Polícia



Sangue na contravenção

Polícia Civil prende três suspeitos de envolvimento em assassinato de bicheiro em Porto Alegre

Morte de João Carlos Cunha, o Jonca, teria sido encomendada por R$ 5 mil

19/06/2021 - 07h00min


Humberto Trezzi
Humberto Trezzi
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Poucos dias após se completar um mês do assassinato de um dos maiores banqueiros do bicho do Rio Grande do Sul, João Carlos Franco Cunha, a Polícia Civil anuncia que prendeu três suspeitos de envolvimento no crime. Dois deles teriam contratado o matador, a um custo de R$ 5 mil. Eles admitem que receberam essa missão, mas negam ter aceito a encomenda do homicídio.

A motivação para o crime seria negócios da jogatina clandestina, que representavam a maior fonte de lucro do bicheiro. O anúncio foi feito na manhã desta sexta-feira (18) pela diretora do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegada Vanessa Pitrez.

João Carlos Cunha, 72 anos, conhecido como Jonca, era o mais notório bicheiro de Porto Alegre. Foi morto em plena luz do dia, em 15 de maio, com dois tiros de revólver quando parou sua Pajero por segundos no sinal fechado de uma sinaleira, na Avenida Princesa Isabel, a poucos metros de um bingo que foi de sua propriedade.

O assassinato foi cometido por volta das 15h30min e foi documentado por câmeras de videomonitoramento, o que possibilitou boas pistas à Polícia Civil. O atirador chegou a pé, esperou a vítima parar na sinaleira e encostou o revólver no vidro do motorista, disparando duas vezes. O matador usava boné e um colete similar ao dos guardadores de carro. Correu e ingressou num veículo que o esperava para a fuga, um Ágile prata.

A polícia conseguiu identificar e pediu a prisão temporária de quatro suspeitos do crime. Três foram presos nos últimos dias, e um quarto continuava foragido até a manhã desta sexta-feira — os nomes não foram divulgados.

Polícia Civil / Reprodução
Matador aponta revólver para o bicheiro, que trafegava de caminhonete pela avenida Princesa Isabel

Dois dos suspeitos foram identificados com ajuda da P2 (serviço reservado) do Comando de Policiamento da Capital, da BM. Em áudios recebidos pela Polícia Civil, eles conversam sobre a oferta para matar Jonca - seria de R$ 5 mil, a serem divididos pela dupla -, sobre a necessidade de contratar um matador, sobre a vigilância dos passos do bicheiro e se ele tinha seguranças armados. Combinam vigiar a rotina de deslocamento do empresário, desde as casas de jogo até sua residência, passando pela avenida onde foi executado.

A Polícia Civil não fornece os nomes, mas GZH descobriu que se tratam de Matheus Pacheco Soska e Anadian Valente Dutra. Os dois foram presos e admitiram ter recebido a oferta de eliminar o bicheiro. A proposta teria sido feita por dois outros homens, que trabalham para um rival de Jonca no jogo clandestino. Os detidos, que têm antecedentes criminais por roubo, tráfico e furto, dizem que recusaram o serviço ao saber quem seria morto. Um deles até disse que o bicheiro ajudou sua família.  O banqueiro do bicho teria sido morto por dívida contraída com outros empresários do jogo.A Polícia vê com reservas esses depoimentos.

Polícia Civil / Reprodução
Matador abre a porta do veículo, para conferir se vítima está morta

Os outros dois envolvidos que tiveram prisão decretada pela Justiça moram em condomínios de luxo e têm antecedentes por lavagem de dinheiro. Eles teriam inclusive ajudado Jonca a disfarçar seus lucros ilegais. Um deles, Marcelo de Almeida Junior, foi preso, o outro ficou de se apresentar.   

Os policiais divulgaram também novas imagens do assassinato, feitas de dentro de um veículo que passava no local, na hora do crime.

Jonca estava de volta à clandestinidade após anos em que ele e a mulher investiram em atividades legais, como sorteios de títulos de capitalização, lotéricas e até em uma livraria com o nome do antigo bingo, o Roma.

Após se separar, Jonca retornou às raízes: exploração do jogo do bicho e de bingo. Recomeçou com uma casa clandestina no mesmo bairro onde concentrava sua jogatina, o Azenha.

Polícia Civil / Divulgação
João Carlos Cunha, conhecido como Jonca

É essa atividade que a Polícia Civil acredita que tenha incomodado seus concorrentes. Está praticamente descartado que o crime tenha envolvimento com facções do tráfico, que cada vez mais extorquem os banqueiros do bicho. Outras possibilidades também foram deixadas de lado, como assalto.

Até chegar aos suspeitos, a 2ª Delegacia de Homicídios tomou mais de 20 depoimentos e olhou dezenas de horas de filmagens em vídeo, de câmeras de rua. Provas adicionais devem vir do celular de Jonca, que teve o sigilo quebrado pela Justiça, a pedido dos policiais. A ideia é de que os dados revelem, a partir das últimas ligações para a vítima, seus desafetos.

— É um crime de encomenda e estamos perto de solucioná-lo — resume a delegada Vanessa Pitrez, chefe do Departamento de Homicídios da Polícia Civil.

A Polícia divulga um número pelo qual podem ser dadas informações anônimas a respeito de crimes. É o 08006420121.

CONTRAPONTOS

O que dizem os suspeitos presos:

Matheus Pacheco Soska e Anadian Valente Dutra admitiram terem sido sondados para matar Jonca e até planejaram o crime, mas afirmam ter recusado, ao saber de quem se tratava. GZH não localizou o advogado de Marcelo de Almeida Junior.




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