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Luto

Orgulho dos filhos e dedicado à família: quem era soldado morto em assalto em Pelotas

William Santos dos Santos, 30 anos, levou um tiro no peito durante ação criminosa em mercado no bairro Três Vendas

21/05/2021 - 07h00min


Jeniffer Gularte
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Brigada Militar / Divulgação
Soldado William Santos dos Santos, 30 anos, estava na BM desde 2017

Integrante do 4ª Batalhão de Polícia Militar (BPM), em Pelotas, no Sul do Estado, o soldado William Santos dos Santos, 30 anos, entrou na carreira militar por influência do irmão mais velho, que atua no Corpo de Bombeiros. Santos vem de uma família de brigadianos— tem um segundo irmão que atua na Brigada Militar em Porto Alegre — e teve a trajetória profissional e o sonho de erguer uma agropecuária para a esposa interrompidos no começo da noite desta quinta-feira (19).

O policial estava à paisana em um mercado em Pelotas quando um homem chegou anunciando assalto. O PM reagiu, foi atingido com um tiro no peito e não resistiu. Dois indivíduos foram presos pelo crime de latrocínio e confessaram informalmente o delito à polícia, um deles havia sido solto uma semana antes por decisão judicial.

Na corporação desde 2017, William fazia parte da equipe da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicleta (Rocam) da Força Tática do 4ª BPM.

— Pela postura, modo de trabalho, seriedade, o convidei participar da Força Tática. O perfil dele era de companheirismo, dedicação e profissionalismo. Extremamente preocupado com a família e os dois filhos — afirma o tenente Mauricio André Freitas Gonçalves, comandante do pelotão da Força Tática de Pelotas.

O chefe de William explica que ele estava à paisana no momento em que foi morto, era horário de folga e foi ao mercado como cliente. Os colegas de equipe não aceitam a perda de um policial tão jovem.

— A diferença é que antes de efetuar o disparo, o policial avalia o cenário todo e o delinquente, não. Aperta o gatilho sem medir o que vai acontecer. Com certeza o policial pensou nos outros antes de disparar. A decisão de tiro é algo muito forte. E são milésimos de segundos que tem para avaliar — explica Gonçalves.

William morava com a esposa e os dois filhos, um menino de oito anos e uma menina de cinco. Colegas contam que o mais velho se orgulhava de ver o pai fardado e ficava eufórico toda vez que o soldado passava com a viatura na frente de casa. No dia em que passou a integrar a Rocam, as crianças gravaram um vídeo comemorando a nova fase profissional.

— Era o orgulho dos filhos e era nosso orgulho também. Atuávamos juntos, é uma abalo grande. Uma sensação de insegurança para nós mesmos, para quem teria que proporcionar segurança. A criminalidade está cada vez mais violenta e sem pudores — desabafa o soldado Wagner Pereira Lisboa, comandante da Rocam de Pelotas.

Nos horários de folga, Willian estava construindo um imóvel de alvenaria em frente a sua casa para ser uma agropecuária para a esposa. Antes de entrar na BM, trabalhou com o pedreiro. A estrutura está erguida e ele estava animado com a fase de acabamentos. Na terça-feira (18), ele contou para o colega que estava terminando de rebocar as paredes:

— Ele estava fazendo com as próprias mãos, era o projeto atual dele. Seria um sustento a mais para a família. Era uma pessoa fora do normal. Frequentávamos a casa um do outro e ontem tive que dar essa notícia para a família dele.

William é o terceiro policial militar morto no Rio Grande do Sul em 2021. No ano passado, nenhuma execução de PM foi registrada. Em 6 de março, o soldado Jhonatan Grendene Caverzan Maximovitz foi atropelado por criminosos que arremessavam objetivos para o presídio de Erechim. E em 1º de maio, o segundo sargento Adair de Melo Porto foi morto em São Nicolau ao fazer uma abordagem de trânsito.

O comandante-geral da Brigada Militar, coronel Vanius Santarosa, que se deslocou a Pelotas para participar do velório de Santos, não atribui uma causa específica as três mortes recentes:

— Foram fatalidades. Nossas ações estão cada vez mais voltadas para redução de indicadores criminais, nossos policiais têm equipamento com qualidade de ponta, viaturas semi-blindadas, coletes. Os três casos são distintos entre si. Os criminosos estão cada vez mais audazes e optando pelo enfrentamento cada vez mais. E infelizmente tivemos a perda do colega.



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