Polícia



Alvo de operação

Polícia combate facção que usava mulheres para traficar drogas e armas na Região Metropolitana

Objetivo seria despistar autoridades e rivais, simulando que um casal estava apenas passeando de carro durante o comércio ilegal. Mandados são cumpridos em três cidades

02/02/2022 - 07h00min

Atualizada em: 02/02/2022 - 07h00min


Cid Martins
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A Polícia Civil realizou operação, nesta terça-feira (1º), para cumprir 17 mandados de prisão preventiva e 10 de busca e apreensão em Porto Alegre, Alvorada e São Leopoldo, contra uma facção investigada por usar mulheres no tráfico de drogas e de armas. Até as 7h50min, 13 mandados de prisão haviam sido cumpridos. 

Em relação às ordens judiciais de prisões, seis envolvem apenados que, segundo a polícia, comandavam os crimes de dentro das cadeias e cinco são de mulheres — todas foram detidas. Outras duas já haviam sido detidas anteriormente durante a investigação — sendo uma delas na semana passada, no bairro Restinga, zona sul da Capital, quando estava com um homem dentro de um carro com 2,5 mil cartuchos de pistola.

Também foram detidos 13 homens desde 2020, quando teve início a apuração do titular da 3ª Delegacia do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), delegado Alencar Carraro. Todos fariam parte da mesma facção.

Segundo Carraro, a utilização de mulheres — quase sempre sem passagem pela polícia — era para não chamar a atenção das autoridades e de rivais. A ideia seria simular que um casal estivesse apenas passeando de carro, mas a dupla transportava no veículo dinheiro para compra ou material a ser negociado.

Já nas transações financeiras da facção, as mesmas mulheres seriam responsáveis pelos pagamentos, sempre via Pix, durante o comércio de drogas, armas e munição. Além disso, eram as responsáveis por enviar dinheiro para detentos.

— As lideranças das facções achavam que a participação dessas mulheres poderia passar desapercebida. Mas eles também queriam aproveitar brechas legais para evitar prisões, já que muitas têm filhos pequenos, o que dificulta o cárcere por um período maior e, assim, voltariam logo a agir para os criminosos e sempre a mando de apenados — explica Carraro.


Operadora financeira

Carraro destaca que a facção, que agia no bairro Restinga, na Vila Jardim e na antiga Vila Nazaré, em Porto Alegre, além de Alvorada e de São Leopoldo, tinha um complexo sistema de transação financeira. Foram confirmados vários pagamentos por Pix feitos por mulheres, com valores entre R$ 1 mil e R$ 4,5 mil.

Ronaldo Bernardi / Agência RBS
Ao todo, o Denarc investiga sete mulheres, sendo cinco delas presas de forma preventiva nesta terça-feira (1º)

Uma das investigadas por fazer essas transferências é uma idosa com mais de 70 anos, mãe de um dos homens recolhidos no sistema prisional.

Em algumas ocasiões, conforme o inquérito policial, os presos eram exigentes e reclamavam quando uma transação financeira demorava. Elas ocorriam diariamente e sempre após o tráfico ser realizado. Inclusive, era esse dinheiro que era usado para o "sustento" dos presos perante a facção dentro das cadeias.

Segundo a polícia, em vários casos, os pagamentos eram feitos a familiares dos detentos, que encaminhavam valores em espécie durante as visitas. A polícia fará pedido de quebra de sigilo bancário dos envolvidos.

Ronaldo Bernardi / Agência RBS
Em Porto Alegre, a Restinga (foto) é o local onde a polícia concentrou a maior parte das ações

Grupo agia com violência

O grupo criminoso ainda era conhecido por agir de forma violenta contra desafetos. Em 2016, integrantes desta facção torturaram e decapitaram quatro rivais em Alvorada. A guerra do tráfico envolvendo esta organização criminosa e outras da região, segundo a polícia, teve como resultado dezenas de homicídios e pessoas desaparecidas. 

Mas os integrantes da facção investigada também eram alvo de outras quadrilhas. Um deles foi executado com 80 tiros na zona norte da Capital, na frente da esposa e da filha, em dezembro do ano passado. Claudemir Silveira, era gerente do tráfico na antiga Vila Nazaré, removida devido às obras de ampliação do aeroporto. Um dos três suspeitos do crime foi preso semana passada.

Como a investigação continua, os nomes dos detidos não estão sendo divulgados. Um dos detidos na Restinga, nesta terça-feira, chegou a perguntar para um familiar onde um amigo e integrante da facção estava detido no Presídio Central. A pergunta foi feita no exato momento em que estava sendo algemado pelos agentes. Segundo a polícia, ele afirmou que irá solicitar para ficar no mesmo pavilhão do comparsa. 

Em relação aos seis detentos que comandavam as ações de dentro de cadeias, o delegado Carraro diz que será solicitada à Justiça a transferência deles para o sistema penitenciário federal. Um deles era líder do tráfico na antiga Vila Nazaré e, junto com Silveira, ameaçava moradores para que não saíssem da invasão, prejudicando as obras de ampliação do Salgado Filho. 

Durante a apuração, a polícia apreendeu com integrantes da facção que foram presos um total de 350 quilos de maconha, 12 quilos de cocaína, 3 mil cartuchos, duas armas e quatro veículos.


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