Polícia



Zona Norte 

Em depoimento, pai de santo afirma que chás eram usados para mediunidade e nega ter abusado de mulheres

Três vítimas relatam ter sido dopadas com uma infusão e violentadas durante atendimentos no bairro Rubem Berta

12/03/2021 - 07h00min


Leticia Mendes
Polícia Civil / Divulgação
Policiais cumpriram mandados no bairro Rubem Berta

Ouvido ao longo de cerca de duas horas, o pai de santo de 51 anos preso por suspeita de abusos sexuais durante rituais religiosos na zona norte da Capital negou ter cometido os crimes. Pelo menos três casos foram relatados à equipe da Delegacia da Mulher de Porto Alegre. 

As mulheres afirmam ter sido violentadas após tomarem um chá e ficarem sonolentas. A polícia suspeita que algum tipo de medicamento era adicionado à infusão, como forma de sedar as vítimas.  

O homem – que não teve a identidade revelada pela polícia, em razão da Lei de Abuso de Autoridade – foi detido na noite desta quarta-feira (11). Ele foi localizado pelos policiais em frente a uma residência no bairro Jardim do Bosque, em Cachoeirinha. 

 —  Ele ainda tentou escapar, fugindo pelo telhado de uma casa, mas acabou capturado — detalha a delegada Jeiselaure Rocha de Souza, titular da Delegacia da Mulher da Capital. 

No fim da manhã desta quinta-feira (12), o pai de santo foi ouvido na companhia de seu advogado. O suspeito confirmou que realiza as consultas e alegou já ter realizado curas espirituais de doenças como câncer de mama e de próstata. Disse que atua na área há cerca de 10 anos e em razões dessas “curas espirituais” era procurado por essas mulheres. Ao longo deste período, teria atuado tanto na zona norte da Capital quanto em municípios da Região Metropolitana. Até o cumprimento dos mandados, ele seguia realizando atendimentos. Em relação aos abusos, negou que os fatos tenham acontecido. 

As mulheres, com idades entre 24 e 46 anos, contaram à polícia que os episódios aconteceram nas terças-feiras nos anos de 2019 e 2020. Elas relataram que tomaram um chá, que foi oferecido pelo pai de santo, e que, na sequência, foram encaminhadas por ele até uma área onde havia algumas macas. Elas relatam que, após tomar a bebida, começaram a se sentir sonolentas e, neste momento, teriam acontecido os abusos. O homem teria retirado as roupas das vítimas e tocado em suas partes íntimas.   

Durante o cumprimento de mandados de busca, na semana passada, no bairro Rubem Berta, na casa do suspeito e em centros onde ele realizava os atendimentos, a Polícia Civil apreendeu medicamentos controlados, que têm entre os efeitos a sonolência. Para a investigação, é um indicativo de que esses remédios podem ter sido usados para dopar as vítimas. Uma infusão produzida com chás também foi apreendida. 

 — Ele negou as acusações e disse que os medicamentos foram doados, por pessoas que ele não quis indicar quem foram. Ele não tem receitas, esses medicamentos não têm procedência. São medicações controladas, que causam dependência. Sobre o chá, disse que era uma infusão com ervas e nega que tenha colocado medicação. Disse que essas ervas eram para transmitir uma energia e abrir a mediunidade — diz Jeiselaure.  

Segundo a delegada, os chás apreendidos foram encaminhados para a perícia. No entanto, a polícia acredita que a medicação fosse adicionada somente pouco antes da bebida ser consumida pelas mulheres:  

— O relato delas é muito similar. Ele fornecia a infusão com ervas e pouco depois elas já ficavam com sono.  

A polícia obteve uma conversa de WhatsApp entre o suspeito e uma das vítimas, na qual a mulher questiona o pai de santo sobre o que aconteceu. Ela diz que se sentiu incomodada com o fato de ele ter tocado em suas partes íntimas e que achou estranho.  

 — Nesses momentos, ele dizia que não era ele e sim a entidade — diz a delegada.  

O pai de santo também negou que recebesse dinheiro das mulheres para realizar os atendimentos. Ele afirmou se mantinha por meio de doações para uma organização da qual faz parte. O suspeito foi preso de forma preventiva pelo crime de estupro de vulnerável. Até o momento, três mulheres procuraram a polícia, mas os investigadores acreditam que existam mais vítimas. 

— Esperamos que, com a prisão dele, mais vítimas se encorajem. Ele atuava há 10 anos. Acreditamos que outras tenham passado pelo mesmo e não tenham denunciado — diz a delegada.  

A polícia ouvirá ao longo dos próximos dias mais pessoas, inclusive algumas delas indicadas pela defesa. A expectativa é que o inquérito seja concluído até o fim da semana que vem.  

Contraponto 

O advogado Cesar A. Giacobbo de Lima, responsável pela defesa do preso, encaminhou nota à reportagem sobre os supostos abusos no centro religioso, onde afirma que comprovará a inocência do cliente. 

"A defesa do investigado já está apresentando as provas na delegacia para provar a sua inocência e que nenhum ato ilícito foi realizado. Estamos colaborando com as investigações para demonstrarmos a verdade sobre os fatos."  

Denuncie

Quem tiver informações sobre o caso ou tiver sido vítima desse tipo de crime pode entrar em contato com a Polícia Civil, pessoalmente ou através do WhatsApp (51) 98444-0606. A Delegacia da Mulher da Capital está localizada junto ao Palácio da Polícia, na Rua Professor Freitas e Castro, bairro Azenha. Os telefones são (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197.  


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