Polícia



Alvos de operação

Presos suspeitos de envolvimento em morte de homem com mais de 80 tiros em Porto Alegre

Segundo a polícia, crime ocorrido em dezembro tem ligação com outros, como tiroteio em frente à emergência do Hospital Cristo Redentor, em 2020

15/03/2022 - 07h00min


Cid Martins
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Polícia Civil / Divulgação
Cerca de 140 policiais cumpriram 15 mandados de busca e oito de prisão em seis cidades gaúchas

Uma nova ofensiva policial contra a guerra do tráfico, que já deixou várias pessoas mortas na zona norte de Porto Alegre, ocorre na manhã desta segunda-feira (14) em seis cidades da Região Metropolitana e do sul do Estado. Cerca de 140 agentes cumprem 15 mandados de busca e oito de prisão, sendo três contra suspeitos de envolvimento na execução de um homem, na Capital, com mais de 80 tiros.

Claudemir da Silveira, 32 anos, conhecido como Zeca, foi assassinado na frente da filha e da esposa no início de dezembro, no bairro Sarandi. Na fuga, os atiradores roubaram um carro e balearam a motorista.

Zeca já havia sofrido dois atentados, sendo um deles na mesma região onde foi morto. Em outubro de 2020, ele e mais duas pessoas ficaram feridas após troca de tiros e, na tentativa de atendimento na emergência do Hospital Cristo Redentor, foram alvo de mais um ataque. Uma mulher acabou sendo baleada.

Em janeiro deste ano, um dos envolvidos na execução de Zeca foi preso, o que foi determinante para a polícia ampliar a apuração sobre o homicídio. Os demais alvos da operação são traficantes que adquiriram um sítio em Mariana Pimentel para armazenamento e confecção de drogas. Além disso, um dos investigados é um funcionário público da prefeitura de Porto Alegre apontado por transportar entorpecentes para os criminosos.

Até as 7h20min, foram presos sete suspeitos — cinco envolvidos com o tráfico em si e dois no assassinato de Zeca. O mandante ainda não foi localizado. Houve cinco prisões em Mariana Pimentel, uma em Sertão Santana, ambas cidades no sul do Estado, e uma em Viamão.  

Operação policial

A operação é resultado de uma investigação do delegado Luís Firmino, titular da 3ª Delegacia de Homicídios da Capital. Foram reunidos 136 agentes no cumprimento de 15 mandados de busca e oito de prisão. Destes, seis são temporárias — envolvendo traficantes que atuam em um sítio para a organização criminosa e um suspeito de dirigir veículo usado pelos atiradores no dia em que Zeca foi morto — e há ainda um mandado de prisão preventiva envolvendo um dos executores. O motorista  e o suspeito de ser autor dos disparos foram detidos na manhã desta segunda-feira. 

Há ainda um mandado de prisão em definitivo envolvendo um foragido considerado um dos pivôs dos ataques e crimes ocorridos devido à guerra do tráfico na zona norte da cidade. Ele é o mandante do crime e ainda segue foragido. As ordens judiciais são cumpridas em Porto Alegre, Canoas e Viamão, na Região Metropolitana, além de Mariana Pimentel, Barra do Ribeiro e Sertão Santana, no sul do Estado.

Guerra do tráfico

Zeca, que foi executado há três meses, era apontado como um dos gerentes do tráfico da antiga Vila Nazaré, que foi remanejada devido às obras de ampliação do aeroporto Salgado Filho. Ele foi morto no dia 8 de dezembro de 2021 na Avenida Francisco Rodolfo Simch, na altura do número 720, no bairro Sarandi.

Com a investigação, a polícia descobriu os suspeitos do crime, inclusive o mandante. Um dos investigados foi preso no final de janeiro deste ano ao ser abordado em um veículo na BR-116, em Guaíba. Ele e mais três mulheres transportavam quatro quilos de maconha. O delegado Firmino disse, à época, que ainda faltava prender mais dois investigados.

Segundo o policial, tudo começou anos atrás, quando Zeca e mais um comparsa, ambos apontados pela polícia como integrantes de uma facção, estiveram por trás de um duplo homicídio ocorrido na antiga Vila Nazaré, em 2018. As vítimas seriam ligadas a um dos suspeitos de planejar a execução de Zeca. Na época, todos pertenciam ao mesmo grupo.

— Descobrimos que a vítima e outros traficantes passaram a desconfiar do investigado pela morte de Zeca pelo fato de ele estar enriquecendo com a venda de drogas sem prestar contas, pelo menos na sua totalidade, com os líderes do grupo na (Vila) Nazaré — explica Firmino.

Com isso, o suspeito fugiu da região junto com a companheira e recebeu apoio de outra facção, que atua na Vila Amazônia, no bairro Rubem Berta, também na zona norte da Capital. Ele recebeu apoio de um dos criminosos que, até final de novembro de 2020, era um dos mais procurados do Rio Grande do Sul: foragido desde 2018, apenas 39 minutos após receber uma tornozeleira eletrônica, André da Silva Dutra, o Gordo Dé, foi recapturado em Bombinhas, no litoral de Santa Catarina.

Esta união gerou uma guerra do tráfico na Zona Norte. Em outubro de 2020, houve um tiroteio no bairro Sarandi que deixou Zeca — atingido por quatro tiros — e mais dois comparsas feridos. Eles foram levados às pressas para a emergência do Cristo Redentor, mas foram seguidos pelos rivais. O resultado foi um novo tiroteio em frente ao hospital. Uma mulher que estava junto com o trio foi baleada.

Depois disso, em fevereiro de 2021, Zeca foi vítima de uma emboscada na Avenida Sertório. Embora atingido por tiros, ele sobreviveu. O primo dele, que estava junto, morreu no local. Ele foi identificado como Ezequiel da Silveira Bernardino.

Isadora Neumann / Agencia RBS
Depois de tiros na frente da emergência, efetivo policial como reforço da segurança foi mantido pela Brigada Militar

Sítio e servidor público

Apesar da investigação ser da 3ª Delegacia de Homicídios, os assassinatos estavam vinculados à disputa por territórios e vingança entre integrantes de duas facções. Firmino diz que, após fugir da antiga Vila Nazaré junto com a companheira, um dos investigados — ao se associar a outra facção — resolveu adquirir um sítio em Mariana Pimentel, no sul do Estado.

O local, que foi monitorado por meio de imagens obtidas de drones, era utilizado pela organização criminosa para armazenar a droga recebida, principalmente maconha, cocaína e crack. O imóvel rural servia ainda como um ponto de separação e embalagem dos entorpecentes.

Firmino destaca que, por isso, um dos suspeitos do assassinato de Zeca foi detido na BR-116 em Guaíba ao transportar maconha. Contudo, para não chamar a atenção da polícia e de rivais, os traficantes passaram a contratar pessoas sem antecedentes criminais para carregar as drogas.

Uma delas é um servidor público da Capital. A polícia ainda não está divulgando o nome do funcionário, e a prefeitura diz que está auxiliando na investigação. Os nomes dos presos na chamada "Operação Exilium" também não foram divulgados. 

Os presos respondem por tráfico de drogas, homicídio e latrocínio — referente ao caso da motorista baleada durante roubo de carro logo após a execução de Zeca. Apesar de ela ter sobrevivido, a polícia enquadrou os envolvidos neste tipo penal por que houve o roubo e a tentativa de morte da vítima.


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