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Latrocínio

"Era um menino bom. Não deixava ninguém a pé. Ele é o meu coração", diz mãe de motorista de aplicativo morto em assalto na capital

Trio envolvido no crime foi indiciado nesta segunda-feira. Dois estão presos e um foragido

26/07/2022 - 10h50min

Atualizada em: 26/07/2022 - 11h26min


Bruna Viesseri
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Polícia Civil / Divulgação

Aos 23 anos, Anderson Duarte de Borba se preparava para ingressar na carreira com a qual sempre sonhou, de cabeleireiro. Motorista de aplicativo havia cerca de dois anos, ele estipulou que só dirigiria por mais alguns meses, até o fim de 2022, para juntar dinheiro para começar o curso de formação em cortes de cabelo. Por acharem a atividade de motorista muito perigosa, ele e a família combinaram que o melhor seria deixá-la de lado. O plano, no entanto, foi cruelmente interrompido durante um assalto no dia 6 de maio, em Porto Alegre, quando Anderson foi ferido com uma facada no peito. Depois de 27 dias internado, ele não resistiu e morreu no hospital.

A tentativa de roubo de veículo aconteceu no bairro Jardim Carvalho, na zona leste da Capital. Na ação, três passageiros anunciaram o assalto depois de embarcarem no veículo que Anderson dirigia, na Rua Aristides Rosa. Um deles estava armado e outro portava uma faca. Conforme a polícia, o motorista teria reagido à abordagem e houve luta corporal com o carro ainda em movimento. Antes de fugir, um dos criminosos atingiu o condutor com uma facada. Depois, o motorista acabou colidindo em um poste. Anderson foi socorrido e levado para atendimento. Dois envolvidos estão presos e outro está foragido, procurado pela polícia. Eles foram indiciados nesta segunda-feira (25).

Quase dois meses após a morte, a mãe do jovem, Vera Lucia Duarte de Borba, 47 anos, ainda tenta entender o que aconteceu na noite do assalto. Como o filho ficou sedado durante o período de internação, ela ficou sem respostas e sem poder falar com Anderson em seus últimos dias.

Agora, restam as lembranças de um jovem que dividia a rotina entre o trabalho e os momentos de diversão com os familiares, especialmente os primos mais novos, com quem Anderson gostava de passear e jogar bola.

— Era um menino bom, ele ajudava em tudo que era preciso. Não deixava ninguém a pé, já saiu de madrugada para levar criança doente no médico. Era uma pessoa de ouro. Ele é o meu coração, era tudo. Uma parte de mim se foi com ele. Eu sei que essa dor nunca vai passar. É um chão que se abriu para a gente — diz Vera.

A mãe lembra que a família ajudou Anderson a comprar o carro para ele trabalhar como motorista, atividade que escolheu para se manter em razão de um problema na coluna. Em Eldorado, ele morava sozinho, em uma casa perto da residência dos pais, com quem mantinha contato frequente, assim como com os três irmãos.

— Ele estava sempre na nossa volta, junto. A gente sabia tudo da vida dele. Era apaixonado pelos primos menores, passeava com eles. Ele gostava de dirigir, mas a gente sempre falava que era perigoso. Aí ele disse que ia trabalhar só até o fim do ano, depois ia fazer o curso para aprender a cortar cabelo. Era o sonho dele. Mas não deu tempo — lamenta Vera.

Após uma despedida, rodeado de familiares e amigos, Anderson foi sepultado em Tapes, município onde nasceu, no dia 2 de junho.

Trio é indiciado

A Polícia Civil indiciou, nesta segunda-feira (25), os três homens apontados como responsáveis pela morte de Anderson. Eles devem responder por latrocínio (roubo com morte) e associação criminosa. O nome dos envolvidos não foi divulgado.

— Uma ação bastante violenta. Eles estavam em maior número, inclusive acharam que a vítima havia morrido ali mesmo. A causa da morte, como comprovado pela perícia, foi justamente a facada, não ocorreu em razão da colisão do veículo — diz o delegado César Carrion, titular da 15ª Delegacia da Capital.

Segundo a polícia, um dos presos, o que estaria armado durante a ação, confessou o crime. Ele havia completado 18 anos no dia anterior ao assalto. O homem foi detido na quinta-feira (21). O outro preso tem 22 anos e foi capturado na sexta (22) — ele seria o autor do golpe contra Anderson.

O terceiro suspeito, que está foragido e é procurado pela polícia, teria fugido para fora do Estado.


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