Polícia



Zona Norte 

 Pai de santo é investigado por suspeita de abusar sexualmente de mulheres em Porto Alegre

Medicamentos e infusão suspeita de provocar sonolência foram apreendidos pela polícia

04/03/2021 - 07h00min


Leticia Mendes
Polícia Civil / Divulgação
Policiais cumpriram mandados nesta terça-feira, no bairro Rubem Berta

Uma série de casos suspeitos de abuso durante rituais religiosos em Porto Alegre é investigada pela Polícia Civil. Pelo menos três mulheres relatam ter sido vítimas do mesmo homem: um pai de santo de 51 anos morador da Zona Norte. Nesta terça-feira (2), em cumprimento de mandados de busca e apreensão no bairro Rubem Berta, os agentes da Delegacia da Mulher da Capital localizaram medicamentos e uma infusão suspeita de ser usada para provocar sonolência.  

Segundo a delegada Jeiselaure Rocha de Souza, as mulheres procuraram a polícia em momentos diferentes, mas com relatos semelhantes. Elas contavam que tinham procurado o atendimento do mesmo religioso, no bairro Rubem Berta, tentando a cura para doenças ou problemas pessoais. As mulheres descreveram que esses atendimentos aconteciam todas as terças-feiras e que o pai de santo lhes oferecia um copo de água com ervas, o que normalmente não acontecia no ritual dos outros dias, que elas também frequentavam. 

— Ele oferecia essa bebida, trancava a porta e iniciava as sessões, com pretexto de curar as doenças. Essa infusão ele trazia de casa, já pronta. Elas bebiam e isso causava sonolência. Elas acabavam dormindo, perdendo os sentidos. E, nessa hora, aconteciam os abusos — detalha a delegada.  

As mulheres contaram à polícia que, no momento em que estavam sonolentas, sem conseguir reagir, o homem retirava suas roupas e passava a tocar em suas partes íntimas. Uma infusão semelhante à descrita pelas vítimas foi apreendida durante as buscas. Também foram encontrados diversos medicamentos de uso controlado que induzem o sono. A suspeita da polícia é de que alguns desses possam ter sido adicionados à bebida, provocando a sonolência nas mulheres. Todo material apreendido no local foi encaminhado para a perícia.  

Polícia Civil / Divulgação
Medicamentos foram apreendidos

Outro ponto que as vítimas relataram em comum é que o homem teria dito a elas para que não procurassem nenhum médico, pois resolveriam seus problemas ali. Ao ser questionado pelas mulheres sobre os abusos, teria atribuído os atos a uma entidade. 

— Para algumas vítimas, ele dizia que ela tinha uma maldição. Ele dizia que se ela contasse o que acontecia dentro daquele ritual, a entidade faria mal para a família dela e que toda a família cairia em desgraça. Então, ele abusou muito da fé dessas mulheres, que se sentiram altamente violentadas, com razão. Quando as vítimas tentavam se relacionar com alguém, ele também dizia que esses homens não prestavam. Então havia também todo um contexto de violência psicológica — explica Jeiselaure. 

Suspeita de mais casos

A polícia não conseguiu encaminhar as vítimas, mulheres com idades entre 24 e 46 anos, para o exame toxicológico. Isso porque já havia transcorrido o período para realização desse tipo de perícia, que poderia ajudar a verificar se elas tinham ingerido alguma substância sedativa. Os casos relatados à polícia aconteceram, conforme as vítimas, nos anos de 2019 e 2020. A investigação teve início no fim do ano passado. A delegada acredita, no entanto, na existência de mais vítimas que não tenham relatado os casos, seja por medo ou vergonha.  

— Tenho certeza de que existem mais vítimas. E é muito importante que elas nos procurem. É alguém por quem elas têm respeito, mexe com a crença. Elas acreditam que aquele ritual vai ajudar a melhorar a vida delas. Claro que existem pessoas de todas as religiões que são muito sérias. Mas também existem outras, com esse perfil, que abusam inclusive da fé e da crença — diz a delegada.  

Ainda segundo a polícia, a investigação é pelo crime de estupro de vulnerável, já que as vítimas não teriam condições de apresentar resistência, em razão da sonolência provocada. O suspeito deverá ser ouvido pela Polícia Civil nos próximos dias. O nome do investigado não foi divulgado em razão da Lei de Abuso de Autoridade.  

Denuncie 

Quem tiver informações sobre o caso ou tiver sido vítima desse tipo de crime pode entrar em contato com a Polícia Civil, pessoalmente ou através do WhatsApp (51) 98444-0606. A Delegacia da Mulher da Capital está localizada junto ao Palácio da Polícia, na Rua Professor Freitas e Castro, bairro Azenha. Os telefones são (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197.  


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