Polícia



Região Metropolitana

Polícia investiga suspeitas de estupros de crianças em condomínio de Canoas

Meninas de oito e nove anos relatam situações de abuso vividas em casa de advogado

02/11/2021 - 07h00min

Atualizada em: 02/11/2021 - 07h00min


Jeniffer Gularte
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Omar Freitas / Agencia RBS
Casos são investigados pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Canoas

Duas meninas de oito e nove anos relatam ter sofrido abusos de um vizinho dentro de um condomínio de classe média em Canoas, na Região Metropolitana. Os dois casos são investigados como suspeita de estupro de vulnerável pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Na última quinta-feira (28), mandado de busca e apreensão foi cumprido na casa do advogado investigado. Foram recolhidos HD externo com senha, celulares e computadores. O material é analisado pela Polícia Civil. Em nota, a defesa do suspeito e de sua esposa alega "absoluta inocência frente aos casos do qual estão sendo incriminados" (leia nota na íntegra abaixo).

O primeiro caso veio à tona em setembro, quando a menina de nove anos contou na escola para uma colega e a psicopedagoga da instituição que sofria abusos de alguém próximo da sua família. A escola procurou a família, os pais conversaram com a garota, que confirmou episódios que aconteceriam desde 2017, quando tinha cinco anos.

Segundo relato da menina dado aos pais e à polícia, o homem tirava sua roupa e passava a mão no corpo. A criança diz que não contava aos pais em razão de ameaças do vizinho. A família procurou a DPCA, fez exame de corpo delito e foi orientada a manter discrição em relação ao caso até o momento da busca e apreensão, para não levantar suspeitas e evitar a destruição de eventuais provas.

— Era nosso vizinho de porta, viu minha filha nascer, nossos filhos são amigos. Jantávamos juntos, viajávamos juntos para Serra e Santa Catarina. Nos reuníamos bastante, era meu melhor amigo no condomínio, conheço ele há mais de 10 anos e nunca suspeitamos de nada. Estamos com nervos à flor da pele e esperando ele ser preso — afirma o pai da menina.

O titular da DPCA, delegado Pablo Queiroz Rocha, afirma que a apuração ainda está no início. O síndico do condomínio foi ouvido nesta segunda-feira (1º) e, na terça (2), o investigado dará depoimento. O homem deixou a casa no condomínio após a busca e apreensão e fala por meio do advogado. Os agentes investigam se o suspeito gravava os abusos com as crianças. Até o momento, não há provas que isso tenha acontecido.

— Para uma das vítimas, os abusos duraram quatro anos, ela lembra que começaram antes de uma viagem da família em 2017. Acontecia em um quarto de hóspedes, no segundo andar, enquanto o filho dele ficava jogando videogame. A menina afirma que isso se repetiu muitas e muitas vezes. A vítima descreve elementos de sexualidade que são absolutamente desconhecidos de uma criança. O relato é o mesmo de outra menina, que não tem convivência com ela, as falas se convergem — detalha o delegado.

No mesmo dia do cumprimento do mandado de busca e apreensão no condomínio, os pais da menina estiveram na casa de família de outra garota, que sabiam que também frequentava a residência do suspeito e contaram sobre a investigação. Questionada pelos pais, essa segunda menina, de oito anos, também confirmou situações de abuso.

A segunda menina descreve o mesmo ritual da primeira. É muito comum a vítima segurar o relato por vários anos. A percepção não é imediata ao fato e isso é muito cruel.

PABLO QUEIROZ ROCHA

Titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Canoas

— Ela nos disse que era levada para este quarto, ele colocava a mão dentro da calça dela e ele dizia que fazia isso para imprimir desenhos para ela pintar. Ela disse que se nos contasse, ele ameaçava que não poderia mais brincar e que eu morreria — conta a mãe da garota de oito anos.

Em outubro de 2019 e março de 2020, a garota sofreu com síndrome do pânico. Na época, aos seis anos, dizia aos pais que tinha algo entalado na garganta, sem confidenciar o que. Mesmo nas seções de terapia, não revelava. Agora, admitiu que as crises aconteciam por causa dos abusos.

— Na cabeça dela, não nos contando, ela estava nos protegendo, nos salvando, sendo que eu não consegui salvar minha filha desses abusos. O sentimento é de culpa por não ter conseguido protegê-la. Quando fecho os olhos só vem à cabeça imagens dele abusando minha filha — desabafa a mãe.

Para pressionar pela prisão do suspeito, as famílias farão um protesto na sexta-feira (5) em frente ao Fórum de Canoas, a partir das 15h. O delegado pede que todos os pais que saibam que os filhos forem vítimas de abuso procurem a delegacia para registro de ocorrência.

— A segunda menina descreve o mesmo ritual da primeira. É muito comum a vítima segurar o relato por vários anos. A percepção não é imediata ao fato e isso é muito cruel — diz o policial.

Diretor da 2ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana, o delegado Mario Souza explica que a investigação está sendo conduzida dentro da Operação Inocência, focada em combater crimes de abuso e pedofilia:

— Usamos modernas técnicas de investigação e temos estrutura da equipe focada no combate a esses atos.

Contraponto

O advogado Samuel Aguiar da Cunha, que representa o investigado e sua esposa, enviou nota a GZH:

"Tanto o casal quanto a defesa ainda não tiveram acesso a quaisquer expedientes policiais ou judiciais para conhecimento do que tramita em seu desfavor; mesmo assim, nada os impede, de antemão, de dizer da sua mais absoluta inocência frente aos casos do qual estão sendo incriminados.

Por não haver fatos ou atos a ocultar das autoridades, o casal entregou à Polícia Civil todos os seus dispositivos eletrônicos para avaliação, a fim de colaborar com as investigações e respaldar sua postura inegavelmente íntegra, permanecendo à disposição para cooperar com aquilo que lhes estiver ao alcance.

O casal lamenta profundamente os casos de violência sexual pelo qual crianças referiram haver passado e, como pais e cidadãos dignos que são, irmanam-se à dor dos familiares que estão precisando de conforto emocional e de respostas jurídicas, entendendo que os culpados precisam responder com os rigores da lei.

O caso expôs desnecessariamente o casal a um linchamento virtual com uma enxurrada de ameaças, o que lhes está sendo terrivelmente perturbador; visando-lhes preservar a integridade física e emocional, roga-se que, a partir de agora, os meios de comunicação contatem ao advogado subscritor, caso interessados em mais informações ou esclarecimentos, que fará empenho para atender a todos naquilo que lhe for viável e que não prejudique o curso das investigações."


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