Polícia



Morto por engano 

"Era um pai de família trabalhando", diz irmão de entregador assassinado em Rio Grande

Denilson Silveira Cordeiro, 24 anos, realizava entrega quando foi executado a tiros no último sábado. Família organiza protesto para este fim de semana

29/01/2022 - 07h00min

Atualizada em: 30/01/2022 - 12h35min


Leticia Mendes
Arquivo Pessoal / Reprodução
Denilson vivia com a esposa e a filha, prestes a completar um ano

O entregador Denilson Silveira Cordeiro, 24 anos, antecipou os preparativos e deixou tudo pronto para a festa de aniversário da filha, no mês de fevereiro. Morador de Rio Grande, o jovem foi assassinado antes que pudesse ver a menina completar o primeiro ano de vida. Na noite do último sábado (22), estava trabalhando, quando foi morto a tiros. A principal suspeita da polícia é de que ele tenha sido executado por engano. O crime foi o 11º homicídio registrado neste ano no município do sul do Estado, que enfrenta onda de violência.  

Denilson, que era carinhosamente chamado de Bê, por ser o caçula da família, começou a trabalhar cedo. Ainda adolescente, passou a ajudar o irmão Emerson Silveira Cordeiro, hoje com 37 anos, na lanchonete. Há cerca de três anos, o jovem decidiu que iria se dedicar às entregas do comércio. Casado, morava perto do estabelecimento onde trabalhava todas as noites. Para complementar a renda, havia passado a realizar entregas também durante o dia, para um restaurante da cidade.  

— De dia, entregava marmita e, à noite, lanche. Era um pai de família, trabalhando. Deixou uma filhinha e uma vida inteira pela frente. Era meu irmão, mas era como um filho para mim. Nunca teve uma desavença com ninguém, nada. Não entrava numa briga. Era prestativo, fazia de tudo para ajudar os outros — recorda o irmão.  

Na noite do último sábado, a lanchonete recebeu um pedido de entrega no bairro Vila Maria. O comércio possui três entregadores e, casualmente, era a vez de Denilson. A família recebeu por telefone a notícia de que um motoboy havia sido baleado minutos antes. Desesperado, Emerson seguiu de carro até o endereço da entrega, e encontrou o irmão já sem vida. 

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado, mas não houve tempo para que ele fosse socorrido. O jovem havia sido alvejado por quatro disparos de arma de fogo, no momento em que chegou para entregar o pedido. As circunstâncias em que o crime aconteceu ainda são apuradas pela polícia.  

O assassinato causou revolta no município, que vive onda de violência desde o fim do ano passado. Na última segunda-feira (24), durante o enterro do jovem, entregadores realizaram protesto pelas ruas de Rio Grande. Na terça-feira, familiares de Denilson também realizaram manifestação em frente à prefeitura, pedindo justiça e segurança.  

— O que nos aliviou um pouco foi ver o quanto ele era querido, uma pessoa boa. Aquela manifestação toda dos outros entregadores, apoiando a família. Não sei se vai adiantar para alguma coisa isso tudo que estamos fazendo, mas nos conforta um pouco. Estamos lutando pelo meu irmão e pelas outras pessoas que podem ser vítimas — diz Emerson.   

Uma nova manifestação é organizada para este sábado (29), quando o crime completa uma semana. Os familiares pretendem seguir em protesto até a praia do Cassino, por ser um ponto que atrai turistas até a cidade.  

— É inexplicável o que aconteceu. Não vamos parar até isso se resolver. Foi uma brutalidade — desabafa o irmão.  

Investigação e reforço  

No início da semana, o governo do Estado anunciou o reforço de policiamento no município, em razão do aumento dos assassinatos. Em janeiro, foram registrados 11 homicídios em Rio Grande, enquanto no mesmo período do ano passado tinham sido cinco. A elevação já vem sendo percebida desde dezembro, quando sete pessoas foram mortas.  

A Brigada Militar recebeu mais 90 servidores – 65 deles do Batalhão de Polícia de Choque, de Pelotas –, e as investigações passaram a contar com cinco agentes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Os policias devem permanecer no município por tempo indeterminado, enquanto for necessário.  

O tráfico de drogas é apontado como principal fator para os assassinatos registrados na cidade desde o início do ano. No caso de Denilson, a principal suspeita da polícia é de que ele tenha sido morto por engano, ao ser confundido por algum grupo criminoso. O jovem não possuía antecedentes criminais e nada foi levado dele na ação.  

— Ele foi chamado para atender uma entrega. Ele trabalhava de motoboy numa lanchonete. Quando ele chegou na rua da entrega, no local, ele foi alvejado por disparos de arma de fogo — diz a delegada regional Ligia Furlanetto, que está coordenando as investigações do caso.  


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