Polícia



Investigação

Cirurgião plástico preso foi absolvido ou teve processos arquivados pelo menos 15 vezes junto ao Cremers

Em duas situações, a entidade cassou o registro de médico, mas decisões foram reformadas pelo Conselho Federal de Medicina

21/07/2021 - 07h00min

Atualizada em: 21/07/2021 - 09h12min


Bruna Viesseri
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Facebook / Reprodução
Klaus Brodbeck foi detido na sexta-feira, em Gramado

Documento obtido por GZH mostra que o cirurgião plástico Klaus Wietzke Brodbeck, preso pela Polícia Civil na sexta-feira (16) por suspeita da prática de crimes contra a dignidade sexual, foi absolvido ou teve arquivados ao menos 15 sindicâncias abertas no Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremers). Os motivos que geraram as procedimentos não foram revelados pela entidade.

No total, conforme o documento, 23 sindicâncias ou processos ético-profissionais foram abertos contra o médico nos últimos 20 anos.

Em um desses processos abertos, Brodbeck foi alvo de censura pública pelo Cremers, em um caso que envolve um suposto erro médico. Em outros dois, julgados em 2004 e 2011, o conselho regional decidiu pela cassação do registro do cirurgião. No entanto, o médico entrou com recurso junto ao Conselho Federal de Medicina (CFM) e reverteu as decisões, sendo absolvido — confira abaixo a posição do CFM.

Procurado, o Cremers não confirmou a existência dos processos junto a entidade e nem deu detalhes das denúncias. A entidade afirma que só pode falar sobre casos em que o médico é condenado e essa condenação se torna pública. Se não, há sigilo legal sobre as sindicâncias.

Segundo o conselho regional, quando denúncias são feitas, é aberta uma sindicância. Pode haver recurso junto ao Conselho Federal de Medicina.

Em relação a processos arquivados ou em que o médico foi absolvido, o presidente do Cremers, Carlos Isaia Filho, nega que a entidade tenha cometido algum erro:

— Absolutamente não (errou). Nós temos um um departamento específico que é o judiciante. Toda denúncia que chega no conselho é instaurada e averiguada. O resultado final passa por um conselheiro sindicante, que faz sua colocação junto a uma câmara de sindicância formada por sete profissionais, conselheiros. Não é uma pessoa que decide se alguém é culpado ou não, é uma câmara — disse o presidente.

Em relação ao número de processos, o presidente avaliou que alguns profissionais acabam recebendo mais denúncias:

— O normal seria o médico não ter nenhuma denúncia no conselho. Às vezes, ocorrem algumas. Mas existem profissionais, infelizmente, em pequeníssimo número que têm mais denúncias no decorrer de sua vida profissional. E elas são avaliadas e julgadas se são procedentes ou não.

Isaia Filho disse ainda que a partir da divulgação do caso pela polícia, na última terça, nova apuração foi aberta pela entidade.

— Toda a classe médica vê essas notícias com muita pena, com muita vergonha. Isso envergonha a classe médica, infelizmente. Mas existe o conselho exatamente para que possa averiguar, que possa ver se de fato isso aconteceu, e na vigência do conselho, admitir por meio de uma câmara de julgamento e, se de fato houve ilícito ético, dar a pena que esse profissional merece — argumentou.

Cem relatos

Brodbeck é investigo pela Polícia civil por crimes contra a dignidade sexual. Segundo as autoridades, os relatos indicariam crimes como assédio sexual, importunação e até estupro de vulnerável. Na segunda-feira (19), o número de mulheres que procuraram a delegacia para denunciar o homem ultrapassou uma centena.

Contraponto

O que diz a defesa do médico

GZH procurou a defesa do médico nesta terça, que não quis se manifestar. No domingo, o advogado Gustavo Nagelstein divulgou nota sobre os processos. Confira:

"Não tenho conhecimento de outros casos no Cremers. Se houver, devem ser antigos. Desconheço que ele tenha condenações por erro médico, mas por crimes sexuais certamente não tem. Também não tenho conhecimento de número de vítimas de fatos recentes superior a cinco. No dia que meu cliente depôs, foi referente a cinco inquéritos, cinco vítimas. Esse número de mais de 80 não chegou a nós. A delegacia, por uma questão de dificuldade de estrutura, nos disse que, assim que possível, vai oportunizar que olhemos o material. Estamos no aguardo".

O que diz o Conselho Federal de Medicina

O CFM não comentou os casos. Em nota, a entidade afirmou que decisões sobre recursos são tomadas "em função da análise criteriosa dos documentos e outras informações".

Como fazer denúncias

A Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher de Porto Alegre pode ser contatada pelos telefones (51) 98402-2495/98682-9585 ou pelo WhatsApp da Polícia Civil: (51) 98444-0606.


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