Polícia



Detidos em Canoas

Polícia prende filha e neto de idoso que desapareceu com a esposa há mais de dois meses em Cachoeirinha 

Rubem Heger, 85 anos, e Marlene Heger Stafft, 53, não são vistos desde o fim de fevereiro

08/05/2022 - 11h51min

Atualizada em: 08/05/2022 - 11h52min


Cid Martins
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Leticia Mendes
Arquivo Pessoal / Divulgação
Polícia apura desaparecimento de casal como homicídio

A Polícia Civil prendeu na tarde desta sexta-feira (6), em Canoas, na Região Metropolitana, a filha de 47 anos e o neto, de 26, de Rubem Heger, 85, que está desaparecido desde final de fevereiro junto a esposa Marlene Heger Stafft, 53. O casal foi visto pela última vez no fim de fevereiro, em Cachoeirinha, onde residem. Um novo laudo pericial confirmou presença de sangue na parede da residência do casal e o material tem o mesmo perfil genético do idoso. 

A filha e o neto do idoso foram detidos em casa, em Canoas, e são suspeitos de envolvimento no desaparecimento das vítimas. A possível motivação para o crime, segundo a polícia, seria uma vingança devido à relação conturbada entre o idoso e a sua filha. O delegado Anderson Spier, da 1ª Delegacia de Cachoeirinha, diz que a prisão preventiva se deu pelo fato deste novo laudo pericial, que foi concluído e remetido aos investigadores na quarta-feira (4). 

O delegado ressalta que foi confirmada a presença de sangue na parede da casa de Rubem, em Cachoeirinha, e o resultado confirmou que o material tem o mesmo perfil genético do idoso. Para o delegado, a linha de investigação, que já apura o caso como homicídio, é de que o casal foi espancado em casa e levado para um outro local e, desde então, está desaparecido. A filha dele foi a última pessoa a estar na residência dos dois. Um outro laudo pericial, que teve resultado divulgado na segunda-feira (2), descartou sangue em roupas e no porta-malas de veículo.  

A residência onde vive a filha de Rubem, em Canoas, também passou por análise da perícia, mas não foi encontrado nenhum vestígio de que o casal tenha passado pelo local, conforme alega a mulher. 

Desde que o casal desapareceu, familiares vinham fazendo buscas e manifestações. Com o passar dos dias, os parentes tinham poucas esperanças de localizá-los com vida. Rubem fazia uso de medicação controlada e de oxigênio. Ao longo dos mais de dois meses de desaparecimento, não houve qualquer movimentação bancária por parte dos dois. 

Familiares, que suspeitavam do envolvimento da filha e do neto com o sumiço, receberam a notícia sobre a prisão com alívio. 

— Ao menos agora sabemos que uma parte foi resolvida. Esperamos agora localizar os corpos, para ao menos poder dar um enterro digno para eles. Hoje (sexta-feira, 6), a Marlene estaria de aniversário. De manhã, estávamos muito angustiados, lembrando que ela gostava muito de comemorar, e agora à tarde recebemos essa notícia. Ao menos isso — afirma a neta do idoso Brenda Heger, 24 anos.

Filha nega envolvimento 

Nas duas vezes em que foi ouvida pela polícia — uma delas como testemunha e na outra como suspeita —, a filha de Rubem negou envolvimento no sumiço do pai e da madrasta. A mulher alega que buscou o casal em Cachoeirinha para ir até a casa dela, em Canoas. Afirma que alguns dias depois estava em um posto de saúde, sendo atendida, quando recebeu uma mensagem dos dois afirmando que iriam visitar um amigo. Depois disso, ao retornar para casa, não teria mais encontrado o casal. O neto do aposentado permaneceu em silêncio no momento do depoimento na polícia.  

Responsável por representar os investigados, advogado Rodrigo Schmitt da Silva afirma que a filha e o pai tinham boa relação e que não haveria motivos para que ela cometesse algum crime contra ele. Sobre a perícia, o advogado questiona de qual data seria o material coletado. 

— Não se pode precisar de que data foram esses respingos de sangue em uma parede da cozinha. Isso pode ser de muitos anos. Mas o DNA deu como positivo. Então, de quando é isso não se pode afirmar. O que eu acho muito intrigante é que eles saíram da casa do casal de carro e no carro não tem uma gota de sangue. Foi negativo. Na casa da minha cliente também foi feito (exame com) luminol e não tinha uma gota de sangue. É o material novo que na visão de quem decretou a prisão foi considerado suficiente. Vou ter acesso pleno ao inquérito apenas agora e vou tomar todas as medidas necessárias para me inteirar dos fatos e tentar ver o que posso auxiliar em termos de esclarecimento da busca pela verdade — afirma o advogado.

O sumiço  

Em 27 de fevereiro, uma filha de Rubem esteve na residência. Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que a mulher chega à casa, acompanhada do filho. Marlene abre o portão para que eles ingressem. Depois disso, não há mais nenhum registro de imagem do casal.    

Durante o período em que a filha e o neto estiveram na moradia do casal, em Cachoeirinha, o veículo deles foi estacionado dentro da garagem e colchões foram colocados em frente ao carro, formando uma barreira, que impede a visualização do que acontece ali dentro. À polícia, a mulher disse que o pai pediu para que ela colocasse os colchões ali para que arejassem. Segundo a família, os colchões eram novos, ainda embalados.  

Ao longo das imagens, a cachorrinha do casal também não aparece no vídeo. Quando os familiares chegaram na casa, dias depois, estranhando o sumiço dos dois, depararam com o animal morto no pátio. A causa da morte não chegou a ser identificada. Por volta das 15h40min, o veículo da filha de Rubem deixa a residência, mas não é possível saber se o casal está no automóvel.

Resultado pericial

O Instituto-Geral de Perícias (IGP) confirmou a presença de sangue com perfil genético compatível ao do idoso por meio de nota. Confira na íntegra:  

A perícia do IGP constatou que o sangue coletado na parede da sala da casa dos fundos de onde viviam Rubem Heger e Marlene Heger, em Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre, pertence a Rubem. Em março, peritos criminais realizaram a coleta de 23 vestígios nas duas casas e na área externa do terreno onde vivia o casal, que está desaparecido. Uma camiseta infantil, que estava na área de serviço anexa à casa dos fundos, também continha sangue e permanece em análise pericial genética. 

Os materiais passaram por análise laboratorial na Divisão de Genética Forense. Primeiro, foram feitos testes para determinar se o material coletado era sangue humano. Em uma segunda análise, foi possível apontar que o perfil genético pertencia ao dono do imóvel. O veículo da filha do casal também foi periciado, mas não foram encontrados vestígios de sangue humano. 

Já a Divisão de Química Forense, também pertencente ao Departamento de Perícias Laboratoriais do IGP, realizou a pesquisa em restos de comida e em uma seringa encontrada na casa, sem encontrar substâncias tóxicas.


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