Polícia



Feminicídio 

Faxineira assassinada em Passo Fundo tentava livrar filha de relação violenta; as duas foram mortas

Leandro Santos de Lima, 35 anos, está foragido após a morte de Thairine de Oliveira, 30, e da mãe dela, Isabel Cristina Muniz de Oliveira, 63

27/01/2022 - 07h00min

Atualizada em: 27/01/2022 - 07h00min


Leticia Mendes
João Victor Lopes / Rádio Uirapuru/Divulgação
Crimes no norte do Estado ocorreram no dia 17 de janeiro

Aos 63 anos, Isabel Cristina Muniz de Oliveira estava ansiosa pela aposentadoria. Planejava ainda reformar a casa, onde vivia com a família em Passo Fundo, no norte do Estado. No início da noite de 17 de janeiro, a idosa foi assassinada logo após ver se concretizar um de seus maiores medos: a filha, Thairine de Oliveira, 30, foi morta a tiros. Apontado como autor do feminicídio, Leandro Santos de Lima, 35 anos, está foragido.  

A faxineira criou sozinha os três filhos – além de Thairine, era mãe de outros dois jovens. Ao longo dos anos, passou a se dedicar também aos netos. Desde que a filha estava separada, havia cerca de seis meses, tinha voltado a morar com Isabel. Elas viviam com as três crianças, uma menina de 11, uma de quatro e um garoto de três anos. Todos os dias, a avó saía de casa para trabalhar na limpeza de um clube de piscinas.

— Minha mãe era uma guerreira. Vivia para os netos. Era o eixo da casa. Cuidava de todo mundo. Pagava luz, água, colocava comida dentro de casa. Comprava roupas para as crianças. Sempre trabalhou a vida inteira, para não deixar faltar nada em casa — descreve um dos filhos, que prefere não ser identificado.  

Antes do serviço no clube, Isabel foi cuidadora de idosos, diarista e vendedora de produtos de beleza. Agora, prestes a se aposentar, pretendia investir em melhorias na residência onde vivia. Sempre que tinha algum momento de lazer, levava as crianças para se divertirem nas piscinas onde trabalhava ou ia até a igreja evangélica que costumava frequentar.  

— Estava faceira. Nesta semana ia assinar os papéis da aposentadoria. Falava que ia descansar, cuidar mais dos netos. Reformar a casa era o sonho dela — recorda o filho.  

Desde que se separou do ex-companheiro, Thairine também estava em busca de emprego para ajudar no sustento dos filhos. Após o assassinato da mãe e da avó, segundo a família, as três crianças ficaram sob os cuidados do Conselho Tutelar e foram encaminhadas para abrigo, onde passam por atendimento psicológico.  

— Minha irmã tinha plano de mudar de vida, ter as coisinhas dela, cuidar dos filhos dela. Tanto que minha mãe arrumou escola, creche, tudo para as crianças — diz o irmão.  

Relação violenta  

Arquivo Pessoal / Reprodução
Isabel Cristina Muniz de Oliveira, 63 anos

Foi em Passo Fundo que Tharine conheceu Leandro, e, segundo a família, sempre teve uma relação conturbada. Quando o casal enfrentou dificuldades financeiras, chegou a morar com Isabel, na mesma casa onde viria a acontecer o crime. Com os filhos, os dois se mudaram para Itajaí, Santa Catarina, onde viveram por três anos. Por diversas vezes, Isabel viajou até o Estado vizinho para saber como estavam os netos, preocupada com a situação. Chegava a trazer as crianças de volta para Passo Fundo e insistia para que a filha rompesse o relacionamento. 

— Ela sempre lutou pelos netos dela. Queria a segurança deles, se preocupava com isso. Não aceitava que ele batia na minha irmã e nos filhos. Nunca gostou dele. Minha mãe levava minha irmã na delegacia, fazia ela registrar ocorrência, mas no outro dia ela ia lá na polícia e voltava atrás. Não sei se ela tinha medo dele. Mas ela voltava para ele. Foi complicada a vida dela — lembra o jovem.   

Há cerca de seis meses, Thairine tinha mais uma vez encerrado a relação. Chegou a obter novamente na Justiça medidas protetivas contra o ex-companheiro, para que ele não se aproximasse dela – ela já tinha recebido o mesmo tipo de medida em separações anteriores. Mais recentemente, segundo a família, passou a cobrar que o ex pagasse a pensão alimentícia aos filhos. Os parentes acreditam que isso pode ter sido um dos motivos que levou ao crime.  Amigas de Thairine relatam que ele seguia fazendo ameaças pelas redes sociais e tinha ciúmes por acreditar que a mulher estava se relacionando com outra pessoa.  

O crime 

Arquivo Pessoal / Reprodução
Thairine de Oliveira, 30 anos

No início da noite de segunda-feira, 17 de janeiro, Thairine foi até a frente de casa levar algumas roupas a um brechó. Foi nesse momento que acabou sendo atacada na rua. Ela foi surpreendida pelo atirador, que chegou ao local em uma motocicleta. Ao ouvir os disparos, Isabel foi ver o que havia acontecido. A idosa foi assassinada com diversos tiros, assim como a filha.

— Minha mãe ouviu barulhos, foi lá socorrer, ele a viu, e disparou contra ela também. Ele não gostava da minha mãe porque ela sempre quis tirar minha irmã desse sofrimento. Minha mãe queria segurança para as crianças, mas ninguém ajudava, ninguém ouvia. Não vou descansar sem ver o sonho da minha mãe, que era ver ele preso — desabafa o filho.  

Durante o ataque, a nora de Isabel, esposa do irmão de Thairine, também foi baleada nas costas – a jovem, que é mãe de um bebê, chegou a ficar hospitalizada, mas já recebeu alta. Segundo a família, uma das crianças – os filhos do casal estavam na casa – também ficou ferida na perna, ao ser alvejada de raspão. O autor do crime fugiu na mesma motocicleta usada para chegar ao local. 

Investigação 

Segundo a delegada Rafaela Bier, titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Passo Fundo, a jovem baleada já foi ouvida, assim como outras testemunhas que presenciaram o crime. Os depoimentos confirmaram que Thairine e o ex mantinham relacionamento conturbado, com separações e retomadas.  

A Polícia Civil segue investigando o caso e aguarda o recebimento dos laudos periciais para a conclusão do inquérito. O investigado, Leandro Santos de Lima, encontra-se na condição de foragido da justiça.

Qualquer informação que ajude a localizar o paradeiro dele pode ser repassada para a Polícia Civil por meio do WhatsApp (51) 984440606 e do telefone da Deam (54) 33181400, ou para a Brigada Militar, pelo 190. 


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