Polícia



Litoral Norte

Polícia pretende indiciar neste sábado mãe e madrasta de menino por homicídio, tortura e ocultação de cadáver

Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, está desaparecido em Imbé desde a semana passada

07/08/2021 - 07h00min

Atualizada em: 07/08/2021 - 07h00min


Leticia Mendes
Anselmo Cunha / Agencia RBS
Cães farejadores participaram das buscas nesta sexta-feira

A Polícia Civil pretende encaminhar ao Judiciário neste fim de semana a primeira parte do inquérito envolvendo o desaparecimento de Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, em Imbé, no Litoral Norte. Ainda que o corpo não tenha sido localizado, o delegado Antônio Carlos Ractz Júnior pretende indiciar neste sábado (7) a mãe e a madrasta do garoto pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, ocultação de cadáver e tortura. Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 26 anos, e Bruna Nathiele Porto da Rosa, 23, estão presas.

A principal prova até o momento se baseia nos depoimentos das mulheres, que admitiram que o menino foi espancado e dopado e depois teve o corpo arremessado no Rio Tramandaí. Yasmin procurou a polícia inicialmente com objetivo de registrar o desaparecimento do filho, mas acabou confessando o homicídio. Bruna também confirma que o menino foi morto, mas nega ter participado.

— Ainda que o corpo não seja encontrado, há outras maneiras de se comprovar o homicídio. Os depoimentos são confirmados pelas perícias, por tudo que a gente vem colhendo até o momento — afirma o delegado.

Entre os pontos que, no entendimento da polícia, servem para confirmar os relatos está, por exemplo, o armário encontrado na primeira pousada onde as duas moravam. O mesmo guarda-roupas aparece em um vídeo no qual Bruna ameaça espancar o garoto. Na outra pousada, onde teria acontecido o crime, foi encontrada uma corrente, que seria usada para prender a criança, e um azulejo estava partido. Bruna afirma que Miguel bateu com a cabeça no azulejo enquanto era espancado pela mãe.

Também na pousada, os policiais e peritos estiveram em uma peça de cerca de um metro quadrado, atrás do box do banheiro, onde o menino era mantido trancado. A peça, que possui uma porta, funciona como uma espécie de poço de luz. Para o delegado, essas evidências de que o menino sofria maus-tratos e torturas físicas e psicológicas são suficientes para indiciar as duas mulheres pelo crime.

A investigação seguirá, mesmo após essa primeira parte do inquérito ser remetida ao Judiciário. O delegado ouvirá nos próximos dias novamente a madrasta do garoto, na presença das advogadas. O objetivo é esclarecer mais alguns pontos do caso. 

Neste fim de semana, os policiais devem se dedicar a analisar os dados que foram extraídos dos celulares das duas, assim como horas de imagens de câmeras, obtidas junto a estabelecimentos e residências no trajeto que teria sido percorrido por ambas com o corpo do menino dentro de uma mala.

— Não tem como concluir a investigação agora, em razão de outros laudos, perícias. Somente os dados dos celulares é uma tarefa hercúlea, que vai nos tomar bastante tempo. Estão sendo analisadas muitas horas de câmeras — diz o delegado.

Yasmin segue presa na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba e Bruna foi transferida para o Instituto Psiquiátrico Forense após tentativa de suicídio.

Buscas

Os bombeiros seguem fazendo buscas pelo menino na orla entre Tramandaí e Torres. A extensão é de cerca de 90 quilômetros. Durante a manhã, cães farejadores desembarcaram em Imbé para auxiliar na procura ao corpo do menino. 

As equipes estiveram na pousada na Rua Sapucaia, na área central, onde a criança vivia com as duas mulheres, em ruas próximas dali e no trajeto que Yasmin alega ter feito para transportar o corpo do filho dentro de uma mala. Os bombeiros também seguiram até um aterro sanitário, mas nada foi encontrado.

Contrapontos

O que diz a defesa de Yasmin

Uma nova equipe assumiu a defesa de Yasmin na quarta-feira (4). O advogado Jean Severo, que passa a atuar no caso, afirma que nesta sexta-feira esteve em contato com a cliente e que ela nega ter cometido o crime.

— Ela se declara inocente, que foi coagida na delegacia a falar aquilo. Ela não vai participar de nenhuma simulação do caso (reprodução simulada dos fatos) e de nenhum outro interrogatório. Ela só vai falar o que realmente aconteceu na frente do magistrado.

O que diz a defesa de Bruna

As advogadas Josiane Silvano, Fernanda Ferreira da Silva e Helena Von Wurmb, que representam Bruna, enviaram uma nota para GZH onde afirmam que a cliente sofria violência física e psicológica. Sobre o vídeo no qual Bruna aparece ameaçando o menino, as advogadas emitiram outra nota, onde também afirmam que ela era manipulada e coagida.

“Estivemos em contato com a Bruna na data de ontem (04/08) no Instituto Psiquiátrico Forense e apenas confirmamos aquilo que já havíamos constatado analisando o Inquérito Policial, ou seja, as informações trazidas a público estão sendo veiculadas de maneira distorcida. Bruna sofria violência física e psicológica constantemente desde o início de seu relacionamento com Yasmin, não tendo participação nos maus-tratos e homicídio do menino Miguel, sendo que é uma das pessoas mais abaladas emocionalmente pela sua morte. Isso irá ser comprovado no transcurso do processo, bem como as condições de sua saúde mental.”

Nota sobre o vídeo:

“Como já referimos a Bruna era constantemente manipulada e coagida por Yasmin, que tinha conhecimento que Bruna é portadora de problemas psiquiátricos. A Bruna foi usada como uma tentativa de obrigar a avó do menino a buscá-lo uma vez que a mãe não queria mais ficar com ele, portanto foi gravado exclusivamente com esse intuito, tanto que no Inquérito Yasmin isenta Bruna de qualquer ato contra o menino Miguel.”


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