Polícia



Vale do Taquari

Mistério em incêndio e triplo homicídio: mais de um ano depois, autoria dos crimes não foi esclarecida

Corpos de caseiro e de um casal foram encontrados com marcas de disparos em galpão queimado no interior de Cruzeiro do Sul em julho do ano passado

16/08/2021 - 09h38min

Atualizada em: 16/08/2021 - 09h51min


Jeniffer Gularte
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Policia Civil / Divulgação
Bombeiros não conseguiram conter as chamas, porque enchente invadiu estradas

Passado mais de um ano de um triplo homicídio ser revelado depois de incêndio no interior de Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, a Polícia Civil deve encerrar o inquérito sem chegar aos autores do crime. As vítimas são um caseiro da propriedade e um casal que havia se mudado para a localidade uma semana antes do crime. Em 9 de julho de 2020, chamas destruíram um galpão de alvenaria e madeira onde os corpos foram encontrados e no qual o casal morava.

Natural de Lajeado e conhecido em Linha São Miguel, Sinésio Inácio Ghilardi, 29 anos, residia em frente ao galpão com a esposa. Já o casal Leandro Arruda, 38, e Mireila Silva dos Santos, 35, era recém chegado na região. De Lajeado, ele era vendedor externo de uma padaria e a esposa, de Cachoeira do Sul, dona de casa.

Um projétil de pistola calibre 380 foi localizado na cervical da mulher, o que indica tiro na nuca. Nos outros corpos também foram localizados disparos. Para a polícia, o trio foi assassinado antes do incêndio em um crime planejada, mas os investigadores não sabem se os três eram alvos da ação criminosa ou o trio foi morto para não restarem testemunhas com vida.

Para a polícia, tudo indica que o fogo foi usado para apagar as provas. Quase 30 pessoas foram ouvidas ao longo do inquérito. O delegado de Cruzeiro do Sul Humberto Roehrig afirma que a apuração evoluiu em alguns pontos, mas não chegou à autoria.

— Estamos com dificuldade para apurar autoria. Não descobrimos. Mais alguns meses e vamos remeter ao Judiciário sem solução. Não gostamos de mandar inquérito de homicídio sem indiciamento, mas chega num ponto que não tem para onde progredir. Conforme vai passando o tempo, fica mais difícil se chegar a autoria, infelizmente —explica o delegado.

O próprio incêndio, em caso de indicação dos autores, qualificaria o homicídio e aumentaria a pena dos envolvidos. O laudo da morte apontou como causa anto os tiros quanto o fogo. Devido ao avançado estado de carbonização dos corpos, a necropsia não responde se foram as chamas ou os disparos que mataram as três vítimas.

— Se tivéssemos autoria, o incêndio seria um detalhe importante. Mas as próprias testemunhas não esclarecem muitos detalhes — afirma o delegado.

A propriedade fica em uma área que, na mesma época do crime, foi atingida pela cheia do Rio Taquari. Devido à enchente, o Corpo de Bombeiros não conseguiu chegar ao local enquanto o incêndio ainda acontecia. Os investigadores só foram conseguir acesso no dia seguinte, após a água baixar na estrada que leva até a casa.  

O triplo homicídio aconteceu no começo da noite de uma quinta-feira, em 9 de julho, quando os moradores próximos estavam ocupados com a cheia do rio. As chácaras têm poucos moradores e os vizinhos mais próximos estão a 200 metros. No momento do sinistro, estavam preocupados com a enchente, deslocando animais.

Arquivo Pessoal / Reprodução
Sinésio Inácio Ghilardi, 29 anos, foi uma das vítimas

— Isso nos chama atenção: o incêndio coincidentemente aconteceu junto à época de cheia. Por ser um crime bárbaro, acreditamos que tenha envolvimento de organização criminosa. E, por isso, é difícil produzir prova testemunhal. As pessoas têm medo de falar.

"Impera lei do silêncio", diz o delegado

Duas linhas de investigação são levantadas no inquérito: a primeira envolve a oferta de compra da propriedade feita antes do crime. Uma pessoa, não identificada, tentou adquirir áreas próximas e teria envolvimento com tráfico de drogas. A proprietária do terreno do sítio teria negado proposta de compra. Neste caso, as mortes estariam teriam ligação com crime organizado.

A segunda hipótese envolve Leandro Arruda, que tem antecedentes por crimes de estupro, em 2011 e 2012. Em 2014, chegou a ser condenado por uma das acusações. Em 2019, em um terceiro registro, um parente registrou queixa contra ele, afirmando que teria abusado de uma menina da família. Mireila e Sinésio não tinham antecedentes.

— Se fosse em relação a estupro, não teria matado os três. E se fosse vingança seria mais fácil de apurar. As pessoas não teriam receio de falar. Em caso que se envolve crime organizado, dificulta quando a testemunha não tem motivação para falar. Não tem interesse na solução do crime. Não foi um crime ocasional. Foi planejado e premeditado — afirma o delegado.

Dentro de um contexto de três execuções envolvendo crime organizado, a prova testemunhal é, no entendimento do delegado, fundamental para dar norte a investigação e excluir outras hipóteses:

— A contribuição das pessoas ajuda a reconstituir o fato, já que o fogo consumiu os vestígios. Os próprios familiares das vítimas não levantaram hipóteses contundentes. E as testemunhas são pessoas humildes e que moram em um local ermo. A maior dificuldade é que impera a lei do silêncio. Se alguém sabe de alguma coisa, não tem interesse em informar.



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