Polícia



Três anos do crime

Cinco vão a júri por assassinato de jovem por engano em hospital de São Leopoldo

Gabriel Vilas Boas Minossi, 19 anos, foi morto a tiros, há três anos, ao ser confundido pelos criminosos com outro paciente

29/11/2021 - 10h33min


Leticia Mendes
Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Na foto, a vítima Gabriel Vilas Boas Minossi com o pai, Marcelo Minoss

Cinco réus serão julgados pelo Tribunal do Júri pela execução de um jovem dentro do Hospital Centenário, em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Gabriel Vilas Boas Minossi, 19 anos, estava internado, após um acidente de trânsito, quando foi assassinado a tiros. Criminosos armados invadiram a casa de saúde para matar outro paciente, mas balearam o rapaz, por engano. O homicídio completou três anos no início deste mês.

Os réus que irão a júri são William Gabriel Almeida Pereira, Jorge Gilberto da Silveira Júnior, Lucas Gabriel Pereira Nunes, Deivid Silva de Ávila e Eberson Ferreira Almeida.

Na decisão que determinou que eles devem ser julgados pelo Tribunal do Júri, o juiz José Antônio Prates Piccoli negou novos pedidos das defesas para que respondam em liberdade. Os cinco afirmam que não tiveram envolvimento com o crime.

Ainda não há previsão de realização do julgamento, pois depende da análise dos recursos das defesas.

O vendedor Marcelo Minossi, 42 anos, diz que espera por justiça após a perda trágica do filho. Sempre que recorda do jovem, tem a sensação de que retorna no tempo e revive os momentos de terror da madrugada de 9 de novembro de 2018. Quando o caso completou três anos, o pai publicou nas redes sociais um vídeo no qual Gabriel aparece tocando violão e cantando uma música sobre saudade e solidão. “Três anos da maior tragédia das nossas vidas. É assim que a gente sempre vai lembrar de você, meu filho. Te amo eternamente, meu gordinho”, escreveu.

— Todas as datas são complicadas sem o Gabriel. Nada diminui, a gente só se acostuma com a dor. Nada vai trazer o Gabriel de volta. A gente só espera que justiça seja feita. Que sejam julgados e cumpram a pena até o final. Não há mais muito o que fazer. Só esperar pela justiça de Deus — desabafa o pai.

Gabriel estava prestes a receber alta da casa de saúde, onde tinha sido hospitalizado após fraturar as pernas em um acidente de moto a caminho do trabalho.

O jovem estava com a tia no quarto, quando os bandidos invadiram e dispararam repetidas vezes na direção da cama. Feriram ainda outras duas pessoas.

O jovem

Mecânico, Gabriel sonhava em montar oficina com o pai. Os dois frequentaram juntos todos os sábados, por cerca de um ano, curso na área. Pretendiam juntar dinheiro, e inaugurar o negócio. Além da oficina, Marcelo esperava que o filho investisse em seu talento para a música.

No dia do acidente, Gabriel retornava do trabalho, em Campo Bom, e seguia para a casa do pai, onde vivia, em Cachoeirinha. Ele havia sido contratado fazia cerca de dois meses, em uma empresa de bebidas. Antes, quando esteve desempregado, trabalhou em festas infantis.

Execução

Fernando Gomes / Agencia RBS
Execução ocorreu dentro do Hospital Centenário

Vinte e nove estojos de pistola 9 milímetros foram recolhidos dentro do quarto onde o jovem estava internado. O alvo que os criminosos pretendiam atingir era Alex Júnior Abreu Tubiana, que já havia sido baleado numa tentativa de homicídio e, por isso, estava hospitalizado. Quando foi alvejado, dias antes, reagiu a disparos efetuados por Samuel Lima da Rosa, 19 anos, o que teria levado grupo rival a querer vingança. Após rumores de que bandidos poderiam invadir a casa de saúde para executá-lo, havia sido transferido de quarto.

