Polícia



Briga no trabalho 

Em depoimento, preso por morte de colega em empresa de São Leopoldo afirma que crime foi um acidente

Marcelo Camillo, 36 anos, foi atingido no peito por uma ferramenta de corte durante o expediente, na manhã de segunda-feira

11/06/2022 - 07h00min


Leticia Mendes
Divulgação / Reprodução
Imagens de câmera de segurança da empresa mostram Camillo logo após ter sido atingido

Ao longo de uma hora e meia, um funcionário de 54 anos narrou à Polícia Civil sua versão de como matou o colega de trabalho na manhã da última segunda-feira (6). Marcelo Camillo, 36 anos, foi atingido no peito por uma ferramenta de corte durante o expediente numa empresa em São Leopoldo, no Vale do Sinos, e não resistiu. Após o relato, o homem, que se apresentou à polícia nessa quinta-feira (9), foi preso de forma temporária — o nome dele não foi divulgado. 

Durante o depoimento, o funcionário alegou que o crime, na verdade, foi um acidente. Camillo, segundo a versão do autor, não teria gostado de uma brincadeira e isso teria gerado um atrito entre eles, o que acabou levando ao ferimento no peito da vítima. No sábado anterior (4), um supervisor já havia chamado a atenção dos dois funcionários, que mantinham o mesmo cargo na empresa, para que parassem com as brincadeiras.  

— Ele disse que passou a mão nas partes íntimas da vítima, mas que isso seria uma brincadeira recíproca. Só que nessa situação a vítima não gostou e foi para cima do autor, que diz ter se protegido com esse instrumento utilizado para o trabalho — explica o delegado André Serrão, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).  

Ainda conforme o policial, ninguém na empresa chegou a presenciar o crime, já que a briga aconteceu em uma área separada. O autor confesso não mantinha função de hierarquia sobre o colega, já que os dois exerciam o mesmo cargo. O preso estava na empresa há cerca de duas décadas, enquanto Camillo trabalhava ali há dois anos e meio. É investigada a possibilidade de que tenha havido algum atrito entre eles relacionado ao consumo do café durante o expediente. 

— Não está totalmente descartado, temos de reinquirir algumas testemunhas. Descartamos sim que houvesse alguma participação da empresa nisso, de proibir a pausa do funcionário. Acontece que o café não é permitido ali em razão da proliferação de metais pesados. Mas, mesmo assim, eles levavam o café escondido para dividir entre eles — diz o delegado.  

Conforme o policial, após a divulgação do fato a empresa Sulcromo acabou sofrendo represálias, em razão da suspeita inicial de que o crime tivesse sido cometido por superior ao proibir a pausa da vítima. Desde o começo, a empresa negou que houvesse essa relação entre os funcionários e que tivesse dado alguma orientação desse tipo aos trabalhadores.  

— Houve uma repercussão muito negativa. Me sinto na obrigação de retificar a informação que foi divulgada. Continuamos apurando.  A empresa forneceu todos os elementos para a polícia investigar e foi bastante solícita — diz Serrão.  

Ainda conforme o depoimento do autor confesso, não chegou a haver luta entre eles. O funcionário alega que usou o instrumento  — uma ferramenta de corte  — para se proteger e que acabou caindo sobre o corpo da vítima. Afirmou ainda que pensou que o sangue que estava em sua mão fosse dele mesmo e, por isso, foi ao banheiro lavar.  

— Ele alega que foi acidental. Ele falou que eles tinham uma boa relação, que por vezes pegava carona com a vítima até em casa. Mas no cenário atual continuamos investigando como um homicídio doloso qualificado, por motivo fútil — afirma o delegado.  

A polícia ainda aguarda receber o laudo de necropsia da vítima, que deve ajudar a entender como se deram os ferimentos no peito. Segundo boletim médico, Camillo foi atingido por duas estocadas, teve três paradas cardíacas, chegou a passar por cirurgia, mas não resistiu.  

A ferramenta apreendida  — semelhante a uma faca — também deverá ser encaminhada para análise da perícia. Além disso, algumas testemunhas devem ser ouvidas novamente pela investigação. Todos os funcionários da empresa que estavam no local já prestaram depoimento, assim como o diretor. A prisão temporária tem validade de 30 dias, podendo ser prorrogada por mais 30. Neste período, a polícia espera concluir a investigação do caso. 

O que diz a empresa 

A Sulcromo se manifestou nesta semana sobre o caso, por meio de nota. Confira: 

 "Nota de Esclarecimento

A Sulcromo e seus colaboradores permanecem consternados e comovidos com a perda do colega Marcelo Camillo. Viemos também a público, em respeito à comunidade e nossa equipe, esclarecer informações que vem sendo divulgadas em relação ao caso ocorrido:

  • A empresa informa que sempre esteve e continuará à disposição dos órgãos envolvidos nas investigações de forma voluntária e colaborativa;
  •  Os funcionários envolvidos no caso não exerciam hierarquia um sobre o outro, ambos se reportavam a supervisão de produção da empresa;
  • A diretoria e supervisão da Sulcromo não promove, compactua ou se abstém frente a qualquer forma de violência;
  •  A Sulcromo está apoiando a família do Marcelo, em tudo que necessitam;
  • Estamos também empenhados em proteger a segurança de nossos funcionários, sem envolvimento com o caso, contra qualquer tipo de exposição e represália;

Pedimos que toda e qualquer informação sobre o caso seja direcionado para a linha direta da Polícia Civil 0800 642-0121 ou pelo WhatsApp (51) 98585-6111."


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