Polícia



Ataque na freeway

Um mês após morte de passageira de carro, família faz homenagem e polícia busca suspeitos de arremessar paralelepípedo 

Especialista alerta sobre medidas de segurança para usuários da rodovia; nesta segunda-feira, mais um caso foi registrado no acesso a Porto Alegre

13/07/2021 - 09h15min

Atualizada em: 13/07/2021 - 09h41min


Cid Martins
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Roger Lopes / Arquivo Pessoal
Um mês depois de ataque com pedras, família de vítima faz faixa pedindo justiça, solta balões e realiza carreata na Capital

 

Um mês após o ataque com um paralelepípedo a um veiculo na entrada de Porto Alegre, entre a freeway e a Avenida Castelo Branco, que causou a morte da passageira do veículo, Munike Fernandes Krischke, 45 anos, a Polícia Civil segue atrás de suspeitos e autoridades de segurança fizeram pelo menos duas ações integradas no trecho. A família fez uma homenagem no domingo (11) na Capital, com carreata, e ingressou com ação indenizatória na Justiça. O caso foi dia 12 de junho e a vítima morreu no dia seguinte, no Hospital de Pronto Socorro (HPS).

Especialistas também ressaltam a importância, na medida do possível, do registro ser feito o mais rápido possível no caso de danos materiais, bem como alertam sobre medidas simples de segurança para coibir essa prática criminosa: grades, iluminação e câmeras. Desde maio, GZH registrou nove casos na BR-290, entre Gravataí e Eldorado do Sul, trecho em que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) mais foi acionada neste ano. 

O caso de Munike, em princípio, foi tentativa de assalto — criminosos teriam jogado pedra do acesso à ponte do vão móvel para forçar motorista a parar e roubar vítimas — que terminou em homicídio qualificado. Mas muitos dos casos são vandalismo, como um deles que ocorreu na madrugada desta segunda-feira (12) na freeway, nas imediações da Arena do Grêmio. 

O chefe de operações da PRF, inspetor Marcelo Timóteo, diz que dois adolescentes foram apreendidos porque uma das vítimas (podem ter ocorrido outros ataques) acionou rapidamente o posto rodoviário pelo 191. Caso contrário, como foi verificado em pelo menos duas operações integradas após a morte de Munike, a abordagem a suspeitos.
— O comunicado rápido é importante, mas isso em caso de danos materiais, já que a prioridade é o atendimento a feridos, se houver — explica Timóteo.

A PRF orienta também, se possível, que os motoristas não estacionem nos trechos das rodovias, caso ocorra algum ataque, para evitar possíveis assaltos.

Investigação

Sabrina Krischke / Arquivo Pessoal
Carro em que estava Munike Krischke foi atingido por paralelepípedo na entrada de Porto Alegre pela Avenida Castelo Branco

A titular da 2ª Delegacia de Homicídios de Porto Alegre, delegada Roberta Bertoldo, responsável pela investigação que apura a morte de Munike, ouviu várias pessoas, analisou imagens e verificou ação de suspeitos. Segundo ela, o caso tem prioridade e o trabalho seguirá até serem obtidas todas as provas possíveis da ação criminosa. Contudo, ressalta uma dificuldade em um fator que poderia ajudar muito na apuração: o monitoramento por câmera.

— Coletamos imagens, mas, como o equipamento é operado automaticamente, ele roda e gira rápido. Na hora do fato, ele não se concentrou no ponto onde houve o apedrejamento e, como virou rápido, não houve a captação da imagem — explica Roberta.

No dia da morte na freeway, os agentes visualizaram um veículo Kombi estacionado embaixo da ponte antiga do Guaíba, mas a polícia ainda não divulga mais detalhes do caso enquanto não ocorrer a conclusão do inquérito. 

Outras vítimas

Em maio, no trecho da freeway em Gravataí, cinco caminhões foram apedrejados. A PRF foi acionada, foi até o local e não encontrou suspeitos. No dia em que houve a tragédia na freeway, dia 12 de junho, houve pelo menos outros dois casos. A engenheira Ana Paula Amaral, 31 anos, que estava com o namorado no carro, teve o veículo aingido por uma pedra. Eles passaram pelo mesmo trecho 40 minutos antes do caso que acabou em morte. 

