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Vítimas adolescentes

Polícia investiga homem por suspeita de abuso sexual de amigas da filha em Cachoeirinha

Famílias de quatro garotas, entre 13 e 14 anos, registraram ocorrência e outras duas foram intimadas a depor. Situações teriam acontecido quando vítimas tinham entre oito e 10 anos

01/05/2021 - 07h00min


Jeniffer Gularte
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Lauro Alves / Agência RBS
Famílias das vítimas registraram ocorrência na 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha

Um homem de 54 anos de Cachoeirinha, na Região Metropolitana, é investigado pela Polícia Civil por suspeita de ter abusado de meninas entre oito e 10 anos. Conforme o relato das vítimas, que hoje são adolescentes com idades entre 13 e 14 anos, o homem tocava em suas partes íntimas quando elas iam até a casa do suspeito para visitar a filha dele. O caso vem sendo apurado desde 19 de abril, e o suspeito está solto. Quatro famílias já registraram ocorrência e outras duas foram intimadas pela polícia a depor nesta semana. Em uma troca de mensagens por rede social, a qual GZH teve acesso, entre o suspeito e uma das vítimas, o homem chama uma das meninas de "delícia".

— Ele passava a mão, surpreendia as meninas em situações em que elas não podiam se defender e se aproveitava dessa fragilidade. Acontecia quando elas estavam dormindo, indo trocar de roupa, estavam tomando banho de piscina. Ele tocava nas partes íntimas delas. E essa mensagem é mais um indício disso — afirma o delegado Anderson Spier, da 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha.

Advogada das famílias, Tatiana Borsa  afirma que tem informação de ao menos 10 meninas que passaram por situações semelhantes, mas algumas estão com medo de denunciar. Vítimas e suspeito moram no mesmo bairro em Cachoeirinha.

— Ele usava a filha como isca para chamar as meninas — resume Tatiana.

As histórias vieram à tona a partir do relato de uma garota. A adolescente de 13 anos pediu para a mãe levá-la ao psicólogo quando revelou que havia sido abusada pelo pai da amiga duas vezes. Segundo ela, na primeira vez, tinha oito anos, estava brincando com a amiga na casa dele quando o homem a chamou para ir até o quarto. Fechou a porta e tocou em suas partes íntimas. A menina conta que não soube como reagir. Conforme o relato da adolescente, o homem afirmou que aquilo deveria ficar em segredo.  No segundo episódio a garota tinha 11 anos e estava dormindo na casa da amiga quando, dormindo, foi acordada ao perceber que o suspeito estava com as mãos em suas genitálias. 

Entrei em desespero. Era a única casa que ela ia, minha filha não vai até a padaria sozinha, a levamos e buscamos da escola. A gente conhece ele há 18 anos. Era sempre prestativo, confiávamos nele. Ele usava a filha para convencer as amigas a não contar.

MÃE DA VÍTIMA

— Ouvi tudo isso e entrei em desespero. Era a única casa que ela ia, minha filha não vai até a padaria sozinha, a levamos e buscamos da escola. A gente conhece ele há 18 anos. Era sempre prestativo, confiávamos nele. Quando ela contou, vinha triste e chateada de vários dias, pediu perdão, desculpa por ter sido abusada. Ele usava a filha para convencer as amigas a não contar — relata a mãe.

A família registrou ocorrência e o relato se espalhou entre os vizinhos. Em um grupo de WhatsApp, outras adolescentes da mesma faixa etária começaram a admitir que também haviam vivido situações semelhantes e foram descobrindo história umas das outras.

— Minha filha tinha medo de contar, está apavorada. Não quer mais dormir na nossa casa por medo de que ele apareça. Nosso sentimento é de culpa. A privamos de tanta coisa e isso aconteceu na nossa cara — afirma a mãe.

Lauro Alves / Agência RBS
Caso é investigado pelo delegado Anderson Spier, titular da 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha

As vítimas foram encaminhadas para perícia psicológica no Centro de Referência no Atendimento Infanto-Juvenil (CRAI) no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, em Porto Alegre. O laudo deve ser concluído nesta semana e será anexado ao inquérito.

— A perícia vai constatar do abuso de forma psicológica porque o sofrimento delas é inegável, mesmo depois de tanto tempo. No crime sexual a palavra da vítima é preponderante. É um crime que acontece dentro de casa, na intimidade, não tem testemunhas e que causa sofrimento tão grande que fica fácil constatar em perícia. São efeitos nefastos — argumenta o delegado.

Ao intimar outras famílias a prestar depoimento, a polícia tenta avançar na obtenção de novos relatos de abuso. O delegado faz um apelo para que os pais das vítimas registrem ocorrência, o que pode auxiliar na futura responsabilização do suspeito:

No crime sexual a palavra da vítima é preponderante. É um crime que acontece dentro de casa, na intimidade, não tem testemunhas e que causa sofrimento tão grande que fica fácil constatar em perícia. São efeitos nefastos.

ANDERSON SPIER

Delegado de Cachoeirinha

— Os pais sabem quem são, adolescentes também sabem. Elas precisam de atendimento especializado, isso fica uma marca para o resto da vida. O atendimento especializado, seja através de um psicólogo ou assistência social, é o que vai fazê-las ter uma vida normal no futuro. Elas carregam um peso e um sofrimento que reflete no baixo rendimento escolar, na dificuldade de se relacionar, falta de segurança. É uma série de efeitos colaterais graves que devem ser tratados.

Até o momento, o homem é investigado por estupro de vulnerável que teria sido cometido contra quatro meninas. A polícia tentou ouvi-lo no dia 22 de abril, em Cachoeirinha, mas a ida do suspeito à delegacia gerou tumulto devido à presença de familiares das vítimas. Por isso, prestou depoimento em Porto Alegre, na mesma data, quando negou os crimes e disse que não sabe por que as adolescentes estão fazendo esses relatos. Afirmou que nunca abusou e que elas costumavam frequentar sua casa devido a amizade com sua filha.

Na semana passada, o pedido de prisão preventiva do suspeito foi negado pela Justiça. Os investigadores irão analisar se farão nova tentativa a partir da chegada dos laudos psicológicos das vítimas. Neste momento, está em vigência uma medida cautelar que impede o suspeito de chegar perto das adolescentes e dos seus familiares.


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