Polícia



Porto Alegre

"Não era uma perseguição para matar o PM, a família não é uma facção", diz advogado de parentes dos quatro mortos por policial

Soldado deu tapa em uma das mulheres da família durante aniversário, conforme relato dos parentes das vítimas

16/06/2021 - 07h00min

Atualizada em: 16/06/2021 - 07h00min


Jeniffer Gularte
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Acervo pessoal / Acervo pessoal
As vítimas Alexsander 26 anos (de branco), Cristiano, 38 anos, (de cinza), Christian, 33 anos (de boné vermelho) e Alisson, 28 anos (com a camisa do Internacional)

Os familiares das vítimas da chacina em uma pizzaria na zona norte de Porto Alegre no final da madrugada de domingo (13) falaram à polícia nesta terça-feira (15). Os relatos mais aguardados eram o das duas mulheres que estavam ao lado dos quatro homens mortos por um policial militar

As vítimas são os irmãos Cristiano Lucena Terra, 38 anos, e Christian Lucena Terra, 33 anos. O sobrinho deles, Alexsander Terra Moraes, 26 anos, e o primo Alisson Corrêa Silva, 28 anos. Os quatro foram enterrados nesta segunda-feira (14), em Porto Alegre. A polícia ouvirá ao longo do dia a esposa de Christian e a sobrinha dele.

No momento em que começou a discussão com o PM, oito pessoas estavam em uma casa do bairro Mário Quintana comemorando o aniversário de 41 anos de uma familiar: as quatro vítimas, duas idosas e as duas mulheres que aparecem no vídeo da câmera de segurança da pizzaria. Junto com os homens, elas foram atrás do policial e presenciaram a chacina.

A versão da família, segundo o advogado Ismael Schmitt, é de que o PM, sem farda, invadiu a festa de aniversário por volta das 5h, entrou na casa da matriarca, mãe de Christian e Cristiano, com arma em punho falando "polícia, polícia, desliga o som". Os quatro homens estavam dentro de casa, sentados em uma mesa, quando o PM chegou. As duas mulheres baixaram a música e, na saída, o policial teria dado um tapa em uma delas.

— Ele sai portão a fora e, dentro da casa, começaram a elaborar o que tinha acontecido: entrou um cara, apontou arma, deu tapa em uma delas. Decidiram que iriam achar esse cara e chamar a polícia. Ele apontou a arma para todo mundo. Queriam ver se era policial mesmo. Nunca viram ele na vida. Não sabiam quem era _ relata o advogado.

O PM correu para se esconder dentro da pizzaria, na Avenida Manoel Elias, e o grupo foi atrás. Christian, que aparece de touca laranja no vídeo, visualiza que o PM está dentro do banheiro do delivery. Ele para no corredor em frente a porta e abre os braços para os demais familiares não passarem por ele. Alexsander, que era o mais exaltado com a conduta do PM, furou esse bloqueio e foi em direção ao soldado dentro do banheiro. Instantes depois, foi alvejado. No momento em que o sobrinho tombou, Christian, segundo a família, teria dito: "deu de tiro, preciso socorrer ele".

— Aí começa a chacina. É um absurdo a tese de legítima defesa. Ele foi atirando em todo mundo. O cara empilha corpos. Foi um massacre. Quando ele terminou de matar os homens, mirou a arma para a mulher e a ameaçou — diz Schmitt.

É um absurdo a tese de legítima defesa. Ele foi atirando em todo mundo. O cara empilha corpos. Foi um massacre. Quando ele terminou de matar os homens, mirou a arma para a mulher e a ameaçou.

ISMAEL SCHMITT

Advogado da família das vítimas

A família organiza um protesto para o final da tarde desta terça-feira, em frente ao posto da BM na Avenida Protásio Alves, no Alto Petrópolis. A idosa que é dona da casa onde a festa ocorria vai registrar ocorrência contra o PM por invasão de domicílio.

— Foi ela que chamou a família para a festa, eram unidos, estavam sempre juntos. Na festa só tinham parentes, não havia pessoa estranha. São moradores antigos na rua, ninguém da vizinhança conhece o PM. O que aconteceu foi um completo absurdo. O policial diz que a área é conflagrada pelo tráfico de drogas. Não era uma perseguição para matar o PM, a família não é uma facção criminosa. Havia uma revolta quanto à conduta dele. Em momento algum foi cogitada a morte dele, estavam desarmados. Queriam que o cara desse conta do que fez com a sobrinha deles — argumenta o advogado.

Nenhuma das vítimas tinha antecedentes policiais. Christian trabalha há 15 anos como em uma loja de tapetes, onde era subgerente, Alisson iria se formar no final do ano em Contabilidade pela Fapa. Alexsander era instalador de janelas e Cristiano, servente de pedreiro.

Ainda na manhã de domingo, o soldado se apresentou à polícia, entregou a arma e alegou legítima defesa. As mortes são investigadas pela 5ª Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP). O delegado Gabriel Lourenço adianta que a polícia já conseguiu refazer todo o trajeto do PM naquela madrugada — o que deve ser formalizado com novo depoimento do policial, que será ouvido após a família. Na Brigada Militar, um inquérito policial militar (IPM) foi aberto para verificar a conduta do soldado.


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