A arquiteta Cristine San Martins, 42 anos, também teve o carro apedrejado. Assim como Ana e o namorado, ela, o marido e os filhos não se feriram. A vítima ressalta o susto ao ter passado pelo mesmo local meia hora depois do ataque a Munike.

— No momento em que houve o estrondo eu disse: o que aconteceu, o que é isso? Meu marido respondeu: "isso é uma pedrada que eles dão para assaltar, não posso parar". As crianças ficaram bem assustadas, reclamando que tinha muito vidro quebrado nelas — explica Cristine.

Além dos ataques aos caminhões, houve outros três em junho e mais um nesta segunda-feira na freeway. Na área central da Capital, o taxista José Amorim também foi outra vítima. Ele não se feriu quando jogaram, no dia 21 de junho, uma pedra no veículo, no momento em que o condutor trafegava na Avenida Loureiro da Silva, sob o viaduto no cruzamento com a Avenida João Pessoa.

Medidas

Neste ano, a PRF registrou mais de 45 chamados de ocorrências envolvendo carros apedrejados em rodovias da Região Metropolitana e indicou oito pontos no Estado com esse tipo de problema. A BR-290 tem metade dos casos, no eixo entre Gravataí e Eldorado do Sul. A BR-392, em Pelotas e Rio Grande, no sul do Estado, teve 9% dos registros. O diretor-presidente da Cooperativa dos Transportadores Autônomos Rodoviários de Cargas de Rio Grande (Cotracam), Gregori Rios, afirma ter alertado motoristas sobre os riscos com apedrejamentos.

— Sabemos que esses apedrejamentos tem intenção de assaltar nossos motoristas, roubar caminhão e carga e até sequestro. Lamentavelmente não há outra forma e precisamos manter a atividade — diz Rios.

Contudo, a PRF destaca que não há casos concentrados e que a maioria das vezes em que foi acionada, nem sempre se confirmou um ataque. Em alguns casos houve apenas a suspeita da ação de criminosos.

Para coibir ataques com pedras em rodovias, a professora Christine Nodari, do Departamento de Engenharia e Transporte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ressalta dois pontos básicos que estabelecem uma conexão entre segurança e segurança viária:

— Segurança pública e segurança viária têm uma conexão, portanto, a questão da tela para evitar arremesso é importante, inclusive, uma solução usada em ferrovias e que poderia também ser utilizada em vias rodovias, além da questão da iluminação para coibir ações ilícitas. Essas questões dariam contam desse problema e de outros também.

A professora da UFRGS, assim como a delegada Roberta, sugerem que, nos pontos mais perigosos e nos dias e horários com mais registros de ataques com pedras nas rodovias, as câmeras de monitoramento pudessem ser operadas manualmente ou de forma inteligente para flagrar movimentações suspeitas. 

A CCR ViaSul, que administra o trecho com o maior índice de carros apedrejados, por meio de nota, afirmou que, até fevereiro de 2022, estarão em funcionamento 1.136 câmeras de monitoramento ao longo das quatro rodovias das quais é responsável. A partir do quarto ano de atuação, estão previstas também quatro novas passarelas na freeway, todas com grades e câmeras de monitoramento específicas. Atualmente, a rodovia tem 10 câmeras funcionando. Não houve informação sobre grades em pontes.

Homenagem


A família de Munike fez, no domingo, uma carreata de onde ela morava, no bairro Sarandi, até o Parque Germânia, ambos locais na zona norte de Porto Alegre. Balões brancos foram soltos e, em uma faixa, foi expresso o desejo por mais segurança para todos nas estradas. Um grupo pequeno, para evitar contaminações por coronavírus, também rezou uma Ave Maria. O advogado Roger Lopes, que representa a família, ingressou com uma ação indenizatória contra a União e a concessionária no valor de R$ 2,5 milhões.

Roger Lopes / Arquivo Pessoal
Familiares e amigos fizeram homenagem para Munike Krischke na zona norte de Porto Alegre no domingo (11)

— Mais do que valores, pedimos segurança para todos com o objetivo de evitar que mais famílias percam entes queridos. Que a responsabilidade do criminoso seja apurada, assim como a atuação dos responsáveis que facilitarem a ação deles e o acesso deles ao local. Que as licitações futuras prezem pela segurança do usuário das vias e não apenas pela taxação de serviços — diz Lopes.


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