Polícia



Investigação policial

Morto em briga no Bom Fim, aposentado tratava esquizofrenia e estava em busca de hospital após ter sofrido convulsões

Irmãs de Linton Ferreira querem justiça e esclarecer boatos que aumentaram tristeza dos parentes desde o sábado (4)

09/06/2022 - 07h00min

Atualizada em: 09/06/2022 - 07h00min


Roger Silva
Roger Silva
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Camila Hermes / Agencia RBS
Márcia, Marília e Marinês com a foto do irmão, assassinado em Porto Alegre no último sábado

A violência que tirou a vida de Linton Ferreira, 46 anos, em uma briga no bairro Bom Fim no último sábado (4), machucou a família dele de diversas formas. As três irmãs mais novas contam que tiveram que ler e ouvir boatos sobre o irmão e não conseguiram proteger os pais da repercussão nas redes sociais. Nesta quarta-feira (8), em Gravataí, no centro estético de uma delas, que ele ajudou a pintar, as irmãs falaram sobre "o mano".

— Ele era um filho dedicado, a família sempre foi tudo pra ele. Adorava os filhos e os sobrinhos, vivia pronto pra ajudar — comenta Marília, 39 anos. — Era emotivo, vivia mandando mensagem e dizendo que nos amava. E dizer que “era” é muito difícil pra nós.

Linton era gremista por causa do pai, mas não ligava muito para futebol. Lidava com a esquizofrenia e convulsões, que o fizeram se aposentar aos 27 anos da metalúrgica em que trabalhava em Gravataí e tomar remédios continuamente. Na noite de sexta-feira (3), teve de buscar atendimento em Porto Alegre depois de ter duas convulsões na casa onde morava, em Canoas, com a esposa Rita e a filha de 10 anos do casal, que estava junto há 14. Além da caçula, ele tinha outras duas filhas, de 22 e 24 anos, de outro relacionamento, uma neta e dois enteados por parte do atual casamento.

Marinês, 36, conta que o irmão e a cunhada estavam prestes a se batizarem na Igreja Evangélica Deus é Amor, para depois celebrarem a união deles nesta fé.

Por ter tido problemas com a bebida na juventude, Linton não bebia há dois anos, as irmãs ressaltam. Era caprichoso com as roupas e a aparência, e tinha até se oferecido para ser modelo de treinamento dos procedimentos estéticos que Márcia oferece no salão dela.

— Ficamos indignadas com o que falaram dele nas redes sociais. Antes mesmo de irmos reconhecer o corpo dele, já tinha o nome e as imagens dele circulando, com gente dizendo que ele era morador de rua ou bêbado. Mesmo se fosse essas coisas, ninguém merece o que fizeram com ele — declara Márcia.

Lembranças felizes

Entre rompantes de indignação, lágrimas e pausas de saudade silenciosa, as três irmãs lembraram de fatos da vida de Linton. Marinês contou como foi o último aniversário dele em que passaram juntos.

— Fizeram uma festa surpresa no aniversário dele, que foi em 26 de maio. Balões azuis e pretos, do Grêmio, parede com enfeite, docinho e refrigerantes, parecia festa de criança, ele adorou — ela relembra.

— E no Dia das Mães foi ele que assou o churrasco pra nós, graças a Deus. Tinha o dom para assar uma carne e servir todo mundo, era um churrasqueiro completo — elogia a caçula.

Em busca de respostas

Marília conta que Linton telefonou para ela no começo da noite de sexta, depois de sofrer as convulsões. Ainda confuso, embarcou em um ônibus até o Hospital de Pronto Socorro (HPS). Lá, porém, foi orientado a procurar outro hospital, segundo relatos das irmãs, que foram até o HPS na terça (7). A informação seguinte sobre Linton veio da própria Polícia Civil, que o encontrou em uma imagem de câmera de segurança na esquina onde horas depois aconteceria a briga.

As irmãs afirmam que o vídeo mostra Linton sozinho, com as mãos no bolso, sem consumir nenhuma bebida alcoólica nem cigarro ou qualquer outro tipo de substância, em um intervalo de 15 minutos, em que teria conversado com um outro homem que passou por ele na mesma calçada — não o agressor. Elas supõem que ele poderia estar até mesmo sob efeito dos seus remédios, ou procurando informações para chegar até um hospital sugerido no HPS.

— Ele estava com corrente, relógio e uma pochete clássica que sempre usava carregando o dinheiro, o celular e os documentos dele. Onde que foram parar essas coisas, as quais não encontramos com o corpo dele no Departamento Médico Legal, que queria enterrá-lo como indigente? — indaga Márcia

Desde a morte confirmada, entre as 4h e as 5h de sábado, e a noite, 15 horas se passaram sem que o pai dele, Milton, 77, e a mãe, Lindonésia, 69, se inteirassem da tragédia. Todos os trâmites funerários foram agilizados antes de a informação chegar até eles, para que o impacto fosse o menor possível no momento de dizer adeus precocemente ao primogênito.

— Tivemos que levar a mãe para a Unidade de Pronto Atendimento, fez exames do coração porque teve um infarto. Ficou as horas seguintes dopada e com a gente em volta acalmando ela — lembra Marinês.

— Queremos as respostas da polícia e que o agressor seja preso. Pois se fosse o contrário, nosso irmão preto agredindo até a morte um branco, teriam prendido ele em flagrante — desabafa Márcia.


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