faltas em seu histórico e era pontual. Elaine não tinha perfis em redes sociais e nem usava celular. Alertada pela empresa, a família tentou contato com Ferreira, para saber se ele havia deixado a cunhada no trabalho, mas ele não atendeu. O desaparecimento dos dois passou a ser investigado.  

Elaine e Ferreira residiam no mesmo endereço, no bairro Parque da Matriz, em Cachoeirinha. Ela no andar de cima, com os pais e uma irmã, e Evandro no piso inferior, com a esposa e a filha adolescente. Imagens de câmeras próximas da casa captaram o momento em que o instrutor de danças havia deixado a residência em seu Siena vermelho. Pelas gravações não era possível perceber se a cunhada estava na carona. Todos os dias, ele costumava leva-la até a revenda, a cerca de dois quilômetros dali, e depois seguia para um curso profissionalizante.  

Dois dias depois do sumiço, o corpo de Elaine foi encontrado em um matagal de Morungava, na área rural de Gravataí, ao lado do carro de Ferreira. O Siena estava com o porta-malas aberto, e o corpo dela em um mato, coberto por capim. Perto, estava a bolsa de Elaine, com documentos e dinheiro. Moradores relataram aos policiais que um homem "com as roupas sujas" teria sido visto circulando pela região.  

A investigação descobriu na época que, após sair de casa, Ferreira seguiu até um motel em Cachoeirinha. Cerca de uma hora depois, saiu e disse a funcionárias do estabelecimento que a mulher que aguardava não havia chegado.  

A confissão 

Tanto à Polícia Civil quanto ao Judiciário, Ferreira confessou ter matado a cunhada. Ele alegou que o crime aconteceu durante uma briga dentro de casa. Ele contou que deixou o corpo de Elaine no matagal e depois ficou hospedado em um hotel em Taquara. Na sequência, embarcou em um ônibus até Cruz Alta, onde acabou preso no dia 15 de setembro.  

Segundo a acusação, o crime teria acontecido após a vítima ameaçar que contaria sobre o relacionamento amoroso de ambos para sua irmã, esposa de Ferreira. Ele teria esganado Elaine até a morte. 

O Ministério Público enviou uma nota sobre o caso, onde afirma que “demonstrará aos jurados que o réu, após ter matado a vítima, em um contexto que configura feminicídio, fugiu do local do crime e ocultou o cadáver”. O promotor Marcelo Bertussi atuará no caso.  

A defesa 

Os advogados Tatiana Assis Machado Bersagui e Pedro Corrêa – contratado exclusivamente para o júri – serão responsáveis pela defesa de Ferreira. Corrêa afirma que a tese que será apresentada é de um homicídio privilegiado, por uma injusta provocação ou forte emoção. A defesa pretende afastar as duas qualificadoras, inclusive o entendimento de que houve um feminicídio.  

— Eles tinham uma relação esporádica, de cunho estritamente sexual. Eles tiveram um momento de intimidade. Não existiu a figura do amante, existiu uma relação, que desencadeou numa tragédia. Ele nunca negou. A provocação foi uma chantagem, é o que posso adiantar no momento — afirma o criminalista.  

Sobre o momento do crime, o advogado afirma que os dois teriam entrado em luta corporal, após Elaine avançar no cunhado, e ele teria apertado o pescoço dela. A defesa também pretende sustentar que não houve ocultação de cadáver.  

— Não existiu. Ele deixou a vítima perto do carro dele. Não estava ocultando nada. Ele deixou ali e saiu a pé, caminhando. Isso denota o total desequilíbrio emocional e o transtorno que estava vivendo — argumenta Corrêa.  

O júri 

A sessão está prevista para começar às 9h, no fórum de Cachoeirinha. Segundo o Tribunal de Justiça, devem ser ouvidas duas testemunhas de acusação e três de defesa.  


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