Segundo a denúncia do Ministério Público,William Gabriel Almeida Pereira e Jorge Gilberto da Silveira Júnior teriam rendido o vigilante na entrada do hospital e guarnecido o acesso, enquanto Lucas Gabriel Pereira Nunes e Deivid Silva de Ávila teriam seguido até o quarto para executar Tubiana. Os dois teriam sido responsáveis pela sequência de disparos contra as vítimas.

Eberson Ferreira Almeida, que estava preso na época, é apontado como o mandante. O objetivo com a execução seria dominar o tráfico de drogas na região.

Tubiana, conforme consta no processo, teria vínculo com o tráfico na região da Vila Brás, em São Leopoldo. Em setembro de 2020, Tubiana foi morto em confronto com a Brigada Militar. Ele e outros dois foram alvejados pelos PMs em troca de tiros, após roubo ao banco Sicredi de Itati.

Após o episódio, o Hospital Centenário informou que reforçou a segurança no local. Já a Brigada Militar alegou que, após receber pedido do hospital, entrou em contato com Tubiana, que disse não estar sob ameaça. A BM afirmou que estava realizando rondas periódicas e que o crime aconteceu 10 minutos após a saída dos policiais.

Contrapontos

Deivid Silva de Ávila

O advogado Celso Souza Lins afirma que o cliente nega participação no crime e que na época já se encontrava em Santa Catarina.

— Quanto à decisão de pronúncia (de ir à júri), já protocolamos recurso em sentido estrito em favor do nosso cliente. Quantos aos fatos, ele sempre negou qualquer participação. No dia dos fatos e nos dias anteriores e posteriores ele se encontrava em Florianópolis — argumenta.

Jorge Gilberto da Silveira Júnior

O advogado Paulo Rogério da Silva afirma que o cliente nega participação e que não há prova técnica contra ele. Alega que a perícia realizada no hospital e no veículo usado pelos criminosos não localizou vestígio de DNA ou digitais de Jorge. A defesa ingressou com recurso após a Justiça determinar que o réu seja julgado pelo Tribunal do Júri. Também há outro recurso do mesmo processo no Superior Tribunal de Justiça, que aguarda julgamento. 

— Estamos recorrendo da pronúncia, já encaminhamos ao Judiciário, para apreciar a nossa argumentação, dos inúmeros equívocos. Foi baseado numa denúncia anônima, e até hoje não se identificou essa testemunha. Não foi encontrado digitais, DNA, nada. Não se identificou interceptação telefônica, nada. Tudo isso nos leva a crer que essa ação foi para silenciar a sociedade e imprensa, que sempre esteve acompanhando o andamento — afirma.

Eberson Ferreira Almeida

O advogado Rodrigo Lima de Oliveira afirma que o cliente não teve envolvimento no crime, e que a defesa recorreu da pronúncia.

— Eberson é inocente da acusação imposta, pois não há qualquer indício nos autos de sua participação no delito. O Estado, na ânsia de oferecer uma resposta para a sociedade, indica para julgamento pelo Tribunal do Júri, pessoa que não tem nenhum envolvimento com o crime, deixando assim de investigar a verdade — afirma.

Lucas Gabriel Pedroso Nunes

O advogado Renan Bergerhoff dos Santos defende que não há provas de participação dos réus no crime. Afirma que Lucas estava trabalhando na época e que se apresentou na delegacia sem saber do fato. A defesa aguarda o réu ser intimado da decisão para recorrer da sentença de pronúncia.

— O Lucas se apresentou quando soube que foi procurado, sem saber dos fatos ocorridos, o que só teve conhecimento na delegacia, e, mesmo assim, já vai fazer dois anos que está preso — afirma.

William Gabriel Almeida Pereira

GZH não conseguiu contato com a advogada Ana Cláudia de Souza Rodrigues, que consta no processo como responsável pela defesa do réu. O número de contato da advogada não consta no site da OAB. Quando interrogado na Justiça, o réu negou ter praticado o crime.



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