Polícia



Vale do Taquari

Suspeito de matar criança de cinco anos em Lajeado já havia sido preso pela Delegacia da Mulher em janeiro

Homem de 35 anos tem antecedente por descumprimento de medida protetiva da sua ex-companheira, que era ameaçada por ele

07/09/2021 - 10h14min


Jeniffer Gularte
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O homem de 35 anos preso no sábado (4) por suspeita de matar uma menina de cinco anos em Lajeado, no Vale do Taquari, já havia sido detido pela Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). Em 15 de janeiro de 2021, ele foi levado por agentes da Deam por descumprimento de medida protetiva da sua ex-companheira, que era ameaçada por ele. 

Quase nove meses depois, ele é o principal suspeito de ter abusado e tirado a vida de Ágatha Rodrigues dos Santos, encontrada boiando perto de uma barranca do Rio Taquari, limite entre as cidades de Lajeado e Estrela. Ainda no sábado, o homem foi preso e encaminhado a uma cela isolada no Presídio Estadual de Lajeado. Em depoimento, ficou em silêncio.

A conduta da mãe da menina também será apurada pela Polícia Civil. Horas antes, ela consentiu que Ágatha fosse até um mercado, que fica a 100 metros de sua casa, com o suspeito do crime. A mulher poderá ser responsabilizada pelo crime de entrega de filho a pessoa inidônea. É um delito de menor potencial ofensivo previsto no Código Penal que responsabiliza pais ou responsáveis que deixam menores de 18 anos na companhia de pessoas que eles saibam que possam oferecer perigo moral ou material a criança ou adolescente.

GZH teve acesso ao depoimento da mãe, onde ela conta ter visto o suspeito consumindo cocaína instantes antes dele sair com a filha. A mãe nega que estava em um relacionamento com ele. Ela conta que quando o homem chegou em sua casa no sábado, pediu que sua filha o acompanhasse no mercado. A mulher diz que conhecia o suspeito há três meses e que ele havia ido cinco vezes na sua casa. Também afirmou que no sábado foi a primeira vez que sua filha saiu com ele.

Pelo relato da mãe, o suspeito e a criança saíram de casa 12h30min para ir ao mercado, 50 minutos depois ela deu falta da criança, procurou Ágatha no mercado, nas redondezas até ir a delegacia. A mãe afirma que no mercado disseram que o homem saiu com Ágata carregando uma garrafa de bebida. A reportagem esteve no local nesta segunda-feira e a atendente não confirmou a informação. Vizinhos ouvidos por GZH contam que a menina estava na companhia do suspeito desde 9h de sábado.

Para o delegado substituto da Delegacia da Mulher da Lajeado, Humberto Messa Roehrig não está claro se a criança e o suspeito realmente estiveram no mercado. A distância entre casa de Ágatha até o local em que o corpo foi encontrado na barranca do rio é de cerca de 400 metros e pode ser percorrida a pé em 5 minutos.

Policiais já ouviram moradores que contam ter visto o suspeito andando com Ágatha na garupa e procuram mais testemunhas, além de imagens de câmeras de segurança de um supermercado localizado em frente ao Rio Taquari, que pode ter registrado parte do trajeto da vítima com o suspeito.

O homem poderá ser indiciado por estupro de vulnerável com resultado morte - caso a menina tenha falecido em decorrência do abuso - ou por estupro e homicídio doloso - na hipótese dela ter sido morta após o abuso ou por afogamento. Outro ponto a ser esclarecido é se Ágatha foi arremessada ainda com vida no rio.

— Se ela foi jogada com vida, ele será responsabilizado por estupro de vulnerável e homicídio. Se ela foi colocada no rio já morta, responderá também por ocultação de cadáver. Essa resposta o laudo vai nos dar, com a causa da morte - explica o delegado.

O corpo de Ágatha foi velado ao longo da manhã e sepultado ao meio-dia no Cemitério Católico Florestal. No cortejo, a mãe carregava o urso da menina em frente a um pequeno grupo de amigos e parentes.

Uma menina doce e tímida

Ágatha vivia com a mãe e o irmão de dois anos em uma casa simples. Os pais estavam separados há sete meses, quando o pai mudou-se para Porto Alegre. A criança é descrita por vizinhos como doce, meiga e tímida. Gostava de andar de motoca, correr e brincar com o irmão e a prima. Neste ano, chegou a frequentar a Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Risque e Rabisque.

— Não consegui dormir com isso que aconteceu. Eu via ela todo dia do portão. E não quis ir no velório para não vê-la em um caixão. Era uma menina querida, dócil, dói meu coração. Parecia uma boneca. Nunca aconteceu uma coisa dessas aqui, antes podíamos deixar nossos filhos brincando nos diques, agora não dá mais — recorda a vizinha, a diarista Clarice Pereira Lopes, 52 anos.

Outro vizinho que dividia o pátio de casa com a família de Ágatha, mas prefere não se identificar, conta que a menina era alegre e que não dava trabalho.

— É uma sensação muito ruim ver uma vida recém se iniciando acabar assim. Nem bicho faz isso. Era uma guria que se entretinha com qualquer coisa, não dava trabalho, não incomodava. —disse. — Não fui ao velório porque quero lembrar dela brincando aqui. 


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