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Vale do Sinos

 Piscinas de papel: clientes afirmam que compraram produtos e, mesmo após pagamento, não receberam

Pelo menos três pessoas dizem ter quitado equipamentos que não foram instalados

24/06/2021 - 07h00min


GZH
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Anselmo Cunha / Agencia RBS
Na casa de Tatiana e do marido, Mateus, o buraco está pronto para a instalação da piscina

O sonho de ter uma piscina em casa se transformou em um pesadelo para pelo menos três famílias do Vale do Sinos. A empresa, localizada na BR-116, em Novo Hamburgo, segundo os consumidores, teria oferecido um serviço que frustrou os sonhos de aquisição do equipamento.

Somando os valores investidos pelos três clientes, entre dezembro de 2019 e outubro de 2020, o montante seria de cerca de R$ 35,3 mil. As três pessoas ouvidas pela reportagem afirmam ter sido atendidas por um vendedor que se dizia representante da Lazup Piscinas nas redes sociais. 

Confira as histórias a seguir:

Sonho incompleto

Em outubro de 2020, a comerciante Tatiana Muzzo, 42 anos, e seu marido decidiram investir na compra de uma piscina para ter alguma diversão em casa durante a pandemia:

— Sou diabética, então, até ser vacinada, respeitei o máximo possível as recomendações de isolamento social. Por isso, decidimos comprar. Vimos a propaganda da loja pelo Instagram. Lá (na rede social), ele dizia que, a partir do pagamento, a instalação seria realizada em até 40 dias. Eu e meu esposo decidimos ir até a loja, fizemos uma pesquisa prévia e parecia tudo certo.

A moradora da cidade de Portão, no Vale do Sinos, comprou uma piscina pequena e, mesmo realizando o pagamento à vista no valor de R$ 10,5 mil, até hoje não recebeu o bem adquirido. O buraco para a instalação aberto desde outubro tem servido apenas para frustrar os sonhos do casal e gerar desconfortos entre os vizinhos.

— Já tivemos desentendimentos com os vizinhos por causa do risco de proliferação do mosquito da dengue. Semanalmente, ligamos para a loja e o vendedor sempre nos enrola com a mesma desculpa de que na próxima semana virá fazer a instalação. Mas olha quantos meses já se passaram — lamenta a comerciante.

Além dos inconvenientes com os vizinhos, Tatiana fala sobre os transtornos que vêm enfrentando desde que os problemas com a entrega começaram:

— Não consigo dormir direito desde outubro do ano passado, porque juntamos dinheiro para realizar esse sonho.

Aposentado relata problemas

O aposentado Rubens Pedroso, 60 anos, almejou por anos a compra de uma piscina. Ele conheceu a loja Lazup Piscinas por meio da indicação de um conhecido que diz ter feito uma compra sem percalços. Em fevereiro de 2020, Rubens assinou o contrato no valor de R$ 12,7 mil, que foram pagos em R$ 8,5 mil à vista e R$ 4,2 mil divididos em seis vezes no cartão de crédito.

— Logo em seguida, começou a pandemia. Então, ele afirmava que a demora era em decorrência disso. Eu e minha esposa fomos algumas vezes até a loja, mas muitos meses se passaram e ele não havia feito nem mesmo o buraco — afirma o aposentado.

O casal, que reside em Novo Hamburgo, procurou o Procon da cidade e foi orientado a entrar na Justiça para resolver o caso.

— É muito triste perceber que as economias de uma grande parte das nossas vidas foram roubadas dessa forma. Batalhamos para conseguir esse dinheiro, ele prometeu e acabou não cumprindo até hoje.

Falsa promessa de Natal

Um assistente técnico de 42 anos, morador de Sapucaia do Sul, que preferiu não ter a identidade publicada, também alega ter realizado o pagamento de R$ 12,1 mil em dezembro de 2019, para uma piscina que não foi instalada:

— Estava muito animado para fazer a compra. Então, comecei a procurar lugares que fizessem esse tipo de venda. Um dia passei na frente da empresa, conversei com o vendedor e o valor estava dentro do meu orçamento. Então, fechei negócio.

A promessa do vendedor era de que a piscina seria entregue antes do Natal para que a família pudesse aproveitar as festas de final de ano.

— Guardamos esse valor por 10 anos, porque realmente era um sonho ter uma piscina em casa. Mas, infelizmente, acabamos sem o dinheiro e também sem a piscina — lamenta.

Esse cliente afirma ter assinado um termo de desistência do contrato, em março de 2020, ao qual GZH teve acesso. Com esse acordo, a empresa Lazup Piscinas devolveria o valor integral da compra em quatro parcelas que seriam pagas entre março e abril do mesmo ano. No entanto, ele afirma não ter recebido esse pagamento.

— Como essa promessa também não foi cumprida, procurei um advogado para tentar recuperar o meu dinheiro. Mas confesso que já perdi as esperanças. A sensação que tenho é de impunidade porque ele realmente lida com o nosso emocional. O triste é ver que ele ainda vende os produtos como se realmente realizasse a entrega — afirma o assistente.

O homem diz ter entrado com um processo judicial para tentar reaver o valor investido.

Investigação

O caso está sendo investigado pela 1ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo. De acordo com a Polícia Civil, o inquérito foi aberto no dia 16 de junho para apurar a suspeita de estelionato. Para a polícia, o proprietário teria afirmado que a empresa passa por dificuldades financeiras e que a entrega das piscinas, por essa razão, está atrasada.

— Não podemos afirmar nada justamente porque o inquérito ainda está em andamento. Vamos acompanhar se as piscinas serão entregues e instaladas nos próximos dias e ouvir as demais pessoas envolvidas — afirma o delegado Tarcísio Lobato Kaltbach, titular da 1ª DP de Novo Hamburgo.

Contraponto

GZH não conseguiu contato com a Lazup Piscinas por meio do telefone comercial que consta no site da empresa. Foram realizadas cinco ligações sem sucesso. Também ocorreu a tentativa de contato pelo e-mail divulgado no site da empresa, mas não houve nenhum retorno até a publicação desta matéria.

Dicas para não ser vítima de estelionato

  • Desconfie sempre de ofertas de produtos com preços abaixo dos praticados em mercado
  • Saiba que a aparência engana. Estelionatários falam bem, estão normalmente bem vestidos e facilmente persuadem as vítimas. Tome esses cuidados para não se tornar uma
  • Se você sabe de alguém que pode estar praticando algum golpe, denuncie pelo 197, WhatsApp da Polícia Civil (51) 98444-0606 ou procure a Delegacia de Polícia mais próxima
  • Caso você tenha sido vítima, procure a Polícia Civil. Em tempos de pandemia, você pode registrar a ocorrência pela Delegacia Online

Fonte: Polícia Civil

Produção: Kênia Fialho


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