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Luta comunitária

Horta Comunitária da Lomba do Pinheiro pode ser substituída por avenida

Comunidade foi surpreendida com a informação de que uma via pode passar por cima de espaço social

14/11/2015 - 07h01min

Atualizada em: 14/11/2015 - 07h01min


Félix Zucco / Agência RBS
Rodrigo e Lurdes defendem Horta Comunitária

A Horta Comunitária da Lomba do Pinheiro pode estar com os dias contados. A área pública de quatro hectares, obtida via Orçamento Participativo, está localizada em um espaço próximo à Rua João de Oliveira Remião, na Zona Leste da cidade, e serve como espaço pedagógico-terapêutico para crianças, idosos e pessoas com deficiência mental. Mesmo trazendo benefícios a centenas de pessoas, ela pode ser substituída por uma avenida "desnecessária", segundo a própria comunidade.

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O projeto da construção de uma via que ligaria as avenidas São Pedro e São Paulo veio à tona há cerca de dois meses em uma das reuniões do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano Ambiental (CMDUA). Segundo o conselheiro da Região de Planejamento 7 (Lomba do Pinheiro/ Partenon) Rodrigo dos Santos Vicente, 31 anos, o projeto seria o prolongamento da Rua Oito e passaria justamente pela lateral da plantação de hortaliças.

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- Não vemos necessidade nesta obra, a comunidade não quer a rua. Primeiro, porque utilizamos a Remião como principal via em direção ao Centro. Segundo, porque já existe a Rua Continental, a poucos metros de distância de onde querem construir a nova avenida, que liga a São Pedro com a São Paulo. Além de tudo isso, algumas pessoas teriam que desapropriar suas casas, a troco de nada - defende Rodrigo.

Desastre

Para a voluntária que cultiva boa parte da horta, a líder comunitária Lurdes Ágata Guiconi, 56 anos,  o asfalto sobre a horta seria "um desastre para a comunidade".

- Há quatro anos nós cuidamos das plantações e sabemos o quanto elas fazem bem à comunidade. Tu imaginas uma rua passando por aqui? Teríamos poluição, o local ficaria exposto a violência, vandalismo, falta de segurança, justamente o que nos orgulhamos aqui dentro - desabafa.

Segundo Lurdes, o local recebe alunos de diversas escolas da região e estudantes de universidades, além de ter um professor, cedido pelo município, para incentivar a conscientização ambiental por meio de palestras e debates.

- Plantamos de tudo aqui, desde hortaliças a ervas medicinais. Temos, inclusive, um campo de futebol para envolver, principalmente, as crianças que vêm aqui. Acredito que essa rua deva ser de interesse de uma empresa, para construir um empreendimento imobiliário - fala a voluntária.

Projeto vai a votação

A discussão teve início cerca de dez dias depois do prefeito da Capital José Fortunati ter assinado a Carta de Milão, protocolo internacional que estimula a produção de alimentos nas proximidades de grandes centros urbanos. Com o documento, Porto Alegre aderiu ao Pacto Mundial pela Política Alimentar Urbana.

De acordo com o presidente do CMDUA e secretário da Secretaria Municipal de Urbanismo (Smurb), Valter Nagelstein, o Setor do Urbanismo (SDU), que pertence ao órgão público, projetou a rua visando incluí-la na estrutura viária no Plano Diretor da cidade.

- A SDU planejou o espaço pensando na expansão de Porto Alegre, com o propósito de adequar a cidade aos moldes ideais - explica o secretário.

Segundo ele, assim que o conselheiro Rodrigo tomou conhecimento do projeto, pediu vistas, discutiu com a comunidade e solicitou mais detalhes e explicações da possível obra, no que foi atendido pela Smurb. O projeto deveria ter sido então votado nesta semana, mas acabou saindo de pauta.

Na próxima terça, ele deve voltar a votação pelos 27 membros do conselho: oito conselheiros que representam a comunidade e 19 entidades com afinidade em urbanismo. Se rejeitado, o projeto se dissolve e a Horta Comunitária segue intacta. Se aprovado, será formado o gravame, documento que determina que, em algum momento, determinado espaço irá se tornar uma rua.

- Por mais que o gravame não determine prazo, o documento garantiria que nada mais fosse construído no local. Se fosse, teria que ser demolido para construir a rua. Acredito que o Conselho exista justamente para ouvir a voz de todos e levar em consideração a opinião da comunidade - afirma Nagelstein.

Pode ser a única

O Diário Gaúcho ligou para diversas secretarias municipais e não conseguiu descobrir a existência de outra horta comunitária na Capital além da instalada na Lomba do Pinheiro. A Smic já acompanhou 15 hortas comunitárias em Porto Alegre, mas, atualmente, não atua em nenhum espaço.

Para visitar e participar da Horta Comunitária da Lomba do Pinheiro é necessário agendar uma visita. Segundo a voluntária Lurdes, geralmente o visitante oferece algum serviço em troca de poder levar hortaliças e chás orgânicos e sem agrotóxicos para casa.

- A pessoa pode oferecer o que ela souber e tiver condições de fazer: capinar, colher, plantar, ajudar de alguma maneira. Todo dia recebemos visitas de escolas, grupos de terceira idade e pessoas com deficiência. A horta é só alegria e precisa continuar vivendo.

Para visitas ou doações de sementes e adubo, o contato é o 8190-9588 ou 8593-9293.


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