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Operação Iscariotes

"Não tem como continuar morando lá", diz vítima de assalto com tortura, estupro e extorsão em Viamão

Apontados como integrantes do grupo criminoso que aterrorizou família foram alvo de ofensiva da Polícia Civil nesta terça-feira

07/07/2021 - 09h22min

Atualizada em: 07/07/2021 - 09h22min


Leticia Mendes
Ronaldo Bernardi / Agencia RBS

Ao longo de uma hora e 40 minutos, uma família foi aterrorizada dentro de casa em Viamão, na Região Metropolitana. Um casal e uma adolescente ficaram na mira de dois criminosos, que invadiram a residência armados. Além de espancar o proprietário da moradia, os bandidos torturaram a esposa dele e violentaram a filha. Os cinco investigados por esse crime são alvo de operação da Polícia Civil nesta terça-feira (6) — dois deles já estavam no sistema prisional. 

As vítimas ainda tentam se recuperar dos ferimentos causados pelas torturas e dos traumas. No mesmo dia do ataque, deixaram a residência — o bairro não é citado na reportagem, assim como alguns detalhes do fato, para preservar a família. Abandonaram a casa, que foi construída ao longo de anos, e buscaram abrigo em outra cidade, em um cantinho improvisado na casa de amigos. 

— É uma situação muito difícil, muito complicada. Quando mexe com a tua família. Tu trabalhas para fazer uma casa, ter uma estabilidade, aí eles vão lá te pedem dinheiro, dão em ti, te machucam. A sensação de impunidade é total. A estrutura emocional da pessoa está além do além. Hoje estou tomando medicamentos para dormir, se não, não consigo — desabafa o empresário.

Ele dormia ao lado da esposa quando os dois assaltantes invadiram a residência. Um deles estava armado com um revólver e outro, com uma espingarda. Os bandidos exigiam dinheiro e, para isso, passaram a torturar as vítimas. O marido foi espancado, enquanto a mulher e a filha adolescente foram trancadas e amarradas no banheiro.

— Não tínhamos o dinheiro. E eles continuavam me batendo. Me deram pontapé nos meus peitos, nas minhas costas, bateram com as armas no meu rosto. Sinto muita dor na costela, abaixo do braço esquerdo. Quando coloquei a mão para não bater na minha cara, me deu um pontapé. A costela abriu e criou hematoma por dentro. Vai levar uns dois meses para passar essa dor — conta. 

Durante o assalto, um dos bandidos usou um celular para fazer uma chamada de vídeo. Do outro lado, estava o líder, que dava ordens de como os criminosos deveriam agir. Nesse momento, eles ficaram ainda mais violentos. Usaram inclusive uma faca da cozinha para ferir o empresário, na tentativa de obrigá-lo a entregar o valor que exigiam. 

— Ele fazia questão de conversar com a gente. Coordenou tudo lá de dentro (da cadeia). Dizia que era para vasculhar a casa, procurar dinheiro, porque tinha dinheiro. Mas não tinha — recorda a mulher. 

Os criminosos estavam com os rostos descobertos e demonstravam conhecer o cotidiano dos moradores. Para a polícia, o alvo não foi escolhido aleatoriamente. O crime teria sido planejado, com informações repassadas por dois familiares das vítimas. Eles também são alvo da operação desencadeada nesta terça-feira. 

Durante o assalto, os bandidos ainda violentaram sexualmente a filha do casal, que chegou a ser levada pela dupla e depois libertada. Os criminosos fugiram levando ainda um veículo e outros pertences.

O morador acredita que o crime esteja vinculado à tentativa de domínio das organizações vinculadas ao tráfico de drogas. A operação tem como alvo investigados apontados como membros de um grupo criminoso que, segundo a polícia, usa da violência como uma das formas de demonstrar poder nos territórios onde atua. 

— Não sou o primeiro que eles batem e nem serei o último. Vou ter que vender a casa. Como vamos ficar lá? Não tem como ficar. Fiquei sem dinheiro, sem casa, e quase fiquei sem família — afirma. 

Após os bandidos deixarem a moradia, o casal pediu socorro a um vizinho que acionou a Brigada Militar. Pai e filha precisaram ser levados para atendimento médico. Todos ainda lidam com os traumas. A mãe precisou abandonar o trabalho para cuidar da filha, que agora passa por exames e tratamento. Por vezes, a adolescente evita falar com as pessoas e acorda em prantos. 

— Dependendo do assunto, não quer participar. Se tiver meninos, não se aproxima. Ela ficou marcada. É muito difícil para todos nós — diz a mãe. 